Fim de semana moral, cívico, espiritual... molhado

 Então já estamos em 2011. Um ano que promete ser mais calmo, de reflexão, organização e estruturação. Ano regido por Mercúrio. Ano 4... Tá legal, chega. É isso aí. Eu realmente espero que todas as previsões esotéricas para esse ano sejam verdadeiras. Ainda mais quando vou colocar o meu apartamento abaixo com uma reforma que deve durar uns seis meses... Haja organizar e estruturar depois!!!:)

Mas esse fim de semana de réveillon foi do C.!!!! Acho que nunca passei um 31/12 e 1º de janeiro tão significativos na minha vida. Portanto acredito que 2011 promete muito em matéria de autoconhecimento, serenidade e civilidade.

Pra ser sincera, não estava esperando muita coisa do meu último dia do ano. Cansada, em Brasília, dois meninos pequenos, chuva, chuva, chuva... Entretanto meu primo-irmão de Goiânia resolveu vir me alegrar com sua tranquila presença. A companhia dele me fez sair da inércia, à procura de alguma programação especial. Era o nosso primeiro réveillon juntos. Tinha de ser marcante. E foi.

O trio pronto para as experiências espirituais e mundanas da noite

Primeiro, participamos da cerimônia das 108 badaladas do sino no Templo Budista. Terminar um ciclo de perdas e dor e iniciar um novo ano pensando positivo era preciso. Meditando e cantando com as bênçãos do monje Sato. De quebra, ainda encontrei a querida Ceci, só para tornar o fim de ano ainda mais radiante. Foi reconfortante poder apertar as mãos do meu marido e tocar os pés da amiga naqueles minutos que antecediam a contagem regressiva. Incensei minha alma com desejos de tranquilidade, paciência e iluminação.

Na fila para badalar o sino budista

Já na fila para badalar o sino, brindamos com saquê a chegada de 2011!! Nossa badalada, a de número 57, ecoou pelo céu chuvoso alcançando os fogos de artifício que ainda coloriam o céu aqui e acolá. Com os pés sujos de lama e o espírito renovado, deixamos o templo rumo à casa dos padrinhos do meu marido. Ali, uma família calorosa nos esperava com uma ceia de deuses, toda preparada pelo dono da casa. Não pude abrir mão de experimentar carne de coelho pela primeira vez. Deu medo, deu uma certa angústia, mas inovar também é fundamental. Iguaria aprovada.

No meio da madrugada, debaixo de um toró fenomenal, rumamos para uma balada doida nos bons moldes do tempo da UnB. Dica da cunhada, aportamos numa "festa estranha com gente esquisita" lá no setor de mansões do Lago Norte. Mais universitária, impossível. Músicos e poetas de Brasília dançavam ao som do DJ-cabeça. Recordei com carinho as noitadas em que encontrávamos a madrugada deitados no teto do Faculdade de Direito olhando as estrelas. Caimos na cama às cinco da matina, bendizendo a sogra por estar com os netos e assim voltarmos a ter 20 anos e nenhuma responsabilidade.

Mas o primeiro dia de 2011 ainda prometia muitas emoções. Não estava em meus planos acompanhar a posse de Dilma. O dia, instável, cinza, não ajudava. A noite não dormida também. Todavia meu primo estava na capital federal e eu não poderia deixar de levá-lo a esse evento máximo de cidadania. E lá fomos nós, por volta das quatro da tarde, para a Praça dos Três Poderes. Não havia uma multidão como na primeira posse de Lula, o que nos colocou num lugar com certa visibilidade para a rampa e parlatório do Palácio do Planalto.

Coração começa a bater mais forte. A 1ª presidenta está a caminho

Não esperava me comover como daquela vez, quando segui Lula em carro aberto acenando para o mar de gente. Mas não existe nada como cantar o Hino Nacional rodeada de centenas de brasileiros ruidosos, esperançosos e devidamente paramentados de verde-amarelo e vermelho PT. O patriotismo tomou conta e as lágrimas se misturaram aos respingos da chuva fina. Tchau, Lula!!! Bem-vinda, Dilma!! Faça um governo justo, limpo e cidadão!

Dilma discursa, Lula se despede. Brasil total!



É bonito ver Brasília cumprindo sua vocação popular



Um Brasil vermelho de contente

Meu primo amado



Juventude e fé

Patriotismo na veia

Várias formas de acreditar

Agitam-se os sonhos!

De um país que voa alto...

Unido em seus diversos matizes e gerações

Na confiança de que Dilma será capaz

De governar acima das paixões partidárias



... Além de qualquer radicalismo

Só se for um radicalismo contra a corrupção

... Contra a violência...

E a favor dos dizeres estampados no cidadão que pediu para tirar a foto comigo

Que o olhar profundo da menina seja o olhar de todas as gentes

Que as cores da nossa gente sejam as cores da verdade

Da contagiante inocência

... Da vívida sabedoria

De um país que se ama e se respeita

E que desce e sobe as rampas da vida com dignidade

Para alcançar um horizonte amplo e moderno

Plural em oportunidades...

Militante na luta pela justiça social...

Esperançoso e apaixonado por política cívica

E quando eu pensava que o coração já não era capaz de suportar tantos abalos, ainda demos conta de ficar para o show. Estava com mais energia que pilha duracell quando Fernanda Takai subiu ao palco. A chuva forte que caiu um pouco antes espantou boa parte dos presentes. Por isso, o primo, o marido e eu estávamos estratégicamente posicionados em frente ao portão que isolava a geral da área reservada para os vips. Fernandinha, numa sacada condizente com a ocasião, ponderou: "Vocês estão muito longe. Hoje, quem é vip são vocês!" E solicitou à produção que abrisse os portões para que o povo se aconchegasse bem embaixo do palco.

Ai que endurecer, mas sem perder a ternura jamais

Resultado: nunca em um show gratuito estive tão frente a frente com os cantores. E a noite fluiu lindamente por meio das vozes de mulheres de raça como as talentosas Takai e Zélia Duncan. Elemento surpresa: Gabi Amarantos, a Byonceé do Pará. Caramba, a rapariga é poderosa!! Não vou discutir a qualidade musical do seu repertório, mas a danada tem presença de palco, graciosidade e tamanho para abalar o Brasil. Ainda rolaram Martinália (que não acho grande coisa, não sei o porquê desse tititi todo em torno dela) e a indefectível eletricidade de Elba Ramalho, mostrando que ainda tem pernas lindas, ao contrário do rosto, devastado por cirurgias plásticas.

Fernanda e Zélia cantam Legião Urbana e me desmancho

Na sua cidade, Zélia vibra em luz maior

Martinália chega com o pé do samba quebrado, mas não perde a alegria

Furacão Gabi ruboriza a plateia

Elba em momento Ramalho, mas o Zé

O quinteto feminino se reúne na apoteose da cidadania

Voltamos da marotona lá pelas 10 pm. Exautos, porém de bem com a vida. Aquela vibração cívica provocou uma sensação de que o país vai dar certo. Se metade da intensidade das boas intenções e promessas desse início do ano vingar, só pode dar.

No embalo desse crença, torci para que a chuva insistente desse primeiro fim de semana de 2011 tenha lavado e levado para longe as vilanias da corrupção. Que brasileiros do povo e do poder possam trabalhar na construção de uma sociedade diversa na igualdade. Plural nas oportunidades. O fim da miséria está próximo. É preciso.

A nação tremula altiva no início de mais um ano

 O Palácio é o abrigo de um horizonte mais azul para os brasileiros