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Mostrando postagens de 2015

Olho mágico

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A vida e seus singelos presentes. Brasília, cidade na qual os vizinhos quase sempre são estranhos que cruzam nossos caminhos entre a garagem e a porta do apartamento. No máximo um bom-dia, um como vai. Seres esvaziados de sentido comunitário. Pessoas que não acrescentam nada em nossas apressadas existências.  Mas por alguma obra fantástica do destino, eis que recebemos uma graça sem esforço, sem pagar promessa. E eu, que vivo querendo fazer roteiros de cinema da minha rotina, ganhei o argumento perfeito, daqueles de filmes saborosos e inspiradores: uma família queniana morando há poucos meses no sexto andar da nossa prumada.  Ah, quem me dera tivesse o talento para contar essa história que vem se desenrolando em forma de quitutes. Uma intensa troca de gentilezas alimentares que surpreende a cada toque da campainha em horários pouco usuais.  Primeiro foi o paizão, gigante negro com sorriso farto e voz de baixo. Jamal é o nome dele. Trouxe samosas ou mais corretame

Alheamento

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A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. Manoel de Barros Vocação para o detalhe não carrego. A precisão me enfada. Por isso tudo que faço é meio capenga, falhas daqui e dali. Não tenho paciência para recontagem, revisões, reescritas. Geralmente vou deitando sobre o papel as ideias, deixo vir sem nenhuma autocrítica. Releio, sim, é claro, mas em modo pente grosso. Não é pente de catar piolho, pois buscar a perfeição nunca me motivou.  Deve ser por isso que não sou boa cozinheira. Quem cozinha de verdade precisa de atenção. A meticulosidade de juntar as porções devidamente balanceadas. Vivo na gang

Tiros no coração

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Gatilhos, gatilhos, trigger: “recurso de programação executado sempre que o evento associado ocorrer”. Cérebro: computador “bugado”, como dizem meus filhos. Os atentados de Paris dispararam gatilhos de um estresse pós-traumático que tenho sem levar muito a sério. Aquelas imagens de velas acesas e empilhadas pelo chão; aquelas mensagens e flores pelos cantos... Isso tudo de novo nas manchetes me trouxe a depressão e ansiedade vividas em Nova Iorque após o 11 de setembro.  A maior parte das pessoas que me lê já está caduca de saber que eu estava em Manhattan no dia da queda traumática das Torres Gêmeas. Eu é que às vezes me esqueço de que não se experimenta um evento dessa proporção sem sequelas. Voltaram os arrepios pelo corpo, a descrença na humanidade, o pavor da Terceira Guerra mundial, o medo de nunca mais ver a minha mãe, vejam vocês. Minha mãe, que já está morta há cinco anos!  Mas foi essa a minha angústia maior quando vi o avião entrando na segunda torre. Meu

Frida, mas poderia ser Clarice

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Fui imune ao amor canino pela metade da vida (se levarmos em consideração que a vida começa aos 40). Talvez por ter crescido numa fazenda rodeada de animais de grande porte: vacas, touros, cavalos, mulas, onças pintadas das quais só vi pegadas; lobo-guarás aguardados, em vão, todas as noites...  Os cachorros, galinhas, gatos, patos, pintinhos e porcos eram triviais demais para mim. Eu queria os tatus furtivos; as cobras enigmáticas; as mariposas funestas e as corujas, ah, as corujas soberanas.  Quem sabe também os cães tenham sido associados à onipresença da irmã que sempre me rejeitou. Provavelmente projetei nos bichinhos a recusa daquela moça ciumenta e imatura que não soube se desapegar do posto de caçula.  Seja como for, passei décadas convivendo lado a lado com cadelas e cachorrinhos de vários tamanhos, raças e vira-latices sem lhes dar a menor pelota. Refratária aos seus olhinhos lânguidos e sorrisos, cheguei à maturidade. E na maturidade, vencendo meu nojinh

Gratidão

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Céu fecundo, gris  Que trouxe o vento que confundiu meus olhos  E refez outros nós nos fios das teias, dos cabelos, das trepadeiras.  Os galhos acenam sim, com vigor  Solícitos acolhem o chamado verde  E se entregam lascivos aos carinhos das lufadas frias da chuva  Que traz o vento que confunde meus pensamentos  Devotos, servis, reverentes, clementes ao poder da natureza plúmbea.  Enganadores uivos que insinuam tempestades  Ainda as espero ávida, grávida do cheiro de terra molhada até o útero do planeta.  Para que não reste dúvida de quem reina no meu coração:  as gotas pesadas, lágrimas, da nublada paisagem.

Infinitas versões de "O Reizinho Mandão"

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só que não... Tenho profunda impaciência com os pais de hoje em dia. Me sinto completamente na contramão de quem coloca o filho em um pedestal de superproteção e mega importância. Meus filhos são guris do Brasil, mais dois entre milhares. Sim, eles são fundamentais em minha vida, mas ainda não são imprescindíveis para o mundo e talvez nunca serão. Não os considero mais especiais do que outras crianças no planeta Terra e nem ajo para que eles assim se julguem.  Que coisa medonha rola hoje em dia com essa meninada sem limites, sem humildade, sem noção... Fruto da deseducação de pais como o que eu tive o desprazer de esbarrar no CCBB na sexta-feira passada, quando levava minha doce amiga de Curitiba para um passeio memória afetiva.  Percebi uma altercação dentro do brinquedo que meus filhos chamam de minhoca. Lá cheguei para averiguar a situação, uma vez que tenho consciência plena de que Rômulo nem sempre é bem compreendido em sua vulcânica maneira de ser. Achei que ele

A Escola do Futuro podia ser agora

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“ A inquietude não deve ser negada, mas remetida para novos horizontes e se tornar nosso próprio horizonte. ” (Edgar Morin)  Barreiras, fronteiras, compartimentos. O que esses conceitos têm a ver com o trabalho do sociólogo francês Edgar Morin? Absolutamente nada! O conceituado pensador, hoje na casa dos 80, é uma mente aberta que propõe a aplicação do holismo na disseminação do conhecimento. Não no sentido metafísico que a palavra é frequentemente associada, porém em sua concepção original.  Holismo vem do grego ‘holos”, que significa todo, inteiro, completo. É uma forma de pensar ou considerar a realidade segundo a qual nada pode ser explicado pela mera ordenação ou disposição das partes, mas, sim, pelas relações que mantém entre si e com o próprio todo, buscando evitar o reducionismo do pensamento cartesiano, que deixa de considerar as interações existentes entre os seres vivos, fragmentando os saberes.  Por isso Edgar Morin é reconhecido como um dos maiores i

Das fixações

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Filme de primeira é um apelo irresistível à revisão. É sempre instigante descobrir se a obra vai suportar segunda ou terceira conferências. Se a emoção permanece viva; se o argumento segue atemporal.  No último domingo, fui para a cama mais tarde revendo The Sixty Sense. Não dava para não rever! Quando foi lançado, mamãe e dindinha ainda estavam firmes e serelepes. Sentada no escuro do cinema com a minha irmã mais velha, os sentimentos eram diversos do que experimentei dessa vez.  Agora, minhas mães são dead people e eu me pego pensando que talvez fosse legal ser capaz de reencontrá-las nas madrugadas insones “all the time”. O que elas teriam a me dizer? Pediriam ajuda como sugere o filme? É reconfortante acreditar nessa teoria de que os mortos só querem o nosso bem e a solução de pendências.  Mas se elas aparecessem para puxar o meu pé e a minha orelha? Se tivessem a intenção de me castigar ou criticar? Bem sei que preciso de reprimendas. Qual seria minha reação

Sem legendas

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Pouso o queixo na gaveta aberta. Aspiro um cheiro inconfundível de ontem: mistura de pós, cremes e couro cabeludo. Um cheiro familiar, minha mãe ou minha madrinha, odor de velhice. Recuo assustada, aquela é a minha gaveta.  Hoje sou mais antiga do que ontem, não tem escapatória. Os sonhos me ajudam a escrever e a recontar a história. Num deles estou em Paris, jovem com cabelos chanel. No outro, vasculho o sótão da velha casa da fazenda... Quando sonho me sinto mais viva na manhã. Convulsionada de ideias forçando passagem em carta psicografada.  Talvez tenha sido a lua negra. A praça que é de guerra transformada em praia numa noite de domingo. Não sei se faço sentido, mas o onírico não necessita de legendas. Só quero reter comigo o céu negro, o barulhinho do pandeiro ali perto e a textura suave dos meus filhos que estavam de volta à minha barriga, apertando minhas costelas num incômodo gravado na memória de toda mulher que carrega a vida dentro de si.  As pessoas

Independência no Brasil: um grito do Ipiranga e dezenas de batalhas

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Poucos brasileiros desconhecem a imagem portentosa de Dom Pedro I com a espada em riste vaticinando “Independência ou Morte!” reproduzida à exaustão nos livros didáticos de História. Trata-se de um recorte no gigantesco quadro do artista Pedro Américo que habita o Museu Paulista (antigo Museu do Ipiranga), em São Paulo, atualmente fechado para reformas e sem data para reabertura.  E assim como essa imagem é apenas um fragmento da obra de proporções intimidadoras, cercada de polémicas quanto à veracidade de suas informações*, também é distorcida e fragmentada a visão que o povo brasileiro construiu sobre o processo de Independência do Brasil ao longo dos anos.  A maioria dos brasileiros assimilou a narrativa de que nossa emancipação de Portugal se deu por meio de um parto natural tranquilo e rápido, quase indolor. Mas se aprofundarmos um pouco o olhar para os estudos mais verossímeis de importantes historiadores, começamos a pintar uma outra cena: a de uma independência

Arte ao alcance de um clique

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Museu Casa Portinari Viajar sem sair do lugar; conhecer o mundo em um clique. Não, ainda não inventaram o tele transporte, mas ainda bem que existe a internet. E com ela, um sem fim de opções fascinantes para desbravar os ilimitados campos do saber. Um deles vem ganhando opções cada vez mais instigantes de navegação: o Museu Virtual.  O museu virtual ainda é novo na museologia, mas muitos o consideram bem mais que um site de museu. Trata-se de um espaço virtual de mediação e de relação do patrimônio com os visitantes. Ou seja, para ser um museu virtual não basta que imagens das obras de arte, devidamente catalogadas, estejam disponíveis para o acesso via internet. É necessário prever atividades nas quais o público possa interagir com estas referências patrimoniais. Sua função é paralela e complementar à do museu físico, pois privilegia a universalização do conhecimento de acervos, antes acessíveis somente em caráter presencial.  Os museus virtuais favorecem o contato

Bichinha de Sustança

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Um bocadinho da vida e obra de uma cearense cabra da peste! “Na verdade, eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa”, dizia Raquel de Queiroz. Mas para quem “não gostava de escrever”, a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) marcou gerações com obras fundamentais para a literatura nacional como “O Quinze”, “As Três Marias”, “Dôra, Doralina” e “Memorial de Maria Moura”.  Raquel de Queiroz nasceu em Fortaleza (CE) no dia 17 de novembro de 1910 em uma família de intelectuais. O pai era juiz de Direito e a mãe era parente do renomado escritor José de Alencar. Raquel tinha mais três irmãos e uma irmã e passou a infância no interior do estado, na fazenda “Não me deixes”, em Quixadá.  Em 1915, uma seca devastadora atinge o sertão e a família se muda para o Rio de Janeiro. Na adolescência, Raquel retorna para a sua cidade do coração e se forma professora ainda adolescente. Nessa époc

A alma do negócio

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O importante é nunca se esquecer do que é essencial. Eis a moral da história dessa nova versão cinematográfica de “O Pequeno Príncipe”. Mas fica a pergunta complicada: o que é essencial? A resposta pode representar exatamente o oposto, incluindo um sem fim de sentimentos e coisas.  Essencial é deveras abstrato, deveras pessoal. O filme tenta dizer que não. Que essencial é não se vender ao sistema capitalista voraz; não se esquecer da sua criança interior; não desdenhar os sonhos; não controlar a vida com mãos de ferro. Quem discorda? Ninguém, almeja meu eu utópico.  Mas fazendo uma filtragem menos óbvia, começa a confusão. O que é essencial para mim pode não ser para você. Onde estaria o essencial personalizado, o essencial “Itaú” - feito para você? Eis o pulo do gato.  Provavelmente para a mãe sentada na mesma fileira do que eu e que não largava o celular, o essencial estava muito longe dali e, talvez por isso, a filhota não parasse de falar tentando lhe resga

Para todas as outras coisas existe Mastercard

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Ele está sentado ao meu lado, mas não está ali. Seus pensamentos focados na conversa com os os amigos no whatsapp ... Encaro e admiro o perfil do meu filho. Tão límpido; tão bonito. Ele sente a pressão dos meus olhos sobre ele:  - O que foi, mamãe?  - Tomás, Tomás...  - O quê?  - Você está crescendo. E eu não posso fazer nada além de me conformar...  Vida de pai e mãe: o conflito de preparar o solo para amadurecer uma alma que você quer que permaneça infantil. Não por superproteção, mas por super afeição. Daqui a pouco não poderei mais vê-lo pelado, beliscar seu bumbum ou fazer ataques de beijos no sofá.  Ontem foi ele quem me devolveu a chuva de beijinhos e quase me machuca com sua força, hoje mais perto da potência de um homem feito.  - Ei, assim não vale, você já está ficando muito mais forte do que eu!  Vai dormir e ainda responde “também te amo, mamãe, tenha sonhos coloridos”. Sabe-se lá até que mês. Outro dia, papeava com uma misteriosa

Experimento

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O tédio pode ser fonte criadora. Literalmente de papo pro ar, me deparo pela primeira vez com o texto, digo, o teto branco e suas rachaduras. O fluorescente das longas lâmpadas espirra sua cegueira, mas me recuso a atender aos apelos dele. E aí experimento digitar olhando para o texto, digo, teto. O supremo teste das aulas de datilografia: digitar com os dez dedos sem olhar para o teclado. É divertido, é anti-Alzheimer. Daqui a pouco eu olho pra saber o quanto deu certo. Tem um buraco no texto (ato falho de novo), um buraco no teto! Um vão, uma calha pra dentro. Será que vai chover em mim ou vão cair folhas secas? Nessa época do ano em Brasília só folha seca mesmo. Volto a olhar para a tela e há uma dúzia de grifos vermelhos. Passei no teste! Alzheimer belamente digitada sem um errinho sequer olhando para o teto! Concluo que digito bem em qualquer posição. Se bem que ainda não testei usar o teclado e o kamasutra simultaneamente. Ainda dá tempo! Afinal, ralo no Pilates para q

Marruá de corpo e alma

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Até onde eu sabia, Minas Gerais era o meu estado de espírito. Os escritores mineiros me guiando pelas mãos. Guimarães Rosa, Drummond e Adélia Prado: faróis. Quintana entrou no páreo, mas as montanhas de Minas jamais saíram do primeiro lugar em meu coração viageiro.  Todas as férias ziguezagueando pelas curvas sensuais de Minas são melhores do que o serpenteio anterior. E então chegou Manoel e suas argilas de Mato Grosso do Sul. Os poemas, antes da região, me fizeram adentrar por aquela vivência no oco do mundo.  Recordo que meu marido pensou, há muitos anos, em concorrer a uma vaga de professor de Física na Universidade Federal de Mato Grosso e eu lhe disse: vá, mas não me chame! A ideia de viver a mais de dois mil quilômetros do mar me deixava transtornada.  Hoje penso que sou mais de montanha que de mar. Sou mais de terra batida que de ondas. Continuo amando os oceanos porque jamais vou entendê-los ou me sentir à vontade dentro deles. Respeito. Admiro e

Enquete

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Que lua é essa que entrou pela janela sem lhe pedir licença? Que menino é esse que brilham os olhos enquanto conta o sonho da noite? Que cachorro é esse que pousa o corpo diariamente aos seus pés? Que sentimento é esse de receber presente sem data? Que música é essa que preencheu seu coração? Que notícias são essas que abriram a sua boca? Que amigos são esses que não lhe abandonam? Que novidade é essa que arrebatou a sua esperança? Que comida é essa que lhe arrancou um suspiro? Que dia é esse que verdeja ao seu redor? Que viagem é essa que você ainda não fez? Que filme é esse que prendeu sua respiração? Que amor é esse que bagunça a sua rotina? Que meme é essa que lhe faz compartilhar? Que pessoas são essas que você quer abraçar? Que prazer é esse que move sua ambição? Que causas são essas pelas quais você vai lutar? Que cor é essa que você não usa? Que sorriso é esse que ainda lhe falta? Que ideia é essa que você não ousou ter? Que ge

Existência felina

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"É necessário se espantar, se indignar e se contagiar,  só assim é possível mudar a realidade".  (Nise da Silveira) De quais mesclas nasce o inconformismo? Por que umas pessoas se rasgam e outras não? Meio ambiente; DNA? Sei lá. Só sei que numa escala de doçura estou mais para Martin Luther King do que para Madre Teresa de Calcutá. Mais para Nina Simone - que mandou o Mississipi racista se foder - do que para Gandhi, que acreditava ser possível alcançar a paz pela não violência.  Não vou contemporizar, não vou ficar em cima do muro. Sou radical, serei obsessiva? Conversando com uma amiga de longa data, ela me contou que tinha medo de algumas pessoas que revelavam sua natureza hostil no Facebook. Bem, ao menos eu sempre fui assim apavorante. Nunca precisei me esconder no anonimato das redes sociais para dizer o que penso e agir de acordo com as minhas crenças mezzo-socialistas, mezzo-abolicionistas (da mediocridade), com uma queda pela insanidade gera

Religare

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Vou te contar um segredo: galopar é radical. Nunca voei de asa delta, nem viajei de motocicleta ou mesmo de balão. Também nunca escalei montanhas, se bem que tenha alçado o pico da Bandeira uma única vez, minha trilha mais íngreme. Porém, galopo.  Aliás, sempre andei a cavalo, criança criada na roça. Todavia essa percepção do perigo só se adquire com a idade e com o medo que vem acoplado indesejavelmente com os anos pesando sobre os ombros. Entretanto não quero me dar por vencida. Não resisto. Vejo um cavalo selado e me ponho a arder por dentro. Preciso da minha dose – nem que seja eventual – de estimulantes. Entendo o prazer indescritível dos motociclistas e esportistas de aventura. A sensação de liberdade que é alcançada somente quando a gente não pensa em consequências.  Vou. As patas do cavalo em sintonia com o meu coração vão ganhando velocidade. Em segundos, estamos bailando num galope libertário. Meus cabelos acompanham a crina de Segredo, o garanhão de Mari

Salve a criação!

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Gavião Sovi Primeiro eu escrevi plúmbia e aí o corretor me disse que não existia. Então, chequei no Google, que diz que existe, mas sem acento. Parece ser uma insígnia lá na Itália. O oráculo também me fez descobrir que plumbea é o nome científico de um gavião. Percebam como é útil um erro de Português de vez em quando. Mas se existe plúmbeo, por que não posso escrever semana plúmbea? Foi então que percebi que estava digitando errado a minha ideia de cinza (sem conotação sexual, por favor, muito pelo contrário).  Quão entediantes e desesperançosos foram esses dias... Com todos que se conversa é um pigarro, um olhar cabisbaixo, uma história de falta de dinheiro e de perspectiva. Na quarta, paralisei. Não conseguia nem colocar a mão no teclado diante do vazio. Foi pane total na aeronave (olha, só de estar escrevendo aeronave junto da palavra pane dá para se ter ideia do meu desalento). Toc-toc-toc, quem bate? É o frio!! Não, não, é a recessão!! Uns perdem o emprego; o