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Mostrando postagens de abril, 2023

Ternura mamífera

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21 era o número da casa assim como o número de gatos (quase). Isolda, Marta, Murilo, Jonas, Rute - tão franzina -, Wanda Samyra, Euzébio, Ernesto (Tinho), Zé das Gavetas etc.e tais… Uma casa comprida, vazada e recortada em muitos cômodos como eram e ainda são as moradas daqueles interiores do Brasil de dentro. Ali, no vale do Rio Vermelho, nos escondidos de Goiás, os corações também são vermelhinhos. Estrelas vermelhas se espalham em canecas, telas, camisas, livros. Gatos por todos os lados na vida militante de Ana e de Fábio, numa harmoniosa república esquerdista humana e felina. No balaio do quintal, filosofia, cozumel, churrasco, violão, chuveirão, gatos malhados, embolados, tricolores, caramelos, pequenos, grandes, ariscos, contidos, afáveis. Papos utópicos, sorrisos desmedidos, piadas e desabafos. Na cozinha confusa, ovos mexidos, revueltos. Paella e strogonoff se articulam no cardápio político. Bichanos semi encobertos por almofadas, tombando os cestos, embaixo das mesas, à porta

Coaraci

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     foto de Sebastião Salgado  Tudo o que eu queria hoje era um programa de índio. Nadar no igapó com outros curumins naquela disputa de quem aguenta ficar mais tempo debaixo d´água. Agarrar no cipó que nem Tarzan sem saber que Tarzan existe. Tibum, Chauá. Pescar com veneno de timbó-açú comer peixe frito com farinha de mandioca. Singrar a piroga pelos afluentes amazônicos, reter o olhar nas copas das árvores tão lá em cima, atrás dos bugios-pretos, uacaris, jacus, ararajubas. Correr mais rápido que o gato-maracajá e trepar no pé de pau-rosa. Domesticar uma preguiça, preguicinha boa ne rede depois de caçar. Tudo o que eu queria hoje é que a floresta fosse interminável. Nomadeando por suas imensidões meus tataranetos ainda se alumiariam de chuvas e de estrelas. *Coaraci: sol, mãe do dia em tupi-guarani

Mamas mias

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“Uma jornalista que não toma cinco xícaras de café por dia”. Sou uma farsante, minha cara, uma farsante. “Uma feminista que não queima sutiã”. Eu já disse que sou uma fingidora. Todo poeta da vida é. (Ave, Pessoa!) Dias atrás, fui ao comércio local sem sutiã. É algo raro na minha rotina. Talvez porque tenha seios pesados (mamas firmes, disse a ginecologista), sutiã para mim é sinônimo de conforto. Se você não nasceu como Natasja Kinski ou Carolina Ferraz (sonho de toda peituda e horror de toda despeitada), ficar sem sutiã é incômodo. O chato, sem dúvida, é gostar de camisetas de alcinha e ter de administrar as alças da lingerie. Às vezes coloco um tomara-que-caia, todavia, esses também foram feitos para as sortudas com “peitinhos de pitomba” (ave, Chico safadinho!). É um tal de ajeita daqui, puxa pra cima, contorce dali, ou seja, complexo. Eu juro que tentei convencer o cirurgião plástico a me deixar na numeração 38 ou 40, entretanto ele disse: jamais! Ficaria desproporcional. Restou-m

Paulo Freireanas

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Tempo Pedagógico  "A leitura do mundo precede a da palavra." (Paulo Freire) Pessoas descobertas  Despidas de senões. Espaço,  ágora do saber. Realfabetizar o olhar, a atenção. Palavras-chaves da vida reivindicam, da cidadania, o quinhão. Processos possíveis, inéditos viáveis, aspirações, sinapses. Somos todos brasileiros. Motivação de tal ordem nos unge. A escrita não é suficiente. Urgem entranhamentos, transmutações da realidade.  Alfabetizar é Libertar! "que eu me organizando posso desorganizar" (Chico Science)  Uma balinha acolhe, um olhar. Palavras geradoras, grávidas de cidadania. Libertação do oprimido autonomia. Banir a vergonha, as pedras do caminho contornar.  Transformar a própria história, criar outros mundos. Escolher a direção, construir pontes. Infinitas trajetórias.

O mato de molecagens apronta novamente

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O quase é um instante que, muitas vezes, nos passa batido, sem reflexão. Diariamente convivemos com ele, mas, de tão efêmero, quase sempre se dissolve na rotina. Quem já parou para pensar seriamente na natureza do quase como um momento crucial entre sim e não, vida e morte, azar e sorte? Todo dia a gente quase faz (conscientemente ou não) algo que poderia mudar nossa trajetória dali em diante. É sério, gente. O quase, essa palavrinha determinante, advérbio de intensidade que torna a existência mais surpreendente.  O domingo de Páscoa me fez levar o quase em atenta consideração.  Renasci, literalmente. Ou morri, quase. (Olha a magnitude da epifania). Estive frente a frente com a angustiante sensação do “e se”, condicionante que também tem seu quinhão de fatalidade. Dois quases me mostraram o seu poder de decidir destinos, de abrir ou fechar caminhos. E quantas pessoas também não estiveram assim, de cara para o cabal, num domingo de Páscoa qualquer, de um ano qualquer… Riobaldo, viver é

Reviramentos

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Para onde se olha tem um tempo carcomido.  Tucano voa rasante  tênue manhã. O longo bico alaranjado,  ressoa sua percussão oca  pelo vale. SOLnolento se aproxima das telhas,  em breve, desperta. Memórias loquazes nunca dormem. Domingo de ramos folhas ciprestes arbustos flores suculentas aquíferos árvores  mamíferos chuva  relva aves raízes galhos teias gravetos pedras buraco: Cerrado. Estriadas marcas d’água rasgam a superfície enguias imaginárias. Cicatriz em movimento  lento. Pele marcada pelo vento tempo. Sinuosas cesuras   expansão da epiderme esgarçamento crescente fértil.  Correntes mais quentes de qualidade feminina.  Não inerente, apenas sina de reviramento . Chegou a segunda fornada, ou melhor, ninhada do "Mato de Molecagens". Corram, leitores, corram. Eram 30 exemplares e agora são 20 para entrega com dedicatória. E se você perdeu a primeira edição de "As Desventuras", informo que ainda tenho alguns exemplares da segunda e limitada edição.  Para quem está