Diário da argamassa

Ah, São Paulo é o mundo... Que êxtase é ser recebida pelo concreto da cidade, sempre a ofertar um sem fim de encontros com a diversidade humana. Dessa vez, não viajei a capital paulista atrás de cultura, mas acaba que não tem jeito: São Paulo respira “o que rola” e entre um compromisso e outro a gente aproveita.

Até o próprio compromisso vira roteiro. E por que não? Pesquisar materiais de acabamento em São Paulo também é atividade repleta de História e Arte. Nunca tinha visto a cidade pelo prisma da decoração e do design e adorei. A ideia era ver ao vivo o que poderíamos comprar para a reforma do nosso apartamento. Produtos que em Brasília só estão disponíveis pela internet ou pelos catálogos das representantes. Vale a pena.

Cor, textura, variedade. Em São Paulo a gente encontra de sobra. Nas andanças pelas casas especializadas, contando com a companhia super bem-vinda da arquiteta responsável pela reforma (tai um serviço de primeira que recompensa cada centavo investido), a gente foi descobrindo novas possibilidades de tornar o nosso apartamento cada vez mais do nosso jeito.

Um universo de beleza e originalidade foi sendo redesenhado com o papel de parede pinçado entre as centenas de amostras. Na escolha do tipo da madeira em que vamos pisar nossos pés, sua espessura, tamanho, disposição. Blecaute da marca Oscurama ou Berlin? Que lustre fica mais legal na sala? E na copa?

É uma enormidade de pequenos detalhes que fazem nosso lar um lugar único e aconchegante. Eu já sabia disso de um jeito intuitivo, pois sempre curti essas paragens. Mas quando é pra valer, quando a gente vai por tudo abaixo e fazer praticamente outro apartamento, a gente se dá conta de que deve prestar muita atenção. Caso contrário, você torra uma grana federal e ainda fica com uma casa impessoal, com cara do arquiteto.

E é o que a gente mais vê por aí: plantas e decoração que ficam muito bonitas para sair na capa de revistas, mas tem gente mesmo morando lá dentro? Não se consegue vislumbrar a história daquela família quando se entra. Tudo tem a elegância fria de móveis, paredes e objetos de decoração sem memória, que podem estar em qualquer sala de estar do planeta.

Mas a gente não vai cair nessa armadilha. A viagem para São Paulo nos deixou de “olhos bem abertos”. Descer a rua Cardeal Arcoverde atrás de uma penteadeira art noveau, Luís XV, XVI... Um barato conhecer um pouco mais do passado desses móveis. E subir a rua Consolação para tomar um banho de luz. É luminária de todo tipo e forma. Um delírio visual em dia com o que há de mais antenado. Sem falar no atendimento quase sempre impecável do paulistano, feito por gente que entende do riscado.

A parte mais delicada e inesperada do roteiro aconteceu no bairro da Lapa. Ali, em meio às casinhas de classe média, reside uma fábrica de cerâmica (ladrilho) hidráulico. Artesanal, bagunçada, cheirando à tinta e pó. Um galpão de cor terra, descascado, com ar de vila italiana perdida no tempo.

A visita foi especial. Eu tinha ideia de que fabricar essas peças era um processo manual, e por isso o valor do metro quadrado é tão caro, mas não imaginava que fosse tão prosaico, quadrado por quadrado, levando, em média, cinco minutos para que cada uma fique pronta, na cor e no desenho que você escolher. Mais de 200 possibilidades. O trabalhador braçal pingando suor a cada pingo milimétrico dentro da forma...

Atendidos pelo atencioso, jovem e animado proprietário de nome engraçado: Divo, encontramos, enfim, o piso que revestirá quase toda a minha cozinha. Foi feito por mim (de certa maneira). Me senti parte atuante do processo, montando o mosaico no computador. Um prazer sem preço. Se bem que, por lá, tenha saído 50% mais barato que o orçamento feito com a representante de uma fábrica de Minas Gerais aqui em Brasília.

São por essas delícias e outras que eu não entendo todos estarem de cabelo em pé quando digo que vou fazer uma reforma. Sinceramente, estou achando tudo muito divertido e instrutivo. Claro que a parte mais complicada, a da quebração, ainda pode acarretar em alguma dor de cabeça. Mas aprendi que se você investe bastante tempo na fase do projeto, discutindo e pentelhando a arquiteta no nível máximo, a gente obtém um resultado mais próximo do menor erro na hora de executar.

Estou confiante de que vou atravessar uma reforma sem enlouquecer, ao contrário do que todos acreditam. Mas eu sou assim: do contra. De qualquer modo, os leitores desse blog serão testemunhas de todo o processo. Taí, que tal um diário da argamassa? Topam?


O que fazer em Sampa se você tá a fim de mudar alguma coisa na sua casa:

Dar um rolé no Shopping D&D (Design e decoração com as marcas mais conceituadas: Mikal, Uniflex, Dominici, Indusparquet e por aí vai...)

Descer a Rua Cardeal Arcoverde e entrar em cada lojinha de movelaria antiga. Subir a rua paralela, a Teodoro Sampaio, e curtir as novas tendências de móveis e decoração.

Pegar todos aqueles endereços que ficam atrás das revistas de arquitetura e construção, Casa Claudia etc, e conferir ao vivo. Afinal, a maior parte das indicações destas publicações é de lojas e produtos de São Paulo mesmo.

Subir a Rua da Consolação e não se cansar de entrar em todos os espaços destinados à iluminação. É de babar!

Comentários

  1. Se um dia eu puder vou decorar minha casa estilo chalé, bem charmosa e com muitos objetos antigos, tipo relíquias da vovó, é muito romântico, não?
    Boa sorte!

    Beijos

    Patty

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