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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

Outro milagre do São Francisco

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No rally do agreste, tivemos a oportunidade de conferir o que a irrigação está fazendo para transformar o sertão num lugar fértil e rentável. O Nilo Brasileiro, Rio da Integração Nacional, Velho Chico, São Francisco é canalizado em várias partes, e leva água bombeada para dezenas de propriedades. Uma delas a gente visitou: a Agropecuária Santa Isabel, em Juazeiro/BA. Fomos recebidos com toda disposição pelo proprietário, Valdemiro Rodrigues Gonçalves, mais conhecido como Didi.  As boas-vindas à fazenda, produtora de uvas Itália e jubile, contou com mesa de frutas produzidas por lá e histórias da consolidação do agronegócio. O técnico agropecuário fez de tudo um pouco na vida: “carreguei muito saco de cimento nas costas como servente de pedreiro”, até conseguir comprar seu pedaço de chão.  Atualmente, tem 30 hectares de parreirais verdinhos, coisa linda de se ver, contrastando com os arredores áridos da caatinga.  O São Francisco está a mais

A eterna sombra do ataque

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BAJO LA LUNA Uma mulher caminha só nas ruas de Porto Alegre, o coração nos tímpanos. Una mujer camina en las calles de Buenos Aires. Solo la luna la ilumina. Uma mulher caminha na rua. O medo dá vida às sombras. De qualquer arbusto uma ameaça. É século 21. Una mujer camina. Ella no desiste. Las mujeres siguen. Uma mulher, na rua. A caminhada da mulher ainda é um susto. (Maria Alice Bragança) Sempre caminhei sozinha. Ainda que grávida, barrigão, estava sozinha. “Estou te sentindo só”, alertou a terapeuta há alguns anos. Não estranhei: sou alma solitária. Loba que reconhece a matilha, porém comunga com a solidão. Desde pequena percebi que seria como aquela camiseta que vi numa postagem do Instagram: “A vida é uma sopa e eu sou o garfo”. Hoje, sem dramas, não me aflijo. Apenas elejo as prioridades para escolher sopas cremosas, com algum naco de carne ou queijo. No mais, as engrenagens irão, inevitavelmente, escorrer pelos

Licorosas

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Cheguei ao café filosófico promovido pela Nova Acrópole num estilo leonino para uma pisciana: puxei a mesa, o tampo era solto e plaft: lá se foram o vasinho de vidro com o lindo antúrio vermelho ( laceleaf , poético como a ocasião pedia), o celular e o meu livro da Cecília Meireles (que descobri ser uma edição rara) para o chão, mesclado a incontáveis cacos e água. Atraí a atenção que deveria ser da palestrante. O evento atrasou alguns minutos por minha causa. Eu, que venho passando por tantos micos em português e inglês, agachei  e agradeci por agora ser novamente flexível após meu super tombo lavando banheiro em NY (o acidente quase me custou os ligamentos internos de ambos os joelhos). Reuni os pedaços de vidros maiores no copo de plástico sem intimidação. Não liguei para a plateia que assistia àquele papelão. Incorporei meu papel resignada e confiante. Amadurecer, afinal, é cagar e andar (de cócoras, preferencialmente). Por certo não foi a melhor maneira de me concen

Deus, o Diabo e os Fósseis na Terra do Sol

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No Cariri, ciência e religião compartilham o mesmo vale, buracão rodeado pela magnífica Chapada do Araripe/CE, que parece formar um círculo perfeito: cratera, boca de um gigante vulcão extinto.  É a estátua de Padim Ciço na cidade de Juazeiro, filho ingrata do Crato, pois floresceu, se tornou famoso no Brasil todo e causa inveja ao pai, ressentido, ofuscado pela vizinhança ilustre. Resultado: há uma imagem de Nossa Senhora de Fátima 1 metro mais alta no Crato (28m., portanto). Avistamos a santa de longe, ponto alvo a destoar da paisagem verde. O tal santuário ainda não está pronto.  Crato, nome engraçado, estranho. É homônima de uma vila portuguesa no Alentejo. A palavra vem do Latim e significa padre ou designação de lugares com condição de se tornar uma paróquia. Bem apropriado para a mística do Araripe. Em Santana do Cariri/CE, a paleontologia (com um museu muito bacaninha perdido no fim de mundo do semi-árido) precisa dividir as at

Van Gogh nos trópicos

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Se o Delta é assim, imagine a Amazônia. Cinco braços de rio, o Parnaíba, se dividindo numa solidariedade a perder de vista. Você passa o dia todo percorrendo apenas três, algumas nuances. É imensidão demais de pessoas e paisagens. Já estive no Delta duas vezes, mas a geografia mutante dessas dunas e mangues faz tudo inédito a cada olhar. A certeza da finitude da natureza, da gente. A areia engolfando os tornozelos; ferindo a pele e os olhos com sua lambada de granizo ininterrupta. Me perceber madura apresentando um Brasil diverso, desigual e majestoso aos meus filhos. Tudo isso passou pela cabeça ao som monocórdico do motor da pequena lancha que nos conduzia pelos igarapés. As catadoras de mariscos que pareciam apenas se divertir (mas o pés embaixo d’água estão em movimento contínuo. Eles adquirem destreza de mãos). Os catadores de caranguejo, de pronto ameaçadores com seus rostos sempre cobertos, assemelham-se a traficantes apinhados nas canoas. Contudo, é impe

"Riacho do Navio corre pro Pajeú, o rio Pajeú vai despejar no São Francisco, o rio São Francisco vai bater no "mei" do mar" ...

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Ponte sobre o São Francisco entre Petrolina/PE e Juazeiro/BA Ribeirão Mestre D’Armas Pipiripau Paraim Riachos Fundo e Grande Rio dos Macacos Córrego dos Veados Senhoral Rio Buritis Corrente Branco Riacho do Jardim Grotão do Lava-Pés Rio Pajeú Palmeira Paraim (outra curva) Buritizinho Gurgueia Sucuruiu e Piripiri Riacho Morto Paracatu Rio Dantas Caldeirão Canindé Coité Piranhas Santa-Fé e Seriema Riacho do Pereira Barreiro Canabrava Marimba Rio Portinho Parnaíba Poty ou Poti Gamboa Ubatuba Canzuim e Jacaúna Riacho Tapera das Casinhas Patú Macaquinho e Catolé Rio São Francisco Houve uma viagem na qual decidi anotar os nomes das fazendas ao longo das rodovias. Dessa vez, prestei atenção nos rios, nossas artérias, veias a céu aberto. Não imaginei serem tantos e de tantos formatos, além das alcunhas variadíssimas. Às vezes poéticas; outras, engraçadas. Um único rio, riacho, córrego,