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Mostrando postagens de abril, 2018

Gagá

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Hoje tropecei numa notícia que mexeu comigo. Chegou pela mala-direta que recebo: White Plains Patch. Não é novidade notícias mexerem comigo, OK, mas quando a pessoa vive fora do país por algum tempo, sempre vai guardar carinho especial pela rotina experimentada alhures. Aquela cidade tão distante vira um pouco sua. Você se sente quase uma cidadã dela. Exagero, evidentemente, mas o sentimento não liga para medidas de precisão.  Tenho até uma teoria fajuta: dois anos deve ser o prazo máximo para se viver fora, se o andarilho pretende voltar para a terra-natal. Caso contrário, sofrerá de uma espécie de eterno banzo, sensação de deslocamento permanente e, pior, aquela mania insuportável de ficar fazendo comparações entre um país e outro.  Mas eis que fico sabendo que a YMCA da Mamaroneck Avenue, decantada em alguns textos do blog e parte essencial das minhas duas temporadas no estado de Nova Iorque, vai fechar suas portas no edifício histórico que mais parece uma mansão gó

Hello, is it me you're looking for?*

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Domingo que passou, a amiga Lara comunica, sem a menor cerimônia, uma novidade devastadora:  - Não tem mais telefone fixo nessa casa!  Comoção geral entre as velhas amigas que, claro, nunca mais ligaram para o telefone, mas sentiram o baque como se perdessem um bom amigo do grupo. O aparelho tinha o mesmo número há uns 30 anos, assim como a amizade entre aquelas mulheres, forjada na convivência entre trabalhos de escola e brincadeiras “de antigamente”, com panos de cortina e toalhas por todos os cômodos da residência, uma extensão de nossas próprias histórias.  Como assim não tem mais? Lembrei tanto da voz do Seu Carioquinha do outro lado da linha: “Alôôu... Era potente e encompridava o O numa cadência personalíssima! Quantas combinações e maquinações adolescentes não foram feitas ao discar 3245-2053!!!  Lara disse que a funcionária da empresa de telefone também ficou desolada. Pudera! Como se mata uma linha tão longeva? Tão profícua? Tão emaranhada em nos

O Judiciário brasileiro em busca de sua terra de OZ

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Cérebro, Coração e Coragem na aplicação do Direito Sistêmico para solucionar conflitos sem litígio Estou trabalhando na Seção de Educação a Distância, mas gosto mesmo é de estar perto das pessoas. Dias atrás, li uma notícia apresentando um estudo que conclui que as crianças e jovens aprendem melhor nos meios impressos do que nas telas on-line. Tendo a concordar fortemente com resultado da pesquisa.  Por mais que o pôster da sala de reuniões mostre um tiranossauro rex adornado pela frase: “Cuidado com a fossilização!”, sinto-me exatamente assim: jurássica para esses cursos em módulos feitos pelo computador. Zero vontade de me inserir nesse mundo. Por isso, quando pinta algo presencial com um tema pelo qual nutro interesse (difícil no espectro de um tribunal), corro para me inscrever.  Assim foi com “Inovações na Justiça: O Direito Sistêmico como meio de solução pacífica de conflitos”. Inovar é comigo, então, vamos nessa! Além disso, já tenho um conhecimento básic

Achado não é roubado?

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"É preciso criar no Brasil, defendeu Barroso, uma cultura de "não aceitação do inaceitável" e de "praticar padrões éticos normais"." Mudanças comportamentais civilizatórias num grupo social às vezes levam décadas para se concretizarem, mas, quem sabe, estão de fato acontecendo no Brasil a tempo de que eu possa me alegrar com elas. Sempre achei que o nosso país seria melhor depois que eu já estivesse tocando lira com os anjinhos de cabelos encaracolados. Todavia, começo a perceber alguns movimentos positivos despontando na lida diária. Não no trânsito, selvagem em boa parte das cidades brasileiras. Aqui em Brasília, as faixas para pedestres seguem desafiando a falta de educação dos motoristas que insistem em rodar dentro da cidade como se estivessem numa autobahn. Depois reclamam da tal “indústria da multa”. Falácia. Raramente levo uma multa pois tento me educar diariamente para não cair na tentação de acelerar nas avenidas planas e

Aladas

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“ What if God was one of us? Just a slob like one of us Just a stranger on the bus Tryin' to make his way home?” (Joan Osborne) Você sai da consulta da nutricionista, que não lhe vê há três anos, com todas aquelas boas intenções de manter uma dieta mais saudável, rica em dezenas de sementes, cascas, brotos e óleos vegetais que fazem os olhos da Bela Gil brilharem comovidos.  Até que gosto dessa vida de passarinho, me alimentando de tudo o que é tipo de alpiste, “seed-girl”. O problema é me lembrar de fazer essas coisas todas na insanidade da rotina de mãe, esposa e assalariada. Mas não custa, aliás, custa caro, sim, essa tal existência gastronomicamente sustentável. Mas não pesa na alma a boa vontade de incorporar alguns desses nutrientes na salada do dia-a-dia.  A loja de produtos naturais parece um mercado persa de tantos cheiros, temperos e nomes esquisitos: chia, quinua, cânhamo, goji berry, alfarroba, gergelim, linhaça, amaranto (será que foi daí que

Anular

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É abril e chove. Abriu-se um oco no peito. Depois de tanto afeto, o veto. Estéril é o lugar que me recebe às segundas. Ruptura. Olhei no espelho e vi um reflexo ausente de mim Passa um lápis nos olhos, esconde os fios brancos. Os quilos, no entanto, indisfarçáveis. Sinto-me velha e nada sábia. Ainda batendo a cabeça e os dedos nos umbrais, reais e metafísicos. Ainda não sei o que fazer da minha vida e já passei da metade dela. Deslocamento tempo e espaço me guia pela mão. A mãe que não houve, o pai que nunca existiu. O que você guarda da sua mãe? pergunta algum texto lido entre centenas de leituras diárias Seu pé feio, sua boca aberta com muitos dentes parecidos com os meus. A falta, a imaterialidade mesmo quando presente. O fantasma de sua maternidade caótica, impalpável ao alcance dos dedos. Também o anel com um brilhante pequenino e solitário que a caçula carrega como metáfora da própria alma. No anular da filha reluz o coração nodoso da mulher