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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Fundindo a cuca

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A esperança de descobrir é a última que morre. Façam as suas apostas! Tá quente ou tá frio? Acho que estou no freezer, no Polo Sul. Amigos chutaram: foi o marido! Não foi. Outros alegaram: é coisa de suas amigas sui generis, malucas. Bem, já perguntei para todas as doidivanas disponíveis e nenhuma assumiu a autoria da surpresa: meu “O Nome da Rosa” na edição que eu havia perdido há mais de 20 anos.  O porteiro que recebeu a encomenda foi orientado a não dizer uma só palavra sobre quem entregou o presente. Depois de muito insistir, ele me disse que era mulher, branca e simpática. “Não era nem pra eu falar que era mulher”, justificou-se. E completou: “ela disse que você saberia quem é”!  Danou-se e é isso que está me matando... A minha falta de gentileza de não saber quem é, quando a amiga tem a certeza de eu que seria capaz de saber a autoria do gesto delicado, sutil, sensível, generoso e surpreendente.  Primeiro, achei que fosse a Ceci. Depois, pensei na Carmemcita

Contradigo-me, logo existo!

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“O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.” (Fernando Pessoa) Existe uma marca em SER humano que pouca gente admite, mas tem: a incoerência! O que mais rola por aí é homo sapiens dizer uma coisa e fazer outra. Pregar um discurso e, na prática, plagiar o do vizinho. Afinal, a grama dele é sempre mais verde, né?  Ontem, no elevador, a moça entrou e fez o sinal da cruz, claramente desconfortável frente à possibilidade da geringonça levá-la ao fundo do poço (como se precisássemos de meios de transporte verticais para tanto). Pra quê entrar no 1º andar se era para saltar no térreo? Incoerência sofrer à toa, gente! Preguiça maior do que a fobia... Pelo menos, assumo que, se desse pra atravessar o Atlântico de carro, jamais pegaria outro avião na vida.  Mas incorro na incoerência todos os dias. Por exemplo: pretendo emagrecer sem abrir mão do chocolate; quero publicar um livro sem correr atrás de nenhuma

"Qualquer maneira de amor vale a pena"

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“O único desejo do sábio é não ter desejos”. (do livro do Tao) Muito já se falou do prazer de transitar anônimo pelas ruas. Algo que os famosos jamais poderão fazer e, talvez por ser privados desse regozijo diário, sejam almas tão atordoadas. Porém, passar o dia do aniversário anônima, mesmo para uma não celebridade, é um desafio interessante que nunca havia experimentado. Não indico para almas mais carentes ou inseguras, mas que foi libertador, foi.  Não tive a intenção de me manter incomunicável numa cidade que não é a minha no dia 21 fevereiro de 2014. Todavia, logo pela manhã fiquei sem celular. Esses smartphones não são compatíveis com dumbminds como a minha. Liguei o danado cedinho, a fim de checar o facebook e as mensagens de felicitação por mais um aninho de vida. Passado alguns minutos, a bateria tinha ido para o brejo.  Meus filhos, marido, irmã e primo já me aguardavam para os programas de rua e lá fui eu, mais leve; nua de compromissos para os braço

Adeus, doçura!

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Fazer aniversário cansa. Assim, essa repetição ano após ano, uma rotina da qual a gente não consegue escapar. Engana-se quem pensa que aqui se esconde o fator idade. Envelhecer não é a questão (ou talvez até seja, mas totalmente inconsciente). É a preguiça mesmo de celebrar, de receber as dezenas de parabéns pelo facebook. Ou até os raros telefonemas - abandonados que estão pela sociedade contemporânea.  É, nesse ponto as redes sociais são uma mão na roda. É tranquilo lembrar-se da data de alguém e também almejar parabéns sem medo de ser óbvio. Pelo telefone é sempre aquele certo constrangimento: será que vai ter festinha e a pessoa não me convidou? Desejar saúde, que o dia seja especial, felicidades. Tudo assim tão batido, tão clichê... Escrever essas obviedades não parece besta como falar e imaginar a cara de tédio do aniversariante do outro lado da linha.  Caramba, estou soando amarga, antissocial. Não sou nada disso. Devo estar mesmo envelhecendo... Carecendo da en

Patrimônio imateral

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Passeando os olhos em busca de uma vaga. Mesmo antes das oito da manhã, encontrar um espaço para carro leva algum tempo. Uma brecha na lateral, ao lado da calçada! É apertada, o exato tamanho do Honda Fit. Arrisco dizer que boa parte das mulheres desistiria da missão de fazer uma baliza. Eu, não, porque tive uma grande mestra: mamãe.  Todas as vezes que faço baliza agradeço as tantas coisas interessantes que mamãe me ensinou a fazer. Provavelmente muito mais do que eu tenha consciência. Com certeza há muitas delas lá no fundo do cérebro que estão impregnadas em tantos anos de convivência. Claro, isso não é novidade pra ninguém. Tô chovendo no molhado. Todavia, a redundância também é parte do processo de reflexão.  Não gosto de dirigir, não me considero um ás do volante. Mas faço uma baliza bem bonitinha. O Honda Fit está lá, encaixadinho, um palmo de folga para cada lado. Perfeito. Nenhum instrutor de autoescola foi mais eficaz do que dona Maria: “Emparelhe seu carro n

Bandeiras Brancas

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Para Loey, com toda estima e solidariedade O mundo é pequeno e redondo. Cada dia mais redondo, como se tivesse rolando na velocidade da luz e sua circunferência estivesse a cada minuto mais gasta. O mundo está diminuindo... Estará mesmo acabando? Seixo desgastando até a poeira cósmica original?  Dois acontecimentos me comprovaram que estamos conectados nessa tênue e misteriosa linha da vida planetária. Nasci e vivo no Brasil, portanto nunca vi uma guerra de perto. O terrorismo nunca bateu às portas da minha família. Não convivo com atos arbitrários de ditadores.  Os tanques e as atrocidades das batalhas estão do lado de lá e chegam até meu coração pelas notícias parciais dos jornais. Na verdade, não sabemos desses conflitos em seu cerne porque os filtros do subjetivismo baseado em preconceitos, em achismos, em cultura ocidental X oriental, aliados à superficialidade jornalística atual (ou foi desde sempre?), só nos permite vislumbrar um recorte do que se desenro

Clave de Dó

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Se eu transformasse esse teclado de computador nas teclas de um piano e meus dedos corressem pelas letras como se bailassem por agudos e graves - e bony and ivory - e criasse música com as minhas ideias? Ah, se fosse tão fácil tocar quanto escrever! E aí o pianista dirá: ah, se fosse tão fácil escrever quanto tocar... As mãos escorregam para lá e para cá. Não fito o teclado nada elegante. OK, é uma máquina IBM, mas preferiria dedilhar um Steinway & Sons. Falsa ergonomia não produz composições e, sim, espamos nos ombros e nos dedos. Os pianistas também sofrem de lesões por esforço repetitivo? É cruel executar Beethoven como é parir jorros de textos inesgotáveis? Gostaria de acreditar que sou uma artista da palavra porque assim eu seria uma artista. E artista é tudo o que eu gostaria de ter o talento de ser. Pianista arrepiando o cangote de todos com a interpretação dos Noturnos de Chopin. Violoncelista a arrancar melodias dissonantes daquele instrumento erótico, fincado n

Pisciana de Juba

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Atravesso boa parte das manhãs numa sala de cadeiras vazias. As paredes também estão vazias. A existência de um mundo a minha volta só é perceptível por causa das copas verdes das árvores que balançam do outro lado da janela. Ali, uma vida exterior me espera. Aqui, mergulho cada vez mais dentro da minha fossa abissal.  Para uma pisciana de juba, como diria um amigo, é muito tentador rumar à profundeza do ser. Abandonar a transparência de peixinho decorativo de coral, para transformar-se nas criaturas aberrantes que só encontramos no fundo de nós mesmos. Moreia, Peixe diabo-negro, lula vampira do inferno, medusa. No abismo escuro, os monstros nada veem, apenas sentem. Essa realidade sensorial pode assustar quem de cara com esses espécimes encontrar, desavisadamente.  O alívio para quem flerta com o oculto é a necessidade de subir à superfície para respirar de vez em quando. Mas o raso não atrai tanto quanto o fundo, por mais que se pele de medo do mar aberto. A nadadei

Mulheres com M + Homens com H = HM ou MH (a ordem dos fatores não altera o produto)

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Uma coisa leva a outra e falar de amor juvenil leva a pensar na criação de meninos. Meninos no sentido masculino, não generalizado. Até livro específico sobre o tema eu já li, mas não é que o trem é complicado? Essas espécies tão diversas de nós, mães, gênero feminino, dão nó no nosso cérebro. Fazê-los crescer sensíveis, leves e ainda Homens. Equação complexa.  Nas famílias de meninas e meninos acaba rolando uma polarização ou as mamis enfrentam os mesmos dilemas? Meu mais velho é o tipo de menino que chora. Nostálgico, até melancólico. Se tivesse outro pai, talvez estivesse levando tapa pra virar homem. Gente, o que é virar homem? Quero que meus filhos sejam bacanas, descolados, que gostem de ópera, que curtam artes plásticas, toquem um instrumento, amem fotografar... Entretanto, não sei se queria que eles dançassem balé... Viu? Taí a minha dose de preconceito! Penso que não sou machista, mas serei?  Quero que eles sejam vaidosos na medida certa e qual seria essa

O Amor nos tempos do Poliamor

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“Você lembra, lembra, naquele tempo eu tinha estrelas nos olhos...” Recordando e vivendo e morrendo de rir das coisas que fazíamos em nossos loucos momentos de amor juvenis. Como será a adolescência dos meus filhos? Como atravessarão as primeiras dores de cotovelo, a intensíssima primeira paixão? Terá mudado a essência desses sentimentos com as novas interações instantâneas ou essa galerinha vai penar e definhar como a gente ao lado do telefone? Esperando a carta ou o encontro no portão? OK, sem carta, sem telefonema, sem espera no portão. Mas era tão bom! “O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra que havia num terreno baldio entre as nossas casas”, assim afirma Mario Quintana no poema obra-prima chamado “Indivisíveis”. Meu primeiro amor e eu sentávamos num banquinho da quadra vizinha da minha, a 714 sul, mais chique, destinada aos funcionários do Banco do Brasil. Na minha, não havia banquinho, só parquinho. E naqueles 14 anos, os balanços já não me faziam falta. Só se