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Mostrando postagens de junho, 2013

Na Berlim Tropical

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A coisa que eu mais gosto no Rio de Janeiro talvez seja a coisa que você mais gosta também. Vamos lá: para onde a gente olha, avista logo um pedrão gigante brotando do centro da Terra. Parece geração espontânea e continua de paredões pipocando entre prédios, no meio do mar, de uma rua a outra, da janela lateral do quarto de dormir...  É poético e visceral ao mesmo tempo. Dureza e malemolência numa única rocha. Doce sabor do Pão de Açúcar em nossos olhos e papilas. Água na boca!  Mas o Rio é de fato divino e maravilhoso. Sinônimo do Rio é sempre. Como o seu nome de batismo sugere, flui indomável pela história, forçando suas margens em reinvenção constante. Dessa vez, eu que venho à cidade desde criança, quis me perder pelas andanças a esmo. Nada de turismo óbvio. Só caminhar e sentir o vento morno do mar.  Acredito que o oceano transforma a minha natureza. Os olhares masculinos não são indiferentes quando me ponho em marcha pelas calçadas. Ou os cariocas são mais at

O coelho da Mônica

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Repare bem: todo mundo tem uma receita para resolver os problemas dos outros. O pulo do gato do Maurício de Souza foi criar os planos infalíveis do Cebolinha. É a metáfora perfeita para os nossos dramas diários completamente falíveis. Agora vou viajar de avião de novo. A última vez foi em novembro passado e  quase tive um piripaque com a famigerada turbulência, que proibiu a moçoila dos aires de servir o tal lanchinho peba.  E aí você escuta de tudo para tentar sanar a sua fobia de voar. Se eu quisesse estar a quilômetros de altura do chão tinha nascido condor, né? O mundo está cheio de boas intenções, mas é um inferno tanta bondade! O mesmo acontece com a danada da insônia (será que está ligada com o medo de avião?)  Já li de tudo, já fiz de tudo, já ouvi e apliquei mil e uma mandingas e já submeti meu organismo à vasta farmacologia existente no planeta para domar o indomável. Até no mundo do crime eu caí, contrabandeando melatonina dos Estados Unidos e da Argentina.

Fechada para balançar

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“Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia. ”  João Guimarães Rosa Hoje estou nada. Sabe nada? Plain. Omelete plain, ou seja, só o ovo mesmo. Nenhuma ideia, nenhuma emoção, nem boa nem triste. Parece que estou dopada. Meu ser se recusa a sair do modo hibernação. Coisa esquisita. Como se não fosse mais formada de peptídeos. Minhas biomoléculas não ligam para nada. Estão a fim de nada fazer, de não promover conexões, de: não. E olha que eu dormi bem, até sonhei. Não tomei nadinha. Deve ser isso. Crise de abstinência provoca oco.  NONADA. Não-mãe, não-mulher, não-cérebro, não overqualified atendente de makerting social aos afogados da Justiça. Não aguento mais essas mil análises oportunistas sobre os protestos brasilis. Todo mundo tem uma tese para apresentar. E se não houver nada “por trás”? Mas que mania de explicação enjoada! E se for só vontade de sair pra a rua para se sentir vivo? O nada pode ser reivindicante também.

Wahe Guruuuu!

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Nunca escrevo um texto sobre o yoga e sua importância para mim. Não sei se sinto reverência ou medo. Tudo que enxerga nossa alma com limpidez assusta um pouco. O yoga me oferta dádivas que não cabem em palavras. E me deu o maior presente de todos: a amizade da mestra. Um encontro de almas, com ela definiu, sem necessidade de retoques.  Mas é que o yoga é mesmo indecifrável e indescritível. O primeiro contato que tive com esse mistério foi em 2001, em Nova Iorque. Consegui me matricular na YMCA com um pacote na medida para chicanos, ou seja, para os pobres. Não se esqueçam de que estamos falando da Associação Cristã de Moços, um lugar benevolente na selva capitalista da metrópole do mundo.  A mensalidade me garantia algumas modalidades por mês. Não as mais em moda ou poderosas, but, who cares? Uma delas era de “Healthy Back”. Aula de costas saudáveis??? O nome me cativou na hora. Adoro seguir esse fluxo dos títulos, sabe? Eles já me conduziram a muitos livros bacanas e

Fantasia Armorial

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"Sem a música, a vida seria um erro." Nietzche Poucas criações humanas são tão enigmáticas e magnéticas quanto os instrumentos musicais. Delicadezas que irradiam o que a espécie sabe produzir de mais perfeito: a música. Num golpe de sorte, fisguei um recital de guitarra portuguesa perdido na programação, arrastando o marido, em plena segundona, para ouvir o dedilhar mágico de Pedro Caldeira Cabral.  Zás trás, já não estava no Teatro da Caixa Cultural, mas, sim, na casa da amiga Lara, brincando de antigamente. O som da corte medieval me transportou aos nobres castelos da fria Europa, onde as meninas, com tecidos de cortina, faziam seus vestidos de princesa.  Pirlimpimpim e agora viajava no céu, singrando nuvens fora do avião, que dele não gosto de jeito nenhum. Alcancei transe meditativo, enquanto as cordas - bem tratadas pelas mãos talentosas - relaxavam todos os músculos, principalmente aquele mais sentimental: o coração.  Abracadabra e era, de n

"De perto, ninguém é normal"

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Sei lá se você acredita em sinais. Também não sei se acredito, mas, agorinha, quando ia escrever que a vida é sempre mais louca que a arte, leio uma frase do Milton Hatoum: “a arte é transcendente sempre”. Ou seja: é para eu seguir no meu raciocínio ou sigo outra linha devido ao desmentido?  Talvez não seja lá uma contradição o que o escritor afirmou. A Arte transcende sempre, mas a vida, de vez em quando. E aí, nesse momento de ruptura, ela fica tão ou ainda mais louca do que a Arte. Tô parecendo que tomei chá de cogumelo, concordo. Mas é que alguns sofismas são deveras instigantes.  Há quase meio ano, venho respondendo e-mails de cidadãos de todo o país. A seção que trabalho fornece informações processuais para advogados ou partes que estejam com processos correndo no STJ. Nada complexo, o básico. Só que o básico já é tão complexo em nosso sistema judiciário, que é preciso ter paciência e certa competência empática para perceber qual tipo de resposta vai chegar ao en

As Mães da Praça da Vida

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Pois então, esse turbilhão de emoções. KKK!! Lembrei agora do hilário livro de Humberto Werneck: “O Pai dos Burros – Dicionário de lugares comuns e frases feitas”. Passei mais de hora me deliciando com tudo o que não devo escrever, se prezo tanto a escrita. O argumento óbvio pode até sair charmoso, tudo depende do talento para descrevê-lo. Entretanto, a linguagem óbvia mata qualquer texto.  Mas o que sinto agora pode ser também comparado a outro clichê: montanha-russa de sensações. KKKK! Eu rio para não chorar. Ou eu choro e rio ao mesmo tempo. Ah... Como qualquer sinal de alerta com os filhos põe os pais atarantados. Bastou a escola aventar a possibilidade de o caçula sofrer de TDAH, para que o meu mundo não caísse, porém, ficasse bastante convulsionado.  Não que fôssemos alienados e não percebêssemos as especificidades do nosso leãozinho: impulsivo, irritadiço, ligado na tomada. Mas quem disse que a gente quer que outra pessoa coloque o dedo na nossa ferida? Como

Álgida lembrança

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Adoro dias londrinos! Fazia tempo que Brasília não invernava como agora. Todo mundo encapotado, a maior parte reclamando. Brasileiro, não tem jeito: não quer saber de dias nublados. Não é prerrogativa só de carioca, como bem cantou Adriana Calcanhoto. É coisa de toda uma população que nasceu sob o signo tropical agreste.  Mas como eu sou do contra, sinto um prazer incomensurável nesses dias introspectivos. É sexy colocar uma botinha e uma blusa mais pesada. Frio lá fora é sempre a desculpa ideal para ficar cá dentro, ruminando pensamentos, vendo filmes e comendo chocolates. Até os meninos parecem que entenderam o recado e ficaram comportados no domingo. Duas, três horas brincando de batalha de robôs de lego. Era quase o nirvana.  Acho engraçada a intolerância do brasileiro para o frio. Porque, afinal, quase não temos inverno “de verdade”. É só fazer um, dois, três dias abaixo dos 20 graus que a galera começa a resmungar com mau humor. Lá no sul, vá lá. Sei que em Cur