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Mostrando postagens de setembro, 2023

Ritos Finais

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Tempo parado no ar Há dias, calor, insônia Oh, noite… (Djavan) Pego o lado esquecido da calçada onde os carros estacionados obstruem a passagem e  o mato desgrenhado exala liberdade. Ando comovida com tanta poesia:  palavras, letras, imagens. Não lembrava mais o que era chorar à toa, juro.  As pedras estão se quebrando, não nos rins ou na vesícula,  sem embargo,  na carapaça do caranguejo,  no exoesqueleto do bernardo eremita. Gosto de silêncio ou de música; podcast é  intrusão. Preciso me acostumar com esse falatório que tomou conta do mundo.  No fim dos tempos que nos atingiu nas últimas semanas,  o paraíso (ar)tificial condicionado nos refugia. Será, por fim e desgosto, o destino da gente, a distopia? Nossa culpa, nossa máxima culpa. Se o cataclisma agora se instala,  penso em trocar Brasília por Ushuaia.  Haverá ainda algum gelo por lá, para hibernar? Se é a esperança a última que morre, que seja congelada!  Não pretendo me liquefazer sob o Sol no papel de carrasco. O aquecimento

Vela de sete dias

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“Era alto demais o preço para escamotear a velhice, neutralizar essa velhice - até quando? Por favor, quero apenas assumir a minha idade, posso? Simplesmente depor as armas, coisa linda de se dizer. E fazer. O tempo venceu”. (Lygia Fagundes Telles no conto Boa noite, Maria) Quero existir neste tempo onde os objetos são carinhosos, não funcionais. Funcionar não é preciso. Me desculpem os funcionais, mas a beleza de ser é fundamento. Deleitar-se é primordial. Krenak cravou a reflexão: viver não é útil; navegar, sempre. Enfim, chega o momento dos anos no qual não sou mais eficiente, pujante. O filho namora no sofá da sala como já namorei. Maturando-me vou, sob o signo da serenidade. A energia vital daquela paixão incorrompida não mais me pertence. A força utilitária da carne se transmuta na graça imaterial dos corpos libertos de obrigações de se fazerem apropriados. Que alívio é desvencilhar-nos dessas conveniência e sofreguidão de permanecer alerta. De incorporar a juventude de energia

Festim

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Simplesmente adoro as tais sincronicidades. Desde que descobri a palavra serendipity na língua inglesa, lá no início da década de 2000, eu presto atenção nessas pequenas e maravilhosas conexões do acaso. Voltando de uma viagem intensa em calor humano e climático de Teresina, a dez mil pés, vi o planeta amanhecer da janelinha, enquanto curtia John Wick 4 na telinha do celular pelo aplicativo da empresa, quando Keanu confere em seu relógio de punho (eu também não abro mão do meu) e… 5:45AM em Paris e também em algum lugar aos arredores do Distrito Federal. O sol nasce no filme e na minha vida real, provisoriamente encarcerada nas alturas e nos alhures. Estamos juntos, ele e eu, em continentes diferentes como se fosse o mesmo alvorecer. Opto por filmes de ação nas viagens de avião. A ideia é me distrair com o máximo de barulho fictício a fim de me esquecer dos inúmeros e esquisitos ruídos produzidos pela aeronave. Dá certo. Consigo sobreviver, cada vez mais serena, aos sintomas da fobia d

Rotações em torno da translucidez

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Tudo tem luz e escuridão… Paternidade morta, ancestralidade perdida. Morar perto do mar… Pari dois filhos homens, duas solidões. Fotografar flores e pipas aplacam o tédio das compras de supermercado. Será que eu sempre quis ser a princesa do papai? Que pai? O do retrato? Caminhar descalça pela areia… Tirar os sapatos e gostar desse contato. Tudo o que é belo nas coisas e na natureza seduz. Registro. Retenho o momento de sublimação. Amplidões me preenchem... O silêncio entre o uivo e o rugido. A mansidão dos bois no pasto e o desejo de ser selvagem: te(n)são contínua/o. Manhãs de setembro aroma de hortelã espera a noiva na porta da capela, canela. Gineceu e androceu "fica mais leve o peso-do-meu-coração". Amarelos pontilhados nas sarjetas sombras salpicadas nas calçadas. Passarinhos arvorados avoadas mentes. Brotoejas nos filhotes; outros são concebidos. Nas manhãs de Setembro Vanusa, "se fez tarde de tristezas e foi esquecida". Beto, o clichê da estação: "só no

Feminalis

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Particular Bolsa de mulher é latifúndio onde brotam não a plana monocultura, sim as pistas de uma vida sinuosa. Íngremes desejos senões, pílulas, segredos.   Bolsa de mulher é buraco negro onde tragados são objetos patéticos desnecessários ao devaneio. Escova, chaveiro, moedas, crachá,  recibos, celular. Bolsa de mulher abriga galáxias de dores e de batons vermelhos intensos, cicatrizes repuxadas. quiçá o chocolate derretido,  papéis de bala. Bolsos de um mundo particular Diário de bordo, diversas viagens passagens. Idas e voltas ininterruptas dentro de si. Solo O coque da bailarina, metáfora  do zelo materno. Mãe e filha em comunhão,  o puxa e repuxa do pas de deux perfeito.  Sonhos e cabelos em sintonia, esmero. O coque da bailarina contém  brilhantina de espetáculo torcida na coxia, mãe coruja na plateia, alegria da estreia. Sempre quis ser bailarina o verdadeiro orgulho da mãe. Mas a mãe não era dada a enlevos. As densas madeixas, como as de um menino eram podadas. (dava menos tr