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Mostrando postagens de junho, 2014

Namastê

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O curry , as cascatas de tecidos ocres, laranjas, vermelhos, amarelos... Sáris e a essência da feminilidade. Rituais, a cítara, ah, a cítara!!! O mango lassi, as reverências, a fé que gostaria de vivenciar. Olhos negros, corpos esbeltos. Sofrimento misturado aos cheiros, às danças, aos dons. Devo ter sido indiana em outra vida porque tudo me parece tão amável e íntimo naquela imensidão de culturas e povos.  Os chás, o arroz, o frango masala e Gandhi. As monções: chuvas e mais chuvas, minhas queridas corredeiras do céu. O budismo, os templos e o yoga com sua sabedoria irretocável. Os gestos delicados, submissos e comedidos que requerem uma personalidade que não tenho. A contemplação, o pôr-do-sol açafrão.  Onde eu me sinto em paz é no meio dos mantras. Onde me sinto gente é depois de tentar fazer um asana que meu corpo não compreende. Os deuses dos meus sonhos entrecortados são cheios de braços e pernas. Antropomórficas miragens. Ganesha, Brahma, Shiva, Vishnu... Tantas

A vizinha de todos nós

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A Morte, essa vizinha impassível e impiedosa. Lado a lado, compartilhando a parede geminada com a vida. Pensando bem, a dona Morte é uma psicopata. Não se importa em sequestrar nossa paz, machucar nosso coração, torturar nossa mente e matar nossa alegria com frieza. Age com a falta de empatia habitual de quem não sente pena de nenhum ser vivente.  E o mais sinistro nesta psicopatia é que ninguém está livre dela. A dona Morte é a vizinha do andar de cima, da porta ao lado, do outro lado da rua, do apê 206. Não tem jeito. A Morte é a inquilina indesejável que nenhuma ação de despejo soluciona. Tampouco pode ser ignorada, pois age quando menos esperamos. E se, por ventura, cremos que estamos preparados para as artimanhas funestas dela, a verdade ainda se revela vil e sem sentido.  Os atos mortíferos são terremotos que, se não destroem as paredes da sua casa, desmoronam o lar daquele bairro onde mora o querido amigo. É o tal efeito cascata, os tremores secundários,

Dádiva de Fênix

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O que 50 dias de ausência fazem pelo amor? Arrefece-o ou atiça-o? Amor genuíno não cai em armadilhas, não faz uso de subterfúgios. É um sentimento cristalino que a distancia deixa hibernando pra renascer mais profundo na primavera, ainda que outono.  Bastou revê-lo solitário sob o lençol branco. O choro sentido de tantas violações em seu pequeno corpo perfurou meu coração. Acerquei-me de sua cabecinha espiga de milho novo e sussurrei um mantra enquanto a equipe de enfermeiras terminava mais uma sessão interminável de coleta de sangue.  Peguei o guri no colo, estava mais leve, mas logo aninhou a mão gorducha sobre o meu seio. Aos poucos, a respiração voltou ao ritmo da paz e a dor de ambos se dissipou. Samuel reabriu seus olhos de céu e nos reconhecemos depois de 50 dias. Fiquei ali, ninando suas carnes frágeis até que pudéssemos conversar como se estivéssemos num parque florido.  Levei três livros. Começou a festa. Sentadinho, ele captou cada detalhe das ilustr

A verdade sobre os cometas

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Os cometas são feitos de gelo. Por fora queimam, resplandecem, mas por dentro são frios, indiferentes. Assim devem ser os psicopatas que tanto intrigam a criminologia e a psicologia. Não dizem que eles são sempre sedutores? No passado, cometas eram sinais de maus presságios. No presente, são as abominações que nos espreitam e aterrorizam. Ninguém está livre de cruzar com um cometa-humano pronto para lhe exterminar.  Assim deve ser aquele publicitário que matou o zelador em São Paulo. Exteriormente um cabeludo que teria criado campanhas alegres, delicadas, doces? Em contrapartida, sombrio na alma que foi capaz de enfiar um senhor esquartejado dentro de uma mala por causa de picuinhas.  Quem guarda muito rancor pode estar se transformando num cometa. Aos olhos dos outros, muito luminoso, sorrisos afáveis, convivência pacífica. Na frente do espelho, um ser que vocifera contra tudo e todos e recolhe nas gavetas da memória cada passo em falso que outra pessoa tenha dado

Nas mãos que oferecem rosas...

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"Fica sempre um pouco de perfume Nas mãos que oferecem rosas Nas mãos que sabem ser generosas Dar o pouco que se tem a quem tem menos ainda Enriquece o doador, faz sua alma ainda mais linda Dar ao próximo alegria parece coisa tão singela Aos olhos de Deus porém é das artes a mais bela..." Quebrar o frasco de perfume também dá sete anos de azar? Ao menos o corpo e o banheiro ficaram sete vezes mais cheirosos. A casa toda, que na noite passada recendia a incenso, agora exala uma fragrância amadeirada, claramente masculina, invocadora de segurança, fortaleza e proteção.  Os tempos andam sombrios no país e em seu coração. Sentimento antecipado de perda dos filhos, do controle. Uma dispensabilidade angustiante. Os laços com a família que a viu nascer se esgarçam. Um cansaço de tanta loucura. Vontade de se deixar só, mas ressentida com essa solidão quase involuntária.  Momento de transição. De suspensão e suspeição. Não vê um propósito claro na sua missão de v