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Mostrando postagens de agosto, 2013

As paranormais

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Os bons filmes, assim como os vinhos, precisam de tempo para que sejam realmente avaliados e validados como bons. Escrevo essa máxima de bicuda, pois não sou especialista nem em cinema e muito menos em enologia. Só quis começar essa conversa com uma frase de efeito. Surtiu?  Mas eu tô falando isso porque ontem revi, com toda a atenção, o clássico de terror escrito, produzido e quase dirigido por Steven Spielberg: Poltergeist. Sei que a película foi reprisada dezenas de vezes na TV. Todavia, nunca tinha vontade de assisti-la de novo. Medo de quebrar a magia, o espanto e a história divertida que o cerca e que marcou a minha juventude candanga.  Só que ontem ele estava de bandeja na grade da programação da HBO do jeito que eu curto: às dez da noite, com a casa em silêncio: paz de crianças dormindo e marido também. Esse é o céu dos cinéfilos: você, a tela e a história! Nenhuma interrupção, total concentração. Tinha chegado a hora da verdade: Poltergeist teria resistido aos

Das duas, uma!

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Mãe é bicho besta: sente saudade de filho perto. A ideia coroou como se fosse a hora do parto. Todavia, o texto ainda levou o tempo das contrações, arrancando-lhe do sono no meio da noite preta.  Era uma ânsia de vômito, uma ebulição nas tripas incontrolável. Como se fosse grave doença. Quem escreve pode parir de um triz para o outro. Os pensamentos usurpadores não são educados, obviamente. Impróprios, eles ocupam o espaço quando menos esperamos.  As palavras começam a minar por todos os poros. Não há antídoto a não se deslizar a pena sobre o papel. Bastou ver aquela foto do filho ainda bebê sem dentes ou ouvir aquela trilha sonora do filme que introduziu o primeiro rebento ao mundo da sétima arte, para que o gatilho fosse disparado sem dedo. Metralhadora de sentimentos aturdindo a alma.  O filho dela está ali, mas já é outro. E então ela sentiu saudade daquele que o filho já foi. Ou mais pungente: a cratera se abriu entre eles e ela sente saudade do que ele é na

Amor de raiz

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Meu encontro com ela é quase diário. Procuro me sentar sempre à sua frente. Não gosto de perder nenhum detalhe das mudanças sutis na aparência dela. Entretanto, os anos passam e ela continua solene, refrescante, viva. Invejo essa persistência. Essa obstinação. Já pensei tanto em desistir... Nosso relacionamento é platônico e silencioso. Para ser realmente franca, aposto que ela nem sabe que eu existo. É um amor de mão única. Duvido que ela perca o tempo dela em observar as mudanças sutis em minha aparência. Ela deve ter mais o que fazer do que ficar me espiando na hora do almoço.  Se me fitasse, o que diria de mim? Ganhei peso, cabelos brancos, fios ressecados. Minha pele, antes viçosa, agora sofre com acnes tardias. Minhas idades avançam impiedosamente. Para ela, um ano parece um dia; cinco anos, um mês. Acredito que, assim como eu, ela já passou dos 40. Todavia brilha como se adolescente fosse. Brotinhos renascem de seu corpo robusto a cada primavera. Seiozinhos de m

Quimeras do real

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E no princípio era quase assim... Ontem descobri que ataquei de Franz Kafka sem saber. Um dia, em Berlim, o autor encontrou uma menina chorando por ter perdido a boneca. Comovido, resolveu se transformar em um “carteiro de bonecas” e entregar diariamente uma carta à garota, para que ela pensasse que a boneca não havia desaparecido, mas apenas viajado para viver grandes aventuras.  O mesmo fiz com meus filhos e aqui no blog postei uma história sobre a abdução do hamster que, na verdade, morreu uma morte inglória no fundo do armário. Eles até hoje acreditam que o ratinho foi levado para outro planeta. E, desse modo, o amor se transformou em outra coisa; depositado em um lugar mais tranquilo e confortável. É assim que devemos seguir... Reconstruindo nossas perdas, nem que seja num conto de fadas, pois, não se enganem, sempre perderemos algo ou alguém a quem amamos.  E acho que foi assim que, naturalmente e inconscientemente, redesenhei um significado afetivo para a casa d

Barbaridade!

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Uma colega de trabalho desabafa comigo. Chateada está, pois a mãe se esqueceu de buscar a neta na escola. “Eu disse que contratava a van, mas ela se comprometeu!” Chateia, sim, é terrível. Ser “esquecida” na escola é algo devastador quando se tem seis anos. Eu sei por experiência própria.  Na confusão da vida familiar pós-morte prematura de um pai provedor/controlador, mamãe se esqueceu, não uma ou duas vezes, porém várias, de me pegar na escola. E o mais grave: estudava no turno vespertino. Via a noite cair e ninguém aparecer no portão... Acabava na casa das freiras do Notre Dame, que ficava logo atrás do colégio. Por quantas noites senti o cheirinho bom da janta delas... Mas não se enganem: as muquiranas nunca me convidaram para uma ceia sequer.  Isso fica na nossa cabeça. Um trauminha, é verdade. Brincar de polícia e ladrão, não. Ué, mas por que raios essa brincadeira atualmente considerada violenta entrou na história? Porque hoje as pessoas ficam chocadas se os fil

O armário de papai

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Se vovô Agenor vivo fosse, seria assim? E cá estamos em mais uma semana do Dia dos Pais. Na infância, quanto tormento... Por anos, acho que era a única na sala de aula a não ter pai presente. Poucos eram os casais separados então. E pais mortos, Deus o livre! Isso era inimaginável na cabecinha de todos aqueles coleguinhas bárbaros. A sacanagem, as ironias e maldadezinhas eram inevitáveis. Hoje, a perseguição tem nome importado idiota: bullying. Mas a dor deve ser a mesma.  Pobre das poucas crianças que não tinham mãe no Dia das Mães. Algo que só quem foi guri na primazia da família tradicional: papai, mamãe e dois filhinhos, um menino e uma menina - tem ciência e cicatriz. A carne viva ardia. Nervo exposto. Bizarrice. Ser diferente era foda!  Vendo por esse lado, que bom que hoje as famílias são todas disfuncionais (já eram antes, mas as aparências enganavam). Atualmente, ser desigual é ser normal (quase sempre). As separações são regra. Os homossexuais adotam filho

Momento azul

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A internet é um paradoxo fascinante. O futuro acontecendo no presente e também fonte na qual a gente reencontra o passado, dá um beijo nele, enche os olhos d’água e segue a vida. Para quem respira música, não posso querer nada além de relembrar canções que marcaram tantas cenas do meu filme. Bendito Youtube!  Meus momentos nunca estiveram despidos de trilha sonora. As melodias me trazem tudo de volta, fresquinho. Ontem estava revendo “Para sempre Cinderela”, com a magistral Angelica Houston arrasando em caras e bocas de madrasta má. Bernardo, que não tinha visto a película, se interessou e ficou. Ele é um romântico, sem dúvida. Qual homem seria fisgado por uma pastelaria daquela com tanto prazer? Tão bonitinho...  Mas há uma cena em que a Danielle de Barbarac (Drew Barrymore) está numa biblioteca medieval com o príncipe encantado - e por isso mesmo entediado de tanto encanto -, quando conta, febril, sobre as leituras que o pai lhe fazia na infância. Comovida, diz: “eu

Diga-me como tu pintas as unhas que te direi quem és!

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O horóscopo de hoje diz aos piscianos: “O passado não perdoa, gruda na alma da gente e se reproduz sem pedir licença”. Divirto-me lendo Quiroga todos os dias. É como se comesse um biscoitinho da sorte ou jogasse I-Ching ou, ainda, abrisse a bíblia em qualquer página. Levo tudo a sério. A sério até o ponto no qual essas consultas aleatórias possam servir de inspiração para um texto ou para o autoconhecimento, que, no meu caso, acabam sendo a mesma coisa.  Hoje estou bem passada mesmo. Relembrando filmes da adolescência; ouvindo a trilha sonora de NeverEnding Story e tudo o mais. Sinto uma inércia descomunal... O carrinho A não quer chegar ao ponto B. Não há plano inclinado que ajude... E trocando mensagens com a minha lírica amiga caracol de Curitiba, inventei um nome perfeito para oferecer à Suvinil ou à Risqué: azul inacreditável.  Pintar as paredes de azul inacreditável, já pensou? A vida ficaria assim, assim refrescante. Toda manhã acordar num quarto se sentindo nu