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Mostrando postagens de abril, 2019

Pedra fundamental

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Com gente que tem filho acontece o seguinte: você tem uma vida A.F. e outra D.F.. Você mede o seu tempo na esfera terrestre - ou na távola redonda, a depender do seus grupos de zap - a partir dessa linha de acontecimentos e se torna um pouco dicotômico aos olhos de quem não povoou o mundo com descendentes.  Você parece ter vivido duas existências completamente díspares. Quem não tem cria não saca esse antes e esse depois, apesar de ser um fato intransponível como são os próprios filhos. Para quem esperou pra lá de 30 para iniciar a carreira materno-paterna, há muita história before e after aquela foda que mudaria tudo para todo o sempre. Tenho amigos descolados e despreocupados que se irritam um pouco quando digo (com mais frequência do que gostaria): “mas isso aconteceu numa encarnação anterior, antes dos filhos”. Eles acham que estou dramatizando, pagando de velha sábia ou tola. Ambas, ao captar a cara de tédio indisfarçável ao redor.  Porém a parada é ine

Querido Vina, saravá!

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Sonho bom é aquele em que encontramos pessoas amadas separadas por miles away ou pela eternidade. Outra viagem onírica de primeira qualidade é aquela na qual estamos em lugares-pilares da nossa vida, sozinhos ou acompanhados. Como a amiga Ana Cristina, que tem um sonho recorrente com a casa de praia da família. No meu caso, é com a sede da fazenda da infância e juventude. Quando estou sem chão, ela costuma me visitar durante o sono. Não é necessário fazer nenhum sentido para ser acolhedor esse tipo de sonho-terapia. Semana passada, sonhei com a amiga polonesa Agnes, que vive em NYC, na vizinhança de Astoria. Distantes  uma da outra por mais de dez mil quilômetros de oceano e de terra; por culturas e línguas-maternas complicadas, conversávamos animadamente sobre N assuntos. Mas o que me fez acordar animada foi recordar que debatíamos, com muita propriedade, Vinicius de Moraes. Ela não lê esses meus textos em português, claro. Já me pediu para vertê-los ao Inglês, no

Enigmas estelares

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“Continuava de pé e aparentemente sereno, embora dentro de si sentisse um nervoso miudinho a subir-lhe pelo peito acima”. (Miguel Souza Tavares) A cada novo e-mail ou áudio de whatsapp encaminhados pela editora do livro, um frêmito de pavor me invade. E quando uso a palavra frêmito, faço reverência ao amado Quintana, rei dos arrepios poéticos.  Pois, sim, chegam as notícias instantâneas e eu me dou ao desfrute de prolongar o suspense. Não abro de imediato. Deixo marinar por horas até. A proposta é saborear cada atualização do processo de parir um livro com a angústia diante do desconhecido que me cabe. Encaro o decurso de tempo como se gestasse um elefante. Adoro-os: pacientes e amigáveis. Porém, tenho medo de que algo dê errado e a publicação não mais ocorra como previsto. Simultaneamente, tenho prazer em perceber que o copo meio vazio que me habita quase sempre é injustificado; traumas que emergem da caixinha reptiliana das lembranças ruins. As