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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

I love NY! Quem não?

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Americanos são especialistas em "small talk", ou, em bom Português, jogar conversa fora. Impressiona-me a habilidade cordial do típico norte-americano em puxar papo dentro das lojas, nos metrôs, ônibus... Em matéria de conversas despretensiosas, são quase imbatíveis. Já vivenciei diversos diálogos nonsenses na rotina de dona-de-casa americana entre um supermercado e outro. Desconfio que os ianques, uns solitários de primeira, desenvolveram esse traço de comportamento para que pudessem sobreviver ao isolamento que se auto-impõem atrás de suas portas e janelas bem adornadas. São capazes de papear com a caixa da farmácia por cinco minutos sem se importarem com a fila que se forma atrás. E os que esperam não reclamam, pois estão loucos para chegar a vez deles de interagir. Se você conhece bem os cariocas, vai argumentar: ah, a gente sabe bem do que você está falando. Mas não se enganem: os cariocas criam intimidade na fila da padaria e, ao final de dez minutos, pas

Coisa e Taous

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Tanto fiz que consegui levar os meninos para dentro do quadrado do Templo Budista. Sonho antigo ser acolhida pelas largas asas de seus telhados. A aura de serenidade, leveza e pertencimento invade as almas assim que se adentra o solo sagrado da Terra Pura.  Ainda não me tornei budista e nem pretendo me ancorar em qualquer doutrina religiosa por enquanto. Também não incito meus filhos a tomar tal atitude. Deixo que eles sigam seus corações. Mas o templo budista não é apenas para os convictos. Ele abraça os que são ávidos pela paz de espírito em suas várias facetas de comunhão: aulas de japonês, meditação cantada, artes marciais, yoga, quermesses, cursos de Ikebana...  Então os guris estão disfrutando dessas bênçãos nas práticas de Kung Fu. E para a mãe sobra lascas de bem-aventuranças quando leva os rebentos e absorve a energia dadivosa circulando entre as os frequentadores nas quatro aulas simultâneas, compartilhadas pelas turmas e mestres num único e imenso tatame.

Múmia cibernética

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Vivenciar um exame de ressonância magnética (RM para os íntimos) é o mais perto que nós, pessoas comuns, filhos de Deus nascidos num país periférico e corrupto do mundo, chegaremos do futuro. Desse futuro de cinema: asséptico, artificialmente branco, luminoso e impessoal. Um porvir distópico, onde a máquina fala mais alto do que você. Aliás, emite sons inacreditavelmente estridentes e sua única opção é se submeter aos avanços da tecnologia.  Isso pode ser bom então. Ser um país fodido, desigual e ignorante. O tal futuro apocalíptico nem chegou por aqui e vai passar batido. Existimos na eterna Idade Média: fita VHS engastalhada no vídeocassete ou a famigerada conexão de internet mixa que lhe deixa hipnotizado pela setinha a rodar, rodar, rodar...  Você pensa que está pronta para segurar a onda quando os homens e mulheres futuristas lhe acomodam na nave. Tudo reluz a "2001, uma Odisseia no Espaço"; "Gattaca" ou "A Ilha". Fique à vontade pa

Templo

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Suspira, mas não pira! O yoga me salva de mim mesma. Você chega à prática como terra arrasada, tipo assim ruína depois de um bombardeio. Caindo aos pedaços, tipo assim patrimônio histórico abandonado. E você pensa: não tem mais jeito. A energia vital foi embora, “partiu sem dizer adeus, nem lembra dos meus desenganos, fere quem tudo perdeu...”  Os 50 à espreita com todo o peso de um 5 e de um 0, ou seja: zero possibilidade de ter 30 anos de novo. Leviana, sim, leviana a força que você pensa que lhe deixou na mão. Mas aí a mestra lê seus pensamentos e propõe uma prática para o resgate da vitalidade. Kundalini, seu louco! Depois de meia hora você já está até a fim de escalar o Everest numa manhã de domingo. Cada caquinho desbotado das minhas paredes; os contornos esmaecidos da minha abóboda e os entalhes do meu altar são restaurados pelas mãos invisíveis de algum especialista dedicado e sábio.  Volto para casa com meu interior de igreja bar

Em defesa da lebre

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Destruída, devastada, desmontada, debulhada, demolida. O ano começa enquanto terminamos um ciclo intenso de aprendizados, memórias e bagagens: centenas de tralhas em várias dimensões, cores e tamanhos.  Duas casas em 1 ano e meio. Hemisfério Norte e Hemisfério Sul chacoalhando nos dois lados do cérebro. Sinapses em desintegração. Devo estar perdendo bilhões de neurônios para o cansaço em três, dois, um!  Impossível não pensar nas pessoas que habitam casas desorganizadas, atulhadas, desesperadas. Roupas e objetos confusos pelos cantos ou escondidos em gavetas e armários abarrotados. Tem gente que vive assim de boa, não precisa ser um acumulador, apenas um bagunçador crônico.  Mamãe era um deles. E talvez por ter dividido quarto com ela por tantos anos, influência de minha madrinha - espartana e estoica em todos os sentidos – ou por algum gene herdado das minhas tias maternas (portadoras de TOC por limpeza em graus variados), não suporto conviver com pendências. Sou

"A Idade da Razão"*

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A manhã chuvosa e fresca, horizonte plúmbeo, me fez voltar aos roteiros de White Plains.  Relembrei idas e vindas do Trader Joe’s, cruzando a esquina entre a Liberty e a Independence,  pilares fundamentais.  O impulso de parar nessa encruzilhada da vida era instintivo. Stop and see. Uma vez, desci do carro e tentei uma foto, mas o céu gris não ajudou na composição.  Saudade das planícies brancas quando estiveram alvas de neve, chantilly.  Falta que sinto das quatro estações a reger comportamentos, rotinas e paisagens diversos uns dos outros. A adaptação impera.  Os sábias e maritacas cantam na manhã candanga do planalto central. Os corvos crocitam no crepúsculo de Westchester. Me encantava a morbidez literata da ave de Poe, e a memória da revoada negra cobrindo o azul-nem-sempre-azul me faz suspirar...  Sou um ser de lua, uma loba: Lilith. A energia yin me torna mais límpida.  Não que abra mão dos dias de sol; do mar no verão. Só não precisava