Postagens

Mostrando postagens de junho, 2010

Vida campeira

Imagem
Cavala de flancos intensos, patas rebeldes, sem dono nem domação, rebentando espumas nesse galope, namora mais do que o amor, a sorte. Lya Luft Esse país sempre surpreende. E não apenas quando entrega o jogo das quartas de final para a Holanda. É de arrepiar o ecletismo do Brasil-mosaico. Num momento você pensa que está na Itália, comendo galeto da Colônia. Não o que encontramos aqui em Brasília, mas o verdadeiro, pequenino e tenro franguinho. Asinhas e coxinhas quase garnizés, acompanhadas de polenta suculenta, não esturricada. E de raddichio novinho, colhido na horta do fundo da casa. Cem quilômetros pra frente, já estamos em outra história. O que se vê são os Campos de Cima da Serra da tal Vacaria, que hoje poderia trocar de nome para Sojaria. O gado se foi, mas a tradição de criar cavalos crioulos fincou pé. Não tem monocultura que faça esses animais valentes saírem do coração dos gaúchos. Na minha volta ao mundo brasileiro em cinco dias, nunca imaginei que fosse pernoit

Rascante

Imagem
...Não se apresse não, que nada é pra já.  Amores serão sempre amáveis... Chico Buarque Às sete amanhece no Vale dos Vinhedos. Sinto nessa frase o potencial para um romance. “Olhai os lírios do campo”, “Floradas na Serra”, “Orgulho e Preconceito”... Pelo menos pronta para pegar uma tuberculose eu já estou, aqui fora, escrevendo em pé imersa em uma sensação térmica de grau negativo. Os dedos enrijecidos truncam o pensamento. Os arruaceiros quero-queros parecem ser os únicos acordados comigo. Então adentro o parreiral ressequido. É inverno. Tempo de refletir, não de “bloomir”. E sem que me dê conta, me transponho para um campo de concentração. Que nebulosas associações mentais uniram a bela vinícola à funesta comparação. Videiras Os primeiros empregados do lugar chegam para mais uma jornada. Faz diferença trabalhar nesse recanto especial ou logo se enjoa e nem se liga? A solidão do nazismo volta à carga. A trama irregular dos fios de arame, os galhos retorcidos das videiras secas

Degustar é preciso

Imagem
Nosso cérebro não cria aromas. O que existe é a memória olfativa do que a gente já experimentou. Jhonatan Marini,  enólogo da Casa Valduga Fascinante desvendar um Brasil que a gente não sabe que existe. A epopeia italiana de verdade, e não aquela máscara apresentada em novelas das oito. Rota das Vinícolas, Caminhos de Pedra, Vale dos Vinhedos. Bem podia se chamar Alameda da Gentileza ou Travessia da Cordialidade. Porque daquele estereótipo rude e espalhafatoso impingido aos italianos, nessas bandas não se vê rastro.  casa típica da região A simpatia e o bem atender não parecem ser truques lucrativos de marketing, mas um modo de ser e de estar da jovial e graciosa população das cidadezinhas que formam o circuito de uvas e vinhos do Rio Grande do Sul. Bento Gonçalves, Garibaldi, Pedro Bandeira, Carlos Barbosa, Farroupilha...   O vinho aqui é soberano. Por isso, o garçom me lançou um olhar consternado quando pedi uma coca-cola zero. Quando percebi, já era tarde demais para repara

“Audácia da pilombeta”

Por favor, me dê a sua mão, entre no meu cordão, venha participar Quando piso em flores, flores de todas as cores, vermelho-sangue, verde-oliva, azul colonial Me dá vontade de voar sobre o planeta, sem ter medo da careta, na cara do temporal Desembainho a minha espada cintilante, cravejada de brilhante, peixe-espada vou pro mar O amor me veste com o terno da beleza, e o saloon da natureza abre as portas pra eu dançar...” Zeca Baleiro Por que envelhecer nos deixa medrosos? Deveria ser exatamente o contrário. Por ter mais experiência, por ter vivido mais, a gente deveria saber que não precisa ter medo de viajar de avião, pois é o “transporte mais seguro do mundo”. Que os brinquedos dos parques de diversão não vão nos matar, a não ser que tenhamos um problema cardíaco desconhecido ou, se por pura falta de sorte, uma tragédia enguiçar o equipamento. Mas o medo se instala. Leviano e silencioso. Quando percebemos, já não fazemos nada das aventuras cheias de adrenalina que curtíamos a

Point of no return?

Minha convicção é de que somente a militância civilizatória da sociedade poderá nos levar a outro patamar de desenvolvimento, com justiça, respeito aos limites ambientais e aos direitos humanos. E de que o debate de ideias aberto, livre, diverso e democrático é o caminho que nos fará chegar lá . Marina Silva Um dia desses meu primo comentou: “Às vezes você me dá a impressão de que Brasília é um quintal. Vive esbarrando em ex-colegas, amigos de infância...Em Goiânia, que é bem menor, isso nunca acontece comigo”. Pois é, Brasília já foi um quintal. Era provinciana, diminuta, “sem nada pra fazer”, repleta de mato e vazios poeirentos. Um faroeste caboclo, sem dúvida. Hoje é um filme policial no qual rolam tiroteios diários. Ali, depois daquele muro de Berlim invisível que separa o Plano Piloto de todo o “resto”. Porque o Plano Piloto ainda pode ser chamado pelo seu apelido mais ácido: ilha da fantasia. Não sei ao certo por quanto tempo. E, paradoxalmente, ele continua pequeno. A “Fai