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Mostrando postagens de março, 2021

Outrora

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Cultivo amores por taperas, ruínas, escombros. O abandono das casas desabrigadas, antes plenas de algazarra. Ecoam cânticos ancestrais no que restou da nave de uma igreja de outrora. Outrora, prima-irmã da aurora. A melancolia que habita as paredes descascadas se confunde com a minha imagem. Reflexo da alma puída, remendada a cada desabamento.

Respiro do dia

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"Seu telefone irá tocar Em sua nova casa Que abriga agora a trilha Incluída nessa minha conversão / Eu só queria te contar Que eu fui lá fora E vi dois sóis num dia E a vida que ardia sem explicação" Uma botinha nos pés e muitas memórias na cabeça. Lembranças de caminhos percorridos no outono em Manhattan e também no interior do estado de Nova Iorque: privilégio que brasileiros não costumam desfrutar. Inúmeras vezes a estampa dela chamou a atenção de outras mulheres. Espantoso num lugar diverso como a Big Apple. Recordações das instigantes aulas no Westchester Community College. O respiro do dia na rotina da stayhomemommy. Parava o carro e seguia adiante pelo campus bem cuidado, quase impecável. Que ficava ao lado de um cemitério belíssimo, sereno. Aliás, tudo ali naquele condado era bom gosto e tranquilidade. A botinha estampada também transitou entre lápides, anjos e escrituras. Prazer indelével sair de uma aula sobre Budismo e Cristianismo: semelhanças e diferenças e camin

Fase arbórea

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Para Ana Cristina de Aguiar Sob os auspícios de Joana, a andarilha, aliás, sumida, cadê a cabeleira branca a despontar pelos gramados verdes da cidade como um dente de leão em movimento? - me lancei por trajetos nunca dantes percorridos a pé. Brasília na pandemia tem alternado momentos da década de 1970 e caos apocalipse zumbi da Era de Aquarius, que chegou quebrando a banca. Quem diria que estaria doendo na carne um reality Stranger Things? Arrego de fazer parte desse upside down world. Peço para sair, capitão Nascimento. Mas não deveria reclamar. Admito não ter o legítimo lugar de fala, pois o meu campo de observação é o Plano Piloto, área privilegiada da capital da República, bastante arborizada, calçada e com pouca densidade populacional. Experimentar um toque de recolher nessas condições é infinitamente mais razoável. O regime semiaberto me permite descer e caminhar por um parque urbano dos mais bucólicos. Dá para não surtar, ao menos por enquanto. Ainda mais agora, quando as árvo

Brevidades

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Alento plumas ao vento. Alva aparição semeia paz e delicadeza seres de boa naturaleza. Parábolas carochinhas fábulas lendas urbanas mitologias  contos de horror de escárnio fantasias fetiches fantoches alegorias: histórias para gado dormir. Tempo sem senso denso longo tectônico e invertido caótico 24 horas eternas Concretude dos minutos da passagem sólida tensa Tempo vale ouro  e agora pesa como tal.

Romã(tico)

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O pé de camélia deu dois suspiros e depois morreu. No lugar dele, surgiu, encantada, uma romãzeira. Mistério. Ali na frente da casa, pega o sol da tarde, denso, alaranjado. Clima quente e seco ideal para a fruta de origem iraniana fazer morada. Haveria algum passarinho viajado com a semente no bico? A camélia renascera em outro corpo e com novos propósitos? Enigma.  Importante frisar que o pé de romã cresceu sadio e floresce o ano todo. Os frutos rosados pendem quase até o chão, não importa se inverno ou se verão. E, assim, a romãzeira não desejada, bastarda, tornou-se o talismã da casa. Oferta, aos que ali se apresentam, fertilidade e abundância.   Guardiãs, conservam a resiliência dos povos áridos. Escritas cuneiformes de três mil anos já rendiam loas às romãs, irmãs do deserto.  Anciãs por natureza, detém a cura para males do corpo e da alma.  A maçã com sementes, pequeno porta-joias, quando aberto, reluz 613 gemas de granada. Granada, cidade espanhola-moura ladeada por romãzeiras.