Postagens

Mostrando postagens de 2018

Sentimentos russos

Imagem
A primeira vez que ouvi Legião foi na voz de um paquera chamado Rodrigo, que não se cansava de cantarolar “Por Enquanto”. O LP “Dois” escutei por inteiro na casa do Murilo, meu namorado por três anos, que amava “Andrea Dória”. Aquele som me comoveu tanto! “Acrilic on Canvas”, “Índios”... Virei fã, mas mamãe não me deixou ir ao famoso show catastrófico do estádio (os sextos sentidos maternais).  “Teatro dos Vampiros” me lembra a melhor amiga que tive durante toda a adolescência e calourice na UnB: Dani (que também me mostrou tudo dos Beatles).  “Eu era um Lobisomem Juvenil” me recorda um poeminha rabiscado pelo colega Carlos de Lannoy na disciplina Leitura e Produção de Textos, da faculdade de Comunicação. E “Sereníssima” é uma das minhas preferidas, mas quase ninguém canta. Quando Renato Russo morreu, havia acabado de ser operada para me livrar da miopia. Bernardo Mello entrou no quarto escuro, ressabiado, para me dar a notícia. Resultado: chorei mont

Morfeu não mora mais aqui

Imagem
Tenho um fuso horário para chamar de meu: acordar, quase todas as madrugadas, por volta das 3h30. Raras são as vezes que, sem medicação, consigo despertar perto das 6h da manhã. Nunca precisei de despertador, nem na adolescência. Também, nunca fui boêmia. Não sei se justo pelo fato de me constatar pouco afeita aos braços de Morfeu, se porque nunca gostei de beber ou pela junção de ambos. Sou um número quatro do Eneagrama (entendidos entenderão e quem não é, por gentileza, faça uma pesquisa básica na Googleland). Sendo assim, meu pecado de raiz é a inveja. Sim, invejo demais quem dorme como um anjo (olha eu aí falando deles novamente). Dormir bem é celestial! Hoje, que consegui vencer a barreira da insônia livre de soníferos e abri os olhos na aurora, me senti realizada. São pequenas e raras vitórias, porém, são bem-vindas. Passo o dia com uma energia incrível. Imagino se fosse boa de cama. Mataria um leão com as mãos, diariamente. Mas pra quê matar o leão? Ditado infe

Bem-amados

Imagem
De onde vem minha fixação com os anjos, não sei. Peraí, acho que sei: quando encontrei um suvenir de anjo da guarda numa lojinha de igreja, grávida do primogênito. De lá para cá, não, peraí, na sala do apê já havia um anjo esculpido em madeira por um artesão de mão cheia lá do Piauí, antes mesmo de pensar em ter filho. Peraí...  A palavra Anjo é derivada do latim, angelus, e do grego, angelos, e significa “mensageiro”. Chamado, nos primórdios da Grécia, de “daimones” eram espécies de espíritos da condição humana, isto é, personificações de vários estados da existência: emoções, ações e moralidade. Os daimones de moralidade foram divididos em Agathoi (o bem, virtude) e KaKoi (o ruim, vícios).  Depois, em algum momento, deve ter rolado uma diáspora canônica e os anjos do mal viraram os demônios e os anjos do bem viraram os anjinhos fofos, de cabelinhos encaracolados e pele alva, bem arianos como são quase todas as representações eurocêntricas da iconografia religiosa o

Aquosa

Imagem
Chove Chuvinha Dilui Distende Transparece Enxágue Aguaceiro Liquefaz Translúcida Transborda Limo Lodo Mofo Líquens Lava A cena O cume Arredonda Cavuca O chão Cristalina Água Asseia A alma Desnodoa O cerne Alveja Dissipa O Não Aclara Âmago Solução

Estamparia curativa

Imagem
Estou sentindo falta da Poli, Poliana, minha gentil e super profissional manicure e podóloga. Uma menina que batalha, que tem sonhos e voa. Agora mesmo, está experimentando uma vida irlandesa. Foi aprender inglês e espiar o velho mundo. Não sei se volta pra cá, um mundinho geologicamente novo, mas ideologicamente arcaico. Vou entender se ela quiser se sentir cidadã todos os dias. Sem medo de assalto, sem engarrafamentos exasperantes, sem falta de civilidade. Uma boa manicure na Europa é um tesouro disputado! Habilidade valorizada. A ausência de Poli perto de casa me fez rebolar. Conheci Stefane, a manicure que trabalha no subsolo do Tribunal. Ela também me parece uma menina bacana, com ideias muito próprias, mas com uma certa sombra no olhar que reconheci imediatamente. Semana passada descobri que ela fora atropelada na infância enquanto aguardava educadamente na calçada para atravessar a rua (a selvageria do Brasil da miséria humana). Passou meses, quase um ano,

Basta um!

Imagem
Ó céus, o Natal! É novembro e eu sobrevivo. Não quero montar árvore, não quero comprar presente, tô amuada. Logo eu, uma entusiasta das festas de fim de ano.  A prima de São Paulo alerta: “essa energia atual é pesada”. Pió que é. Sinto a atração irresistível do buraco-negro querendo sugar toda a luz. “Tudo demorando em ser tão ruim”, desde que o samba é samba, desde que o país é país.  O Brasil é uma história azeda desde que eu nasci. A gente releva, a gente disfarça, a gente sublima, a gente finge que não vê, a gente assiste à série finlandesa cheia de neve, a gente viaja, a gente mora fora, a gente tem filho e espera que o futuro seja melhor, a gente entorpece, mas volta a chorar quando a personagem da reportagem ainda mora numa tapera, a verdadeira casa “na Rua dos Bobos, número zero”: sem esgoto, sem e-le-tri-ci-da-de, porém almejando “uma aguinha gelada” para tomar.  Há 40 anos vejo reportagens do Fantástico com os mesmos miseráveis do sertão nordestino. Os

Campânula

Imagem
para Karla, de Sampa São dez as badaladas da noite. Elas singram o caminho aéreo e entram enviesadas pela janela, onde me alcançam, ainda que haja ruídos de pneu no asfalto e da TV ligada no telejornal.  Desligo da capital modernista e me transporto para alguma vila colonial baseada nas montanhas. É exatamente o sentimento que o badalo oferta: a cumplicidade com um passado de existir compassado; de temores metafísicos, com odor de velas e pecado.  Ao menos ainda existem as músicas que atravessam os séculos enquanto aguardamos a invenção da máquina do tempo. Creio que nunca iria ao futuro, que sempre se mostra mais trágico. Ao ontem, no entanto, a atração tem tom sépia, conforto para os olhos cansados de tantas telas brilhantes.  Os novíssimos retrocessos que ameaçam vingar nos espreitam, “dementadores” de esperanças. À frente, apenas o buraco negro à caça da via Láctea. Aciono o modo paralisia. Nem escrever atrai quando as livrarias fecham e pensamentos o

Power and Flower

Imagem
“Eu vou torcer pela paz, pelo amor, pela alegria Eu vou torcer pelo sorriso, pela dignidade Pela amizade, pelo céu azul Eu vou torcer pela tolerância, pela natureza Pelos meninos, pelas meninas Pelas diferenças, pela compreensão Eu vou torcer pela pista cheia!” (Fernanda Abreu) Quem me dera ver o Eduardo Jorge no segundo turno debatendo ideias, valores de paz e bem com aquele jeitão pós-hippie. A vida parecendo um campo florido de girassóis, não, de flores silvestres. Marina e sua voz de taboquinha rachada peitando o adversário ogro com dignidade estridente: “devo lembrar que isso é antidemocrático. Eu vou governar para todos, o diálogo é a arma dos que buscam a evolução”.  Toda sociedade estaria mais vegana do que carnívora. Aquela aura zen que até dá nos nervos da gente, meio pálida, doentinha, mas que produz menos bílis, temos de admitir.  Os eleitores reprimiriam seus instintos básicos primitivos como sempre se esforçaram para fazer apesar dos

#Truenews

Imagem
Para mim, todos que não se posicionaram no primeiro turno em prol de uma terceira via queriam - conscientemente ou não - que Haddad perdesse de lavada para Bolsonaro. Taí uma vingança arriscada. Mas temos que convir que a lava-jato, com sua postura mais à direita (Sérgio Moro é claramente conservador), reforçou o antipetismo, que acabou se confundindo com políticas sociais na cabeça de boa parte dos brasileiros.  Agora, ser a favor dos direitos humanos, de um Estado social-democrata, é ser petista, feminazi e “do lado de bandido”.  O povo preparou uma sopa indigesta. E vamos ter de engolir! Bolsonaro será eleito e vamos assistir, de novo, milhões de eleitores decepcionados com mais um presidente tão fake quanto as notícias disseminadas por ele e seus correligionários.

Personalíssima

Imagem
Uma boa amiga me manda essa mensagem ontem: “Afie os dedos no Facebook. Depois que você começou a extravasar nas mídias sociais você ficou muito mais tolerante. Não fica com a necessidade de expor sua opinião no trabalho”. Morri de rir pensando que talvez ela esteja certa. Ou sejam os mais de dez anos de prática de yoga; quem sabe o processo de envelhecimento ou ainda os anos no exterior, aprendendo a lidar com sofrimento e solidão. De fato, o local de trabalho não é espaço para falar o que se pensa, mas, sim dos sonsos: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Ao menos no ambiente do serviço público, ter “personalidade” não costuma te levar a lugar algum. E a boa amiga sabe o quanto fui desajuizada nesses anos todos, custando-me uma carreira pífia na Administração Pública. Mas aqui na minha timeline, não posso deixar de ser quem eu sou. Minhas ideias podem incomodar, irritar e até chocar. Tenho consciência de que sou às vezes radical e crua, mas não posso co

Pesar

Imagem
Minha seção eleitoral é a mesma desde a primeira vez em que votei, aos 18 anos: Escola Classe da 316 Sul. Geralmente vou de bike, mas devido à cirurgia, resolvi ir a pé. Tomás me fez companhia pelas 13 quadras. E que bom estar com ele, tão sereno, atento, ouvido aberto a encurtar distâncias. Apreciávamos as paisagens que a caminhada nos oferecia... Debatemos séries, filmes, democracia. Mostrei minha colinha para ele.  - A gente consegue perceber que o país está virando uma ditadura pra sair daqui? - Acho que sim, filho, mas vamos torcer para que não retrocedamos a esse ponto.   Entrei na fila da seção 147, sempre demorada, cheia de velhinhos passando à minha frente. Ao redor, fascistas disfarçados de patriotas com camisetas no tom amarelo ou da seleção brasileira.  Foi me dando uma angústia danada. Um desprazer. E desesperança acima de tudo. A elite econômica e cultural do país apostando numa besta quadrada. Já tivemos pretensões mais idealistas e al

Eletrodomesticados

Imagem
Nesses dias piauienses em Brasília (sem nenhuma conotação pejorativa, apenas constatação, pois Teresina é o lugar mais quente que já visitei, tirando o Death Valley), resgatei um estranho e esquecido objeto do fundo do armário na cozinha: o espremedor automático de laranjas Arno.  Era noite, o calor sufocava apesar de estarmos vedados dentro do quarto com o ar-condicionado em 17 graus. Deu uma vontade louca de tomar um suco gelado. Uma mistura deliciosa de frutas com o Marieta Café e as tendas de vitaminas das ruas cariocas sabem oferecer.  Lembrei dele, coitado, tão abandonadinho! Subaproveitado, relegado ao ostracismo (qualquer semelhança com quem vos escreve é bastante identificável) da rotina corrida. Incrível é que ele ainda dá um caldo (também me identifico)!  Foi o primeiro eletrodoméstico que Bernardo e eu compramos em 1992. Ele e a máquina de lavar roupas Brastemp. Não me perguntem porquê. O que passa na cabeça de jovens apaixonados geralmente foge à compr

Mermão

Imagem
Cosme e Damião: saudade de montão desse tempo bão. Brasília, 27 de setembro na década de 70, tinha cara de subúrbio do Rio de Janeiro. Era um pouco do Méier com Lins Vasconcelos, onde passava as férias de verão. Mas no mês da primavera, a tradição carioca de distribuir balinhas e doces esquisitos como aquele de abóbora em forma de coração laranja, pegava o ônibus e aportava na nova capital federal.  O Cosme e Damião tinha a cara e o gosto da irmã da minha madrinha, tia Lizete, que vinha todos os anos passar uma temporada brasiliense. Com ela, trazia o costume de rechear de guloseimas os saquinhos de papel estampado com a imagem dos santos gêmeos. Suas mãos magras entregavam a alegria às crianças da 709 sul.  Criança daquela época era menos opulenta. A gente se contentava com o pouco que a vida gastronômica nos dava. Balinha chita, soft, erlan, maria mole com gosto de nada... Quem se lembra daquele pirulito-chupeta vermelho e cascorento que arrebentava a boca irresist

Elevação espiritual

Imagem
Que seria de nós sem os elevadores nesses tempos de verticalidades? Meio de transporte que bota medo em muita gente e tem participação especial em tantas passagens icônicas do cinema (depois de Vestida para Matar, a abertura automática de portas nunca mais foi a mesma). E aquele filme chamado Demônio, do excêntrico Shyamalan? Se você é claustrofóbico, não veja! Mas os ascensores também propiciam encontros inusitados e poéticos como o que eu tive ontem, chegando em casa (Grata, Mr. Otis!). O elevador de serviço fora de serviço levou um rapaz a esperar na entrada social portando um enorme tapete enrolado e embalado. Devia se entrega da lavanderia. Geralmente, vou de escada ao terceiro andar, entretanto puxava a mochila escolar de Romulito, que pesa uns 550 quilos. Por isso, passei a aguardar junto com o moço pelo elevador que agora sempre vive no sexto andar, onde a família de Amina, a muçulmana linda, mora. (Creio que estão trazendo todos os parentes do Quênia pa

Mãecolia

Imagem
Um dia teremos saudades das cenas que hoje nos irritam. Levar lancheira que o filho esqueceu à escola umas três vezes por mês; apelar diariamente para o grito: saia do banho! Guarde seu material! Coloque a cueca pra lavar!  Um dia encontraremos uma velha no elevador e você, atrasada e cansada arrastando o pirralho andar abaixo, se dará conta: “ah, como era bom o tempo que eu tinha alguém para levar para a escola”. Sim, testemunho espontâneo comprova: sente-se saudades dessas insanidades.  Mas mãe é pura insensatez. É não suportar ver o filho falhar na posição ingratíssima e solitária de goleiro. Instala-se o medo das defesas custarem ao garoto um cotovelo, dedos quebrados. “Como vai tocar clarineta se ficar com um problema de funcionalidade como o meu”? A mãe sai de fininho e passeia pelas redondezas durante o jogo para não enfartar de “e se...”  Terminamos um livro que estamos gostando e dá aquela melancolia. Imagina então terminar um projeto de longo praz

Mozart e a Princesa

Imagem
Descobriu o câncer e morreu três meses depois. Tsunami. Avalanche. Terremoto. Pábum! Não tinha filhos, herdeiros naturais de qualquer consanguinidade, por isso fez um testamento em nome da dupla de rebentos da melhor amiga.  - Bom-dia, é a senhora Croê quem está falando?  - Sim, é Chloé, responde a mulher revirando os olhos. Quem gostaria?  - Aqui é da parte da dona Sílvia. Precisamos entregar o piano que ela comprou.  - Mas eu já recebi o piano. Deve haver algum engano.  - Não tem não, a nota fiscal diz...  Como assim? Outro piano? A notícia pegou os irmãos-herdeiros de surpresa. A moribunda efetuara a compra apenas um mês antes de suspirar pela última vez.  O irmão Claude (os pais amavam o savoir-fare francês), morador de outro estado com vida solteira, não tinha espaço para tamanho imbróglio. À primogênita, que inaugurara a bela e espaçosa casa há pouco mais de um ano e já recebera o primeiro piano, coube a tarefa de se virar com a enco

Pedaços de mim

Imagem
“Além de um livro, “For Freddie”, ela também prepara gravações, anotações e separou até mesmo seu perfume, para que o filho se lembre da letra, da voz e do cheiro da mãe”. Lendo uma matéria sobre a apresentadora da BBC, Rachel Brand, que está morrendo em decorrência do câncer de mama, atesto o quanto esses pequenos fragmentos das pessoas mais importantes da vida da gente são fundamentais para compreender a nossa própria essência.  Meu pai também foi devastado pelo câncer aos 50 anos. Ele morreu em janeiro de 1972. Eu faria 1 ano no mês seguinte. Por motivos vários, pouco da memória dele foi preservada para que a filha caçula montasse o quebra-cabeça paterno. Semana passada, tia-irmã Leila Brandão me diz que, organizando o antigo arquivo da Delegacia do Trabalho, havia encontrado a pasta funcional de papai, que foi fiscal daquele ministério.  Corri pra lá em busca de qualquer traço do homem responsável pela metade do que sou (inclusive no gosto pela poesia e

Frete Errado

Imagem
Ainda processando tudo que vi e ouvi na entrevista do Boçalnaro. A primeira vez tentando entender uma personagem bizonha é inesquecível. Por que será que o Brasil gosta de gente caricata? Deve ter começado lá com a Carlota Joaquina, sei lá. Se relacionarmos todas as personas esquisitas eleitas pelos brasileiros ao longo da história, veremos que realmente não nos levamos a sério. O tiro no pé é uma prática recorrente.  Mas agora arrisco que entendo o “efeito Bolsonaro”. Com certo alívio, o que disse para a amiga Lara talvez se confirme: o povão não está com ele. Quem admira e vota em Bolsonaro é classe média deslumbrada com Miami e Disney, os apaixonados pelos EUA (como o próprio). Quem segue o candidato do PSL é quem odeia Lula muito antes da Lava-Jato. É aquele brasileiro que nunca se conformou por um operário com pouco estudo ter chegado à presidência da República. O bordão “Eu odeio o PT” fala direto ao coração dessas pessoas recalcadas pela ascenção dos mais pobres

Despeitada com muito orgulho, com muito amor!

Imagem
A menina que pensou em ser médica na adolescência, evidentemente aprecia séries sobre o tema. House foi brilhante até a quarta, quinta temporadas. ER, mais antiga, também via. Grey’s Anatomy foi massa no início, mas se transformou em novelão e Chicago Med carece de personagens cativantes porque os atores são fracos.  Só que ser uma paciente da vida real já é outra história. Aqueles holofotes sobre o seu corpo, todos os aparelhos bipando ao seu redor...  Primeira parte do ritual foi receber as marcações. Me senti como uma representante do povo maori que tanto estudei nas aulas de Antropologia. Os seios ganhando linhas enigmáticas ao estilo cerâmica marajoara ou pintura timbalada.  Dei um suspiro de cansaço e dor nas costas depois do dia exaustivo para chegar ao consultório em Goiânia. O cirurgião pensou que eu fosse desmaiar: - Tudo bem? - Tudo, apenas exausta. - Tô perguntando porque tive uma paciente que desmaiou quando comecei a fazer isso. Eu não vou

Pavio curto

Imagem
Aí seu carro resolve arriar a bateria no centro de Goiânia, hora do almoço, sol Pedro Ludovico na cabeça, 15 dias de convalescência...  O maridones aciona o socorro lá de Brasília. Você foge para o ar-condicionado da drogaria Pacheco bem em frente e espera meia hora com a barriga roncando.  Chega o Sr. Leandro, cara de poucos amigos. A gente se abriga à sombra do totem da loja. Um velhinho vem e se refugia também. O capiau acende um cigarro.  Sr. Leandro passa a encarar o velhote com sangue nos olhos. Fico sem entender o porquê daquele ódio.  A carona do velho chega. Sr. Leandro se explica: - Acende esse cigarro fedido bem aqui na cara da gente! Eu sou ex-fumante, mas nunca fumei perto de ninguém. É que eu tenho XYZK curto...  - O senhor tem o quê? Pavio curto, é isso? - É, sou impaciente. Sou mineiro misturado com paulista e dizem que a gente fica assim... Deus é mais! Agora tá explicado o jeitim da sogra... ;)

Trevo de quatro folhas

Imagem
Textão! Aliás, quando não escrevo textão? Sou uma obsoleta no mundo do Twitter... No fim do ano passado, ainda em NY, aviei um par de lentes multifocais que ficaram perfeitos numa armação super descolada da Salvatore Ferragamo. Tudo com descontos incríveis do plano de saúde que tínhamos por lá.  Voltei para o Brasil e a danada da armação começou a me incomodar loucamente. Incompatibilidade entre ela e as minhas orelhas de abano.  Com dor no coração, retirei as multifocais zeradinhas da armação e comecei uma longa peregrinação pelas óticas a fim de não perder todo o meu investimento.  A ideia era encontrar outra armação que comportasse as lentes. Afinal, as multifocais são bem caras e precisas. Não podem ser “recortadas” depois de prontas. Há meses me sentia como os encarregados do príncipe tentando encontrar o pé que vestisse o sapatinho de cristal... Hoje, entrei nessa loja que acabou de inaugurar na esquina da 304 Sul (AB Optik). Já havia perdid

Resoluta

Imagem
Descendo no elevador para pegar o Uber rumo ao job, encontro Amina, a muçulmana linda. Lembram-se dela? Não? Tenho um texto no blog chamado “Olho Mágico". Corram lá. De livro grosso debaixo do braço e seu indefectível véu colorido, a jovem queniana é pura simpatia. E faz questão de me cumprimentar com beijinhos. - So, how is life? - I am trying to finish high school... - Are you already thinking about a career? - Yeah.. - What do you want to do? - I want to be a pilot! E abre um radiante e alvíssimo sorriso, pleno de feminilidade e resolução. Jamais, em zilhões de anos-luz, imaginaria tal resposta! - Wow! You are a brave woman! I don’t like to fly! Congratulations!!! E ela parte sorrindo enquanto seguimos em rumos diferentes para a vida lá fora. Eis o mundo que eu quero, no qual as jovens mulheres tomem as rédeas dos próprios destinos independentemente de nacionalidade ou religião. #elenunca#elenão!

Versículo das obsessões

Imagem
É TOC descobrir que falta uma pedrinha mínima no anel (perdida em meio a outras tantas pedrinhas) e, por isso, tirar do dedo e guardar para levar ao conserto?  É TOC apagar todas as mensagens recebidas pelo zap?  É TOC manter a lixeira dos e-mails sempre limpas?  É TOC não gostar de coisas espalhadas pelo chão?  É TOC não gostar de pendências?  É TOC comer cebolas cruas todos os dias?  É TOC ter fixação por nomes esquisitos?  É TOC ser rápida para escrever e devagar para andar?  É TOC lembrar de datas de aniversário de quem, há muito, já não faz parte da sua vida?  É TOC não admitir palavras repetidas no texto e sair caçando sinônimos?  É TOC acreditar em conexões telúricas?  É TOC usar agendas de papel no século 21?  É TOC não tolerar mensagens de vídeo no século 21?  É TOC não curtir biografias?  É TOC cunhar apelidos para todos os amigos?  É TOC ter predileção por fotos de árvores?  É TOC forçar a barra par