Ano Letivo: um debate

Segunda-feira, quase fevereiro. Muitas crianças começam suas batalhas escolares hoje. Meus filhos, só na semana que vem, pois são estudantes de escola pública. Abro minha caixa de entrada e me deparo com um debate quente entre grandes amigas sobre a escola e o ensino no Brasil...

O assunto é mais do que pertinente. Ainda mais com o reinício do ano letivo. Por isso, decidi postar aqui as mensagens trocadas. Tudo começou com uma mensagem da Mô que repassou uma história sobre a “evolução” da Educação no Brasil. Aí a Ana Claudia respondeu assim:

Engraçado, Mônica, ontem mesmo estava falando mais ou menos sobre o assunto, só que com a diferença de que achava que nossos filhos saberiam mais do que a gente (já que estão tendo tantas disciplinas diferentes, com tão pouca idade!).

Outro dia desses, estava em uma loja, e a blusa que comprei custava R$ 230,00. A vendedora disse que, se eu pagasse com débito, teria 5% de desconto. Imediatamente respondi "nossa, descontão esse, R$ 11,50". Ela então me perguntou se eu era professora de matemática, já que calculei de cabeça o desconto. Eu disse a ela que não, que detestava matemática na minha época de escola, mas que o cálculo de percentual não era difícil, se ela considerasse que 10% de R$ 230,00 eram R$ 23,00, e aí era só dividir por dois...

Ela ficou me olhando com uma cara incompreensível, e eu deixei para lá. Hoje, se não houver uma calculadora, ninguém sabe fazer contas. No dia em que o mundo acabar, e com ele a eletricidade, estaremos (menos nós, que sabemos fazer contas!) todos perdidos! Bjs, Ana

A Má entrou na roda e escreveu:

Sem dúvida que há um declínio que vai bem por aí, mas eu também me pergunto quando é que a escola vai se adaptar aos novos tempos e deixar de ser uma escola que é só quadrada num mundo totalmente multifacetado.

Por outro lado, no nosso país, onde os professores ganham o que ganham e os jogadores de futebol ganham salários astronômicos (o que revela o que a sociedade - nós - realmente valoriza), fica difícil mudar tudo isso.

Ok, Ana, você foi veloz! Palmas pro Carmen Sallés e pro Professor Valter!!!! E pra você, lógico!!!!
Beijos.

A Ana rebateu:

Então, mas será que a escola teria mesmo que atender a todas as necessidades da criança? Será que o tal mundo multifacetado deveria ser mostrado unicamente pela escola, ou cabe aos pais essa tarefa (que a preguiça não nos deixe dizer que não!)? Eu digo isso porque o mundo, na nossa época de escola, estava iniciando grandes mudanças, e nem por isso a escola "quadrada" nos deixou fora dele. Ou seja, por outros caminhos as visões diversas foram chegando até nós.

O que eu quero dizer é que eu tenho muita desconfiança do ensino voltado às tais "visões multifacetadas" (gostei da expressão, Marisa!), por ser uma pessoa conservadora (imaginem, vocês nunca desconfiaram!). Preferia que as coisas ficassem como estavam, pois aí teríamos um maior controle sobre o que estaria acontecendo com os nossos filhos, principalmente com a tal evolução do ensino (que pode, acreditem, ser para pior...). Bjs, Ana Cláudia.

Má continou:

Mas o que eu quero dizer é que a escola foi boa para nós, eu, você, Mônica, Mário, Luciana e outros que gostávamos do que estávamos aprendendo ou que gostávamos da disciplina ou que gostávamos de ter quem nos dissesse o que fazer ou, enfim, que encontramos naquele modelo algo que era a nossa cara.

Porém muito mais da metade (a Rúbia,a Ana Luísa, a Roseane e uma galera que a gente desconhece) não encontrou nada que despertasse neles algo de familiar, e continua não despertando num monte de gente.

Eu vejo os livros hoje e continuo gostando de muita coisa, mas não me pergunte o motivo, por que se meus filhos me perguntarem para que precisam daquilo dali eu não sei responder. Enfim, acho que existe um esforço louvável para encontrar um caminho, mas a estrutura se mantém, e o mundo é outro, bem mais complexo e interessante, eu realmente não sei se a escola vai conseguir acompanhar isso.

Acho que vai continuar excluindo muita gente que é boa, e aqui vai excluir muita gente que é boa, mas que não vai descobrir isso nunca. Me desanima um pouco isso, e sem contar que a população mesmo, que não somos nós, não só não frequenta essa escola que eu estou citando e criticando, como em casa não encontra nenhuma similaridade com o que vê nos livros, não tem como estudar e não estuda mesmo, é só o que a professora faz na sala, e abençoada professora!

Vou mandar depois uma propaganda do iphone sobre o modelo escolar atual que tem uma crítica muito boa (isso porque só entendi a metade...). Se vocês tiverem paciência de ver, porque é meio compridinho...

Beijos e boa semana, afinal, já passamos da pior idade escolar... :)

Marisa.

E eu atravessei o samba:

Meninas animadas,
ui, começar a segunda-feira batendo ponto eletrônico e discutindo os problemas estruturais da Educação é punk, hein!!!:) Mas gostei de ver - e ler - o debate.

Ana Cláudia, jamais faria tal conta, mesmo de porcentagem tão básica. Congratulations!! Sou péssima em Matemática. Só sei a tabuada, somar, diminuir e olhe lá.:) Sinto falta de saber matemática. É crucial para se ter um raciocínio mais pautado na praticidade. Vejo agora na reforma do meu apartamento: não entendo metade das plantas e dos cálculos que a arquiteta e o Bernardo tratam com tanta naturalidade. É triste. Espero que os meus filhos saibam mais matemática. Mas se depender da escola, isso não vai acontecer.

A formação do professor é fraquíssima. A verdade é essa. E a escola é o professor. A verdade é essa. Não interessa muito o método, a forma, o estilo. O professor tem de ser bom. Tem de ter boa formação. Tem de escolher ser professor porque tem vocação e não porque não conseguiu fazer "mais nada" da vida. E no Brasil, como disse a Marisa, ser professor é ser ridicularizado todos os dias. Meu marido é professor, minha cunhada é professora. Por vocação, por amor. Mas nem por isso estão livres de ser vistos com olhos de "coitados, vocês são professores, é?"

Enquanto o país se portar assim em relação aos professores, não vamos chegar nem perto de alguma civilidade. E de uma sociedade mais justa. Afinal, só a educação nivela as pessoas num patamar mais digno.

Eu nem discuto essa história de escola multifacetada porque a gente não sabe nem fazer uma escola decente nos moldes tradicionais, quem dirá uma escola pós-moderna. Os pais querem saber o que a escola oferece de infraestrutura, de aulas extracurriculares, disso, daquilo, do método de ensino, mas vocês perguntaram na escola de seus filhos qual é o salário do professor? Que tipo de reciclagem eles fazem anualmente? Qual é a formação deles? Em que tipo de faculdade estudaram? Provavelmente não. Nossa sociedade não valoriza o magistério. Não valoriza a importância de um professor como mestre, exemplo, reservatório de experiências e sabedoria.

Então, a escola contrata quem vale menos (porque quer lucrar, é claro). E não tá nem aí se a pessoa tem vocação, se tem didática, se tem conteúdo, se tem postura digna e exemplar. E nossos filhos são "ensinados" por essas pessoas desmotivadas, despreparadas, "descabeladas" e no limite do stress e da exaustão, pois trabalham muito e ganham pouco.

Para mim, o debate da Educação só vai ser válido e produtivo quando pararmos para discutir a figura do professor. Se aprendi a redigir e interpretar um texto como poucas pessoas que eu conheço é porque tive, sorte minha e dos meus colegas de classe à época, excelentes professoras de Português. Nada sei de matemática porque o ensino desta matéria foi fraquíssimo, com várias brechas, durante a minha vida escolar.

Por falar nisso, o ensino de matemática é um buraco  negro na Educação Brasileira, pois quem quer ser matemático ou físico para ganhar a merda que ganham? Uma graduação puxada, difícil, com poucas chances de boa colocação no mercado de trabalho.

Enquanto não valorizarmos o professor de fato e de direito, não adianta fazer propaganda para incentivar os jovens a seguir as carreiras de magistério. Ninguém quer fazer Biologia, Física, Matemática, Letras. Pra quê? Para ser um pária na sociedade que valoriza modelos, jogadores de futebol, advogados (ô praga!), e os bat engenheiros e médicos?

E assim vamos seguir nessa sociedade desigual e perversa. Na qual o filho da minha empregada, de 14 anos, não foi capaz de entender as regras do jogo Banco Imobiliário que eu dei para ele de presente de Natal. Ou da massagista que me disse que não sabia como colocar uma carta no correio... 27 anos e não tinha a menor ideia de como colocar uma carta no Correio. Tipo: "onde escrevo o quê?"

Analfabetos funcionais aos milhões, sem a menor chance de mudar o destino de eternos subalternos.

Um abraço (obrigada por já me dar um texto de hoje para o blog. Well, vou postar o debate inteiro, pois é bastante válido e bastante bom, dado o nível das debatedoras.:))

Beijocas,

Lu ou Loo.

Comentários

  1. Oi Luciana,

    Pois é, o debate está muito interessante... Com certeza, o ponto central é o professor, nada mais. De nada adianta comprar computadores para as crianças da escola pública, se elas nem sabem direito escrever ou contar, ou mesmo pesquisar alguma coisa na internet (pois até para usar o google é preciso saber de onde se partirá...).

    E outro dia desses, em uma roda de amigos (a Mônica estava presente, pode até se lembrar), estávamos discutindo sobre a possibilidade de futuro dos nossos filhos, e um dos amigos (para variar, formado em Direito) disse que não aceitaria de jeito nenhum que um de seus filhos dissesse que queria ser professor da Fundação... Eu fiquei deprimida naquele exato momento. Afinal, minha mãe é professora, e eu até quis, em um momento da vida, ser professora (desisti quando me imaginei na sala de aula com um bando de adolescentes classe média mal-educados).

    Após muita falação (nessa conversa citada com os amigos), ficou quase que implícito que o melhor seria fazer Direito mesmo... Caramba! E aí, você, em sua ótima resposta, comenta sobre os advogados: "ô praga!"... Gente, eu escolhi o Direito porque amo o que faço, mas o que vejo são as pessoas escolherem a profissão pelo que ela tem a oferecer, ou seja, bons empregos e ótimos salários.

    E o que se vê hoje, no Direito, nas carreiras jurídicas, é a falsa utilização do Direito, a serviço do poder, ou seja, ele muda conforme os interesses dominantes, e não é aplicado como previsto na extensa doutrina que temos à disposição, resultado da evolução do raciocínio ao longo dos anos.

    Então, quando alguém me diz que vai fazer Direito, eu acho uma tremenda perda de tempo, tanto para o estudante, quanto para a sociedade. Afinal, para quê? Para ganhar mais? Triste mesmo. Bjs a todas, Ana Cláudia.

    P.S.: na Veja da semana passada, em entrevista, o Min. Peluso disse que a solução para a morosidade no Judiciário é a aprovação de uma PEC por meio da qual os recursos ao STJ e ao STF não tenham "efeito suspensivo", ou seja, quando uma pessoa, condenada, recorra para lá, seja imediatamente obrigada a cumprir a pena imposta em segunda instância (pelos Tribunais), o que significa que ela tenha que se recolher a prisão, se assim previsto na sentença e no acórdão. Ele se esqueceu que, pela lei dos recursos aos Tribunais Superiores (não me lembro o número da lei), isso já é previsto!!! E o pior, há alguns anos atrás, o entendimento do STF era justamente este, de que os recursos que chegavam lá não tinham o tal efeito suspensivo, então o cara recorria, mas tinha que se recolher à prisão. Só que com essa enxurrada de Ministros nomeados pelo lula, tão "garantistas" (leia-se defensores dos direitos dos réus), o que se foi entendendo é que teriam que aguardar o julgamento do recurso até o final, para então serem presos. Ou seja, se há lei, que deve ser aplicada, para que uma emenda constitucional, para tratar da mesma matéria?! Fiquei puta.

    Bjs.,

    Ana Claudia

    ResponderExcluir
  2. Oi Ana,

    ainda bem que você entendeu o que eu quis dizer com "ô praga!". Afinal, meu pai também foi advogado e claro que há advogados e adevogados, né? Os bons são necessários a toda sociedade civilizada que se preze, mas quando uma sociedade tem mais gente cursando Direito que engenharia e cursos de formação de base (como Matemática, Física, Biologia) é porque algo está muito errado.

    Afinal, quem faz o país produzir é que está na linha de frente da produção. E não advogados, obviamente.

    Veja o caso da Argentina. O que fazer com milhões de psicólogos e psiquiatras? Só podia dar em estagnação e crise financeira sem fim...

    Obrigada por enriquecer o meu blog com a sua participação!!

    Outro beijo,

    Lu.

    ResponderExcluir
  3. Lu tem algo que não entendo. Nossa escola arqueológica era tão boa, mas tão boa que até hoje lembro dos cascudos em minhas orelhas de jumbo que levava de minha professora de matemática. Isso, sem falar dos famosos apertos com as unhas finas pintadas com esmalte colorama ou risqué. Será que já eram esses? Do ensino médio, sei que me ensinaram trigonometria, e o tal sen, cos, não sei já cresceram ou não! Da química todos os benzenos são sem lá o que. Nosso conteúdo programático segue algo que não usamos no dia a dia. Outro dia, me perguntaram sobre todos os escritores da literatura brasileira, e ainda insistem que eu lembre do que eu mesmo li de Machado de Assis e outros. Por favor, minha cabeça é de nordestino, mas não é por ser tão grande que cabe tudo. Risos. Hoje como educador sonho e defendo a escola que aprende fazendo. Levando as crianças à aprender filosofia - a matéria que estudo e nunca sei nada mesmo estando doutorando - usando a internet etc. By the way, não me diga que vocês aprenderam inglês em 8 anos de escola pública. Porque com o tempo que eles têm para nos ensinar era para termos esse idioma na ponta da língua tal como a escola isrelense. Pasmem! Consegui ganhar uma bolsa na aliança françesa graças a um ano de estudo no 5 ano e nunca de um escola inglesa. Por que será? Será que sempre foi um caboclo europeizado? Risos! Acho que não. Precisamos pensar as coisas de forma mais prática. Cada um já nasce com seus talentos em potencial. Por isso, proponho que sejamos sensíveis à estrutura da aprendizagem das crianças e de forma lúdica inserirmos as mesmas no mundo da música, das ciências, das artes deixando eles crescerem sem serem robots em um mundo de repetidores como o papagaio de meus pais alemães do coração. Que me acordava em santa catarina dizendo: haus davi. Só assim, evitaremos a mesmice de parecermos iguais na cabeça, mas absolutamente diferenciáveis quando necessitamos trabalhar e ocupar nossos espaços.

    ResponderExcluir
  4. Pessoal,

    como este tema sempre foi de meu interesse vou deixar a minha contribuição.

    Obviamente que sem a valorização do professor nenhuma melhoria será possível.

    A Luciana vai ficar brava, mas como estudamos na mesma escola até o primeiro ano do segundo grau, vou ter que discordar. Eu gostava dos meus professores de matemática. E dos de Português também.

    Mas o ponto que quero colocar é a questão curricular. Na minha opinião, o currículo básico (obrigatório para todos) não deveria contemplar matérias como física, química e biologia.

    Cada vez que me lembro do absurdo de conteúdo que tive que estudar para as provas e que hoje em dia não me serve para absolutamente nada... É revoltante!

    No máximo, eles poderiam criar disciplinas no segundo grau como física aplicada, mas que fosse aplicada mesmo! Em que você estudasse a situação prática, do seu dia dia, em que você aplicaria aquele conhecimento.

    Informática, não só tem que ser obrigatória desde o jardim de infância, como tem que ser levada muito a sério.

    É triste aqui no MPDFT ver servidor (geralmente das antigas) chamando o técnico da informática para "instalar" a impressora no seu computador. Fala sério! O cara não sabe configurar um drive na rede?!? Em que mundo ele vive?

    Do português e da matemática eu não abro mão. Outro dia teve o maior quebra-pau aqui na sala porque o engenheiro mecânico acha que não precisa saber se expressar num memorando já que a área dele é técnica. E aí, eu, que não entendo nada de ar condicionado, estou me tornando expert, porque tenho que traduzir para o papel o que o douto deseja, de forma que outro ser humano ao ler possa compreender o pedido.

    Matemática tem que fazer parte por que estamos sempre precisando dela. Mas eles também poderiam modificar as grades. Não precisa chegar em derivada, trigonometria etc. Até a matemática financeira já estaria de bom tamanho.

    Línguas, no mínimo, inglês e espanhol. Estamos num mundo globalizado. É indispensável conseguirmos nos comunicar. A carga horário de línguas estrangeiras tem que ser muito maior, inclusive com aulas práticas.

    No primeiro grau, podiam tirar uma boa parte da carga horária gasta no decoreba de datas de fatos históricos e aplicar o tempo em noções básicas de nutrição e saúde.

    E incentivar a leitura. Ninguém ensina português para ninguém se a pessoa não tiver o hábito da leitura. Fazer concursos, gincancas, o raio que o parta, mas colocar esta galera para ler.
    Mas respeitando o direito inalienável de detestar Machado de Assis, José Lins do Rego e etc. Estes escritores foram ícones. FORAM!

    Agora me lembrei de um ditado que eu achei super interessante: "Os livros velhos são para os autores, os livros novos são para os leitores". Tem muito lixo publicado por aí, claro, mas garimpando se encontra muita coisa boa.

    No segundo grau, também acho que caberia noções básicas de direito. Afinal, isto afeta a vida de cada um de nós.

    Enfim, sou favorável a um currículo que priorize a formação da pessoa, do cidadão, na parte prática da vida. Quem quiser saber porque o elemento X ao se fundir com o Y forma o elemento Z, ótimo! Vá ver isso lá na sua faculdade. Especialize-se!

    É isso...

    ResponderExcluir
  5. Oi Larinha,

    por que você sempre diz: "a Luciana vai ficar brava". Você realmente me acha, assim, intransigente? Caramba!!!:) Eu sei que sou pauleira, mas tento ser democrática... O blog é um exemplo disso. Abro aqui o meu coração para levar flechada de todo mundo!!!:)

    Claro que não fiquei brava, de jeito nenhum. Eu adoro quando as pessoas participam e também discordam. A gente aprende com as pessoas inteligentes que pensam diferente da gente.

    Mas, sinceramente, você se lembra da aula de matemática da 5ª série com a irmã Servácia? Você se lembra que ela cismou de começar o livro pelo final? Não é possível que tenha achado incrível, super instrutivo... Aquilo deu um nó na cabeça da maioria das crianças de 11 anos. Se você se salvou é porque tinha, por herança genética, uma predisposição para entender matemática. Só pode ser isso.:)

    Um beijão,

    Lu.

    ResponderExcluir
  6. Bom, eu aqui posso vestir carapuças e também criticar algumas coisas... sou professora da rede pública e infelizmente me enquadro no rol dos professores desmotivados, despreparados e desesperados. Sei o que é isso na pele e o quanto a gente vive mendigando contratinhos e salários mixos... é deprimente o quanto as crianças e adolescentes podem ser "professores" em nos torturar com todo tipo de provocações, usando toda a sua "criatividade" para isso e o quanto isso nos afeta, por mais que tentemos não ligar.
    Agora prestei um concurso para "Revisor de texto" do STM. Voltado para quem fez Letras (leia-se: professores de português, destino de 99,9% de quem fez este curso), pois então, eram 1.319 candidatos para uma vaga... aposto que a maioria esmagadora desses candidatos é de professores querendo pular fora da escola, feito eu. O salário do STM seria razoavelmente digno para um professor valorizado pela sociedade, pelo governo e por nós mesmos (porque o professor também não se valoriza). Não esqueço uma vez em que uma professora, na hora do recreio, diante da indignação cotidiana dos professores sobre nossa situação,afirmou que achava que nós deveríamos agradecer a Deus de termos um emprego e que ela estava satisfeita com o salário que tinha, o qual era suficiente para satisfazer as necessidades dela (que eu acredito que seja a de comprar roupas e sapatos). Acredite, se quiser...
    Minha filha estuda em escola particular, porque o professor da rede pública que pode pagar escola particular para o filho, faz isso... não quer ver sua criança sofrendo como seus poucos alunos que querem estudar e não tem um espaço sadio para isso (ironicamente, a própria sala de aula). Preferiria dar aulas particulares a minha filha, a colocá-la na rede pública (há pais que tentaram isso, mas não a justiça proibe esta prática.)

    Em tempo: Não lembrava da irmã Servácia ter começado o livro de trás para frente, deve ter sido aí que comecei a me tornar um desastre em matemática... antes disso, me orgulhava de acertar todas as continhas....

    Beijos,

    Patty

    ResponderExcluir
  7. Oi Patty,

    pois é, pode saber que deve ter sido aí que o seu trauma matemático começou, pois foi exatamente na 5ª série que parei de prestar atenção às aulas de matemática. Resultado: só sei bem a matemática básica. Sem essa base, a lacuna se forma e é difícil recuperar. Acho que o raciocínio lógico se perde para sempre.

    Meus filhos estudam em escola pública por uma questão ideológica. Eu acho que a classe média deveria por seus filhos na escola pública porque "forçaria" a escola a se tornar melhor. A participação dos pais "instruídos" da classe média na cobrança, criaria uma escola de maior qualidade para todos, pobres e remediados.

    De certa forma, nossa experiência foi bastante positiva. A gente ajudou a escola a melhorar e o Tomás conviveu com a diversidade, com a simplicidade e, em termos de conteúdo, aprendeu as mesmas coisas que os outros amiguinhos dele que estudam em caríssimas escolas particulares. Mas, por outro lado, ficou a frustração de compreender que algumas poucas andorinhas realmente não fazem verão...

    Eu acredito que os professores da rede pública, de Brasília pelo menos, têm uma formação mais qualificada do que os das escolas particulares. O concurso é puxado e não passa gente "despreparada". Mas, infelizmente, a infraestrutura da escola pública dá pena. As professoras fazem um milagre diário para suprir as carências de tudo: banheiros decentes, material didático,copos e todo o básico do básico.

    Infelizmente, esse é o último ano do Tomás na escola pública. Não posso mudar o mundo sacrificando o meu filho. O jardim da infância e a alfabetização públicos foram excelentes, mas sabemos que, à medida que a criança vai evoluindo na grade escolar, a escola pública vai se tornando esse antro de perversidades que você pontuou muito bem. O espaço da escola vira espaço de ringue, de insanidade. Seria preciso uma verdadeira mobilização social para resguatar a escola pública do descaso.

    Mas a classe média não quer sujar as mãos. Pra quê? Se tem dinheiro para pagar escola (também não lá grande coisa) para os filhinhos mimados e mal educados?

    E, assim, o ciclo de maldades não se desfaz. Ainda somos um dos países mais desiguais do mundo. E sem escola pública de qualidade, continuaremos no mesmo patamar.

    Um beijão e obrigada por seu valioso comentário!!

    Luzinha

    ResponderExcluir
  8. O assunto vai longe. O modelo de escola, grade curricular, tudo isso já é assunto pra umas 27 mesas redondas. Eu concordo com a Lara que a maioria do que a gente aprende não tem uma aplicabilidade visível - mas tem aplicabilidade no pensar, porque a gente aprende a raciocinar, aprende a relacionar, mesmo química, que era a matéria que eu achava mais chata na escola. Mas entendo o que ela quer dizer quando diz que cada um pode se reservar o direito de odiar José Lins do Rêgo (mas Machado de Assis, Lara!??:)
    Enfim, nem falamos ainda dos métodos - nem vamos chegar lá, porque realmente falar em modelos ousados de educação quando uma escola tradicional dos sonhos nem chegou a ser implantada no Brasil é sonhar alto demais.
    O que eu estava pensando é que todos esses relatos, da Patty, inclusive, que está falando lá de dentro, e eu também fui testemunha ocular do crime (porque é um crime esse assassinato diário da oportunidade dessas crianças e do cotidiano profissional, ou seja, da vida dessas professoras) porque fiz estágio numa escola pública, são da escola pública de Brasília. De Brasília, gente, que é um primor de escola se formos comparar com a maioria dos estados do Brasil!!! Quer dizer que estamos ainda muito mais distantes de uma boa escola pública.
    Mas já vi projetos interessantes em Natal, por exemplo, em parceria com centros de pesquisas, que oferecem oportunidades instigantes para as crianças, na linha do que a Lara falou de dar aplicabilidade a matérias como biologia, por exemplo. Então, não sei se é o caso de achar que tudo está perdido não. É desanimador mesmo, mas o tempo na escola, mesmo numa escola alquebrada e quebrada literalmente é melhor do que tempo nenhum, mesmo com professores não valorizados. Esse tempo na escola tem que aumentar, a remuneração do profissional tem que aumentar, a qualificação está sim aumentando - embora eu não ache que seja superior à de professores de outras escolas, pelo que já vi, e isso muito mais por desinteresse e desestímulo do que por falta de capacidade, é claro - e o investimento público na estrutura escolar, nem se fala. Esse, eu não sei se vai aumentar, porque o desvio é grande.
    Vamos comentando, o "blog redondo" tá bombando.

    ResponderExcluir
  9. Concordo com você Luzinha, em tirar o Tomás da escola pública, assim como o Rômulo, quando chegar a hora... imagine saber que seu filho está numa escola na qual, na hora da saída, duas meninas (eu disse meninas, hein) se esbofeteiam, rolam no chão e cortam o rosto uma da outra com a gilete do apontador, enquanto seus "colegas" filmam tudo divertidamente, para depois postar a briga no You Tube? Não que isso não possa acontecer numa escola particular, mas...Isso aconteceu aí em Brasília, numa escola pública. Por aqui, presencio agora os professores tendo que chamar a polícia para prestar queixa de alunos que riscam seus carros na frente de todo mundo, em plena luz do dia, com o objetivo de mostrar "quem manda"... e além de tudo agora virou moda alunos baterem em professor (até em faculdades!)Nunca lidei com esse tipo de aluno, mas confesso que agora tenho mais receio quando tento impor disciplina em sala de aula e os espertos percebem isso, pois ficamos muito expostos e vulneráveis lá na frente...
    Quanto a o que se ensinar na escola, concordo com a opinião das meninas e acrescento algo que sempre me incomoda: a escola parece totalmente alheia ao que acontece "lá fora"... por que não existe a disciplina, sei lá... "Atualidades"? É! Coloca como disciplina, pelo menos para se falar um pouco de assuntos importantes dentro dos mais variados temas, numa linguagem mais próxima da deles usando uma metodologia "moderna", mas falar do que acontece na sociedade, na cultura, na política... falar de uma realidade que nos rodeia e nos atinge, mesmo que não percebamos. Comentar o assunto do dia que está na boca de todos, pedindo por reflexões e debates... "Ah é, temos uma presidente mulher,legal, mas abre o livro aí na página 75, pessoal"... "Um pai jogou a sua própria filha pela janela do prédio? Tá bom gente, mas agora vamos dar uma atençãozinha aqui nas conjugações verbais"... Pôxa, se não se reflete na escola sobre essas coisas, como podemos ajudar a formar o caráter, a personalidade e desenvolver valores imprescindíveis à formação do ser humano? É tudo fragmentado na escola, as disciplinas são estanques e a realidade, distante...

    ResponderExcluir
  10. Oi Lú e outros comentaristas,

    Para começar quero dizer que não acredito que a escola brasileira piorou. As escolas antigas atendiam uma minoria e essa minoria continua sendo atendida da mesma forma: com uma escola ruim (as tais escolas de elite). Já o resto da população, que passou a ser progressivamente mais atendida nos últimos 40 anos, tem uma escola desastrosa à sua disposição. Basta ver os testes internacionais de educação.

    Não gosto desse discurso sobre a modernidade porque antes disso é preciso fazer o que todo mundo já sabe, mas que demanda dinheiro público:

    - Construir e manter as escolas em boas condições físicas.
    - Ter um número adequado de alunos por turma.
    - Obrigar o professor a ter pelo menos 3 horas livres por dia para se dedicar ao planejameto e ao estudo. (Inclusive nas escolas particulares, onde os professores hoje ficam em sala por, no mínimo, 40 h semanais)
    - Alimentar bem as crianças e obrigá-las a frequentar a escola.
    - Dar boas condições de trabalho ao professor: as tais horas acima, um espaço físico decente na escola, premiação dos que se dedicam ao trabalho etc
    - Bom salário aos professores, para que bons profissionais sejam atraídos, mantidos e motivados no seu trabalho.

    Sem essas condições, não dá nem para começar a discutir. Mas é mais fácil dizer que o modelo de educação está falido, porque assim se encontar alguém para jogar a culpa, e as tais "mudanças pedagógicas" são muito mais baratas de se implementar.

    Sempre que ouço começar essa estória sobre a "necessidade de se rediscutir a escola", me lembro da admoestação (gostaram?) secular:

    "Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Guias cegos! Filtrais o mosquito, mas engolis o camelo."

    Por isso, não acredito em qualquer discussão da educação brasileira que não comece por esses pontos. Nem acredito em político que diz que se preocupa com educação mas não trabalha em propostas que coloquem dinheiro de fato nela.

    Afinal, a educação sempre foi, e é, o problema mais importante do Brasil. Como já foi dito à exaustão, se, a exemplo da Coréia, tivessemos investido seriamente em educação 40 anos atrás, viveriamos em outro país. Qualquer pessoa que acredite nisso e que seja realista deveria votar em políticos que fazem da educação uma das bases da sua campanha. Mas entendo o raciocínio daqueles que preferem que a escola pública continue ruim, assim, nossos filhos e netos não terão que concorrer com os milhões de pobres que morrem, intelecutalmente, à mingua.

    Além disso, os recursos financeiros são finitos. Pagar melhor aos professores e melhorar as escolas significa pior o salário de alguem. Muitos categorias do setor público recebem salários acima do que seria necessário para atrair e manter bons profissionais. Elas estão dispostas a verem seus salários congelados até que o valor gasto em educação atinja os níveis aceitáveis? Ou seja, a se sacrificar por um projeto de país?

    ResponderExcluir
  11. Isso me lembra uma frase que meu pai sempre falou, parafraseando ou citando alguém: "não existe o almoço de graça".
    Hipoteticamente, eu até reduziria meu salário para que os professores melhorassem os deles, e quem sabe até me animaria a mudar de profissão? Digo hipoteticamente, porque afinal sou humana e cheia de falhas e de avidez, além de que não sei como me comportaria se só o meu salário fosse reduzido, e o da bandidagem, digo, da politicagem permanecesse intocado.
    Mas é sério, acho que se eu visse que o salário dos profissionais da educação pública estava melhorando, que as condições da escola pública estavam sendo priorizadas, que o tempo da escola estava aumentando, eu me disporia sim a congelar meu salário e eu que fosse buscar um super salário onde ele fosse merecido, lá, na escola pública, se eu quisesse melhorar meu padrão de vida ;).
    E depois disso ou paralelamente a isso eu acho que valeria a pena sim saber se a escola estaria contemplando todos os seus alunos ou se o seu modelo seria só os fortes e bem nutridos e bem nascidos, com televisão a cabo (embora muitos dos barracos do Novo Gama, onde estive recentemente fazendo um cadastramento, tivessem parabólica, mas não muitos tinham uma mesa e iluminação suficiente para os meninos fazerem dever de casa e estudar), pai e mãe presentes e com tempo livre para acompanhá-los nos estudos, porque muita gente está na escola se odiando, se sentindo burra, se sentindo inadequada. Professores mais bem pagos e com melhores condições já são quase que a solução, mas repensar a escola e o modelo de educação também faz parte disso.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos