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Mostrando postagens de junho, 2023

Poligamia

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Já fui mulher cis de um amor só, monogâmica, fiel até o fim, pois o final chega, ainda que vagarosamente. Não começava novo relacionamento antes de dar cabo do anterior. O ponto final é um ritual necessário, um processo de luto, de saudade que deve ser vivido para abrir novamente o coração. Me comportei com pudor e dedicação exclusiva a um romance por muitos anos. Mas a percepção sobre o tema sofreu uma mudança radical. Quando dei por conta de mim, estava imersa em diversas e simultâneas relações. O poliamor me tomou sem aviso prévio, foi avassalador. Agora sei que sou capaz de me ater em vários laços, de dar a devida atenção a mais de um interesse amoroso ao mesmo tempo. Engato o afeto e estabeleço a conexão com três, quatro objetos do desejo. Tento me desdobrar com alegria para cada qual. Às vezes não dá certo, pois me apaixono por aquele que tem uma pegada mais original. Os lúdicos também me atraem. Entretanto, tenho uma queda pelos densos e por intelectuais. Eles demandam entrosame

Proparoxítonas

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Um cristal na loja de elefantes. A alma de ponta à cabeça. Mulheres são bichos esdrúxulos. Proparoxítonas difíceis de rimar.  Quando sangram, reclamam. Quando deixam de sangrar, também. Existências dinâmicas e instáveis. Voláteis, não volúveis, sempre à procura do inatingível, do inefável. Persistentes, atravessam a vida no transe de sonhos pueris, equilibrando pratos sujos e bolas de chumbo nas mãos, numa perene dança de Shiva. Somos todas deusas de múltiplos braços invisíveis. Em sincronia, empurramos o carrinho de compras (poderia ser o do bebê), seguramos a guia do cachorro entre as pernas e paramos para fotografar o ipê branco florido: sublime aparição. Se calhar de ser menina, tem futuro, não, fora da alquimia. Inglês jurídico  Law in action law in books pão de law jilaw forraw mocotaw borogodaw Maceiaw rococaw Law & Order filaw Marajaw vovaw paletaw All or nothing  Common Law ordinary words.

Estio

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Céu sem dúvidas resoluto completamente seguro de sua imagem com lugar de fala genuíno entre os seus pares. Abóbada celeste igual a do planalto central não há. Azulíssimo teto sobre a mesa maciça de rochas sedimentares mais antigas de Gaia: almoços ao ar livre sem previsão de chuva. Viagens semióticas Os dilemas da arte na era da reprodutibilidade técnica. Walter, o Benjamin, ficaria ou não espantado diante da própria genialidade nostradâmica? Com os celulares, a arte está ainda mais vazia de sua autêntica aura. Tudo pode ser ou não ser ao mesmo tempo, a história é escrita com imagens cada dia mais fluidas, retocadas, “filtradas”. Nada e tudo é ou não é o cachimbo de Magritte. Resta-nos flanar sobre os fragmentos. Não existem mais segredos que não possam ser revelados com um celular à mão. A destruição da aura do objeto de arte, pela sua reprodução mecânica, afeta a originalidade e retira das cenas mundanas o invólucro sutil de sua poesia existencial. O processo de reprodução das imagen

Dá match

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Prosa poética ou poesia prosaica? Escrevo o cotidiano. A crônica seria o caminho natural para uma jornalista. Acontece que fui primeiro publicitária e os jogos de palavras, a sonoridade dos jingles, as sacadas, as frases curtas de efeito, a criatividade e a ludicidade são um maná.  Daí vem o poema. Das cenas que vejo da janela do carro, do apartamento, das salas de concerto, do céu de Brasília, do cerrado entortado, das road trips, das vivências norte-americanas, da maternidade de uma dupla de gajos. Tenho um filho clarinetista... Uma irmã mais velha que também tocava o instrumento. Sempre fui fascinada pela aura desses objetos sagrados. Aliás, não tenho nada de iconoclasta: adoro imagens e igrejas. Cresci na roça. Minha relação com a natureza goiana matuta é ancestral. Por isso, Cora. Mas meu estado de espírito é mineiro. O barroco me comove às pencas. Por isso, Adélia. O lado ranzinza e sarcástico se identifica com Quintana. E a personalidade melancólica e descrente da humanidade com