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Mostrando postagens de novembro, 2012

Noves fora zero

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“Nada tenho vez em quando tudo Tudo quero mais ou menos quanto Vida, vida, noves fora, zero Quero viver, quero ouvir, quero ver...” (Zeca Baleiro) Pronto. O pânico da folha em branco. A crise criativa. Caço uma música da Adele no Youtube. Uma que não tenha sido esmagada pela repercussão exaustiva nas rádios. Busco inspiração melancólica. As coisas tristes sempre dão um caldo extra. Vixe, se eu fosse elencar todo o rol de perdas que experimentei, estaria pra lá de credenciada a ser uma autora densa de muito sucesso.  Estranho como existe gente que vive sem música. Lá em casa, dizem que meu pai era deveras musical. Já mamãe, nada. Mas como a genética às vezes fala mais alto do que o meio ambiente, sempre necessitei de música para respirar. Não convivi com meu pai, mas ele deve ter me deixado essa herança legal, além da insônia, que mamãe nunca teve. Nobody is perfect.  Que vozeirão tem essa menina gordinha de olhos expressivos! Dores de cotovelo da melhor qualida

Apresentação de fim de ano

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Hoje quero falar sobre paixão (pausa e olha nos olhos da plateia). Mas não a paixão mais reconhecida, difundida, debatida, que é aquela relacionada ao encantamento entre dois seres humanos. Quero conversar a respeito da paixão interior. Aquela que mora na gente como brasa, um sentimento profundo que nos move. Que nos faz prosseguir mesmo diante das adversidades. Talvez seja uma boa época para se falar nesse assunto. Fim de ano, sabe como é... Momento de juntar os cacos, de pensar em outra etapa vencida e novas possibilidades. Talvez é vício de jornalista que não pode afirmar nada com 100% de certeza sem ter fontes realmente confiáveis. E como a fonte aqui é a minha própria mente prolixa, mais acertado ficar no quem sabe, que é primo-irmão do talvez. Acredito que a gente precisa descobrir o que nos apaixona e alimenta esse fogo interno. A luz que não se acaba. Um ideal, a profissão, um esporte, um desafio... (pausa). Algo que nos complemente e nos faça viver mais inte

Bala perdida

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Campus da UFG E lá fui eu para Goiânia. A cidade já está se tornando uma espécie de segundo lar. Tô começando a perceber que estou cada dia mais goiana, menos brasiliense. Não dizem que depois de certa idade o seu ascendente astrológico torna-se dominante na sua personalidade? Talvez seja um caso análogo: as minhas origens estão mais marcantes na medida em que amadureço. Os 40 anos são mesmo um linha divisória. Não é lenda. A gente começa a se sentir diferente, gostar de coisas que antes não nos diziam muita coisa.  Goiânia era só uma cidade quente e bonita na qual vários parentes moram. Agora sei que ela continua quente, mais bonita e civilizada com o passar dos anos e meu primo que mora lá é, encontro pós-encontro, mais importante na minha vida. Um irmão amado com quem compartilho fina sintonia.  A capital do estado de Goiás sempre me acolhe muito bem. As pessoas são mais terra, são mais gente. Os transeuntes não são estranhos sem rosto. Os vendedores querem vender e

Tico e teco em curto circuito

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Não gosto de biografias. Não gosto de revistas especializadas e seus textos de sucesso empresarial. Não gosto de literatura de autoajuda. Não gosto de cinco dicas para ser gostosa. Da lista de melhores filmes, melhores músicas, de supermercados, de segredos de beleza, manuais, vídeos de capacitação edificantes,  conselhos úteis, caminhos fáceis. Daqui a pouco eu vou compor uma música mais legal do que a da Adriana Calcanhoto: “eu não gosto de bom gosto, eu não gosto de bom senso, não gosto.”   A vida já é tão ela mesma todos os dias, por que eu vou ler sobre a vida dos outros? Tá, admito: isso é muito pisciano. E aí o meu marido vai dizer: que se foda a astrologia! Mas eu sou escapista, sim, vai encarar? Deveria estar lendo os livros “profissionais” que eu vejo estrategicamente dispostos na mesa do meu chefe geração Y : Likeable Social Media, Brand Media Strategy, Marketing no Setor Público, Advertising and Promotion...  Enquanto isso, na minha mesa tem um peixinho d

O crepúsculo das divas

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Sempre gostei de participar de concursos culturais. Na minha infância e adolescência não eram muitos, infelizmente. Se eu ainda estivesse jovem o bastante para essas façanhas hoje, nossa, eu não perderia uma oportunidade de mandar texto, frase, foto...  Mas não que eu esteja morta da silva para concorrer. De vez em quando ainda me pego tentando um lugarzinho ao sol. Mas sei que não sou páreo para essa garotada. Às vezes me dá medo o tanto que envelheci. O mundo é mesmo outro e a prova disso é exatamente escrever essa frase saudosista, de pensamento enferrujado.  Se eu tivesse que procurar emprego agora, que chances eu teria com essa turba antenada, descolada de instagram, flickr e twitter? Gente que vira as redes sociais do avesso. Não têm experiência de vida, OK. Não têm uma grande cultura geral, de boa. Não leram os clássicos e talvez nem os modernos, mas sabem se vender como ninguém.  E hoje, é isso aí, a imagem vale mais do que mil palavras. E eu só entendo de p

Pequena sinopse delirante

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Encontrei esse texto (meu Deus, quantos mais eu irei descobrir nos fundos das gavetas?) datado de 22/05/92: Desmontando "O Mágico de Oz" em 15 minutos ou como amolecer corações amargos: Dorothy, 20 anos e desiludida. Classe média baixa, mora com os pais numa pequena cidade do interior. Tem um fusca e sua música preferida é "Pra não dizer que não falei das flores". Certo dia, encampa violenta discussão com o vizinho após bater seu carango ao sair da garagem no carro estacionado em frente, de propriedade do mesmo. Várias agressões verbais depois, Dorothy parte com seu fusca a esmo. Com a cabeça quente, vislumbra uma árvore frondosa perto de um estacionamento. Pára, desce e deita-se à sombra. Adormece.  Quando abre os olhos, encontra-se num grande deserto cinza. Assustada, sai à procura das coisas que estavam ao seu redor antes de cair no sonho. A árvore, o carro, a cidade haviam desaparecido. Desnorteada, caminha até esbarrar numa pequena mu

De nordestino e louco todos nós temos... e muito!

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Brasília está cada dia mais nordestina. Não é uma afirmação preconceituosa, não me desvirtuem. Apenas uma constatação climática.  Eu gostava mais da Brasília que tinha inverno e maiores ocorrências de tardes nubladas e chuvosas. Eu acredito que a chuva ajuda a gente a se ver... Não, não, vou mudar o verso do Caetano: acredito que a chuva ajuda a gente a pensar. Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro... Essas Djavanidades, entendem?  Pegar ônibus é uma merda com chuva. Sim, é verdade. Ainda mais porque as vias, como a W3, acumulam água nos cantos e buracos e o pneuzão do busu passa sem a menor piedade, esparramando falta de educação e lama nos nordestinos que sofrem nos pontos para voltar aos lares-dormitórios da capital.  Agora voltei para o carro. Não por que estava louca para fazer isso, mas somente porque o carro me permite não chegar tão atrasada no trabalho. Porque eu estou sempre me enroscando nos cabelos das pernas para sair de casa pela manhã. Daí, su

Edgar Allan Poe faria uma obra-prima

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Noite de tormenta. Os raios riscam a janela, enquanto admiro e me divirto. As densas árvores parecem criar vida. Os galhos, braços esqueléticos, ameaçam invadir o apartamento. No vídeo, um filme que prometia: “Premonition”.  Adoro chuvas e trovoadas. O mistério me seduz. Trovões me dão arrepios gozosos. Acho que sou bruxa velha disfarçada de mãe pós-moderna. Brasília não é uma terra farta de noites filosóficas como essa. Aproveito. Sei que no dia seguinte o sol já vai brilhar como se precisasse ratificar todo o seu poder soberano. Mas enquanto a manhã não vem, ouço o rebimbar das gotas no parapeito.  Termina o filme, mas o temporal persiste. É mais do que eu poderia almejar para o fim do domingo. A história na tela não rivalizou com a tempestade escura. Deixou-me mais melancólica do que aguçada. Vou para o meu quarto e encosto na janela escovando os dentes. A chuva me atrai como um ímã de possibilidades.  Sinto que estou pronta para viver ardentemente. Visto uma re

Se conselho fosse bom...

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As três mil palavras que os cientistas afirmam que as mulheres falam a mais por dia do que os homens devem ser despejadas pela manhã, quando as mães precisam mover montanhas, ops, os filhos rumo à escola:  - Levanta, desencosta da cama, põe a meia, anda, toma logo essa vitamina, menino!, Já escovou os dentes?, Vai pro colégio com o olho cheio de remela, é? Pegou a lancheira? Que cabelo é esse? Cadê meu beijo!!!  Mães, mães, neurastênicas mães. Uma amiga acaba de me dizer que não vai mais assistir à palestra do escritor Mia Couto lá na cidade dela, Curitiba, porque se sente culpada em deixar os dois filhotes com a babá por algumas horas a fim de se divertir. Oras, as mães não sabem que reservar um tempo para si próprias lhe tornam mulheres mais interessantes, menos exauridas, menos descabeladas e, consequentemente, melhores mães?  Não, muitas não sabem. Muitas perdem totalmente as estribeiras com essa tal maternidade. OK, é mesmo de enlouquecer essa Profissão Perigo.

A dor dos MEUS filhos

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Então ontem chegou o momento da revelação. Não foi premeditado, mas sim adiado por um, dois meses. De repente, entendi que era a hora de dizer, de contar aos meus filhos aquela angústia que, até ali, era minha e do meu marido. Talvez por ter lido ontem mesmo o texto brilhante da jornalista Eliane Brum chamado "A dor dos filhos". Sim, foi a gota d'água para eu abrir a torrente, pois era mais do que claro que não poderia resguardar meus rebentos dessa dor, mais uma, a primeira ou segunda de muitas que virão pela frente. No banheiro, a água correndo, lavando a alma, contei ao mais velho: - Meu filho, a tia Ju vai embora. - Pra sempre? - Não sei, meu filho, talvez pra sempre. Ela quer voltar para casa, quer ficar perto da família dela, na cidade dela. Lágrimas se misturaram as gotas que caíam do chuveiro. Num lamento convulsivo, meu primogênito chorou a dor de perder alguém querido para o vazio. O vazio do "pra sempre". Ou do "nunca mais&

Desvairada mesmo!

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Como é sempre bom rever São Paulo! Dá vontade de sacudir a cidade num longo abraço e apertar suas bochechas pálidas como se ela fosse uma sobrinha de quatro anos. Logo ela, tão madura e emancipada! Mas é que sinto esse amor familiar por Sampa. A emoção é genuína e juvenil, diria até mesmo infantil, quando revejo aquelas ruas, arranha-céus e pessoas descoladas. São Paulo é um grande brinquedo sempre novo à espera das minhas investidas e descobertas. Para o bem e para o mal, Sampa surpreende e deixa suas marcas a cada revisitada. Essa é a diferença das cidades cosmopolitas: não há como sair incólume dos mergulhos. Entre de cabeça e haja fôlego. A aventura vai começar! Dessa vez, fiquei hospedada na mítica Rua Augusta. Não tenho costume de ficar em hotéis em São Paulo, pois a casa dos amigos no bairro Higienópolis me acolhe com carinho. Só que estava com duas irmãs. Uma delas pagou minha passagem e a outra tinha reservas que iriam expirar no Augusta Boulevard Hotel . O