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Mostrando postagens de novembro, 2018

Aquosa

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Chove Chuvinha Dilui Distende Transparece Enxágue Aguaceiro Liquefaz Translúcida Transborda Limo Lodo Mofo Líquens Lava A cena O cume Arredonda Cavuca O chão Cristalina Água Asseia A alma Desnodoa O cerne Alveja Dissipa O Não Aclara Âmago Solução

Estamparia curativa

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Estou sentindo falta da Poli, Poliana, minha gentil e super profissional manicure e podóloga. Uma menina que batalha, que tem sonhos e voa. Agora mesmo, está experimentando uma vida irlandesa. Foi aprender inglês e espiar o velho mundo. Não sei se volta pra cá, um mundinho geologicamente novo, mas ideologicamente arcaico. Vou entender se ela quiser se sentir cidadã todos os dias. Sem medo de assalto, sem engarrafamentos exasperantes, sem falta de civilidade. Uma boa manicure na Europa é um tesouro disputado! Habilidade valorizada. A ausência de Poli perto de casa me fez rebolar. Conheci Stefane, a manicure que trabalha no subsolo do Tribunal. Ela também me parece uma menina bacana, com ideias muito próprias, mas com uma certa sombra no olhar que reconheci imediatamente. Semana passada descobri que ela fora atropelada na infância enquanto aguardava educadamente na calçada para atravessar a rua (a selvageria do Brasil da miséria humana). Passou meses, quase um ano,

Basta um!

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Ó céus, o Natal! É novembro e eu sobrevivo. Não quero montar árvore, não quero comprar presente, tô amuada. Logo eu, uma entusiasta das festas de fim de ano.  A prima de São Paulo alerta: “essa energia atual é pesada”. Pió que é. Sinto a atração irresistível do buraco-negro querendo sugar toda a luz. “Tudo demorando em ser tão ruim”, desde que o samba é samba, desde que o país é país.  O Brasil é uma história azeda desde que eu nasci. A gente releva, a gente disfarça, a gente sublima, a gente finge que não vê, a gente assiste à série finlandesa cheia de neve, a gente viaja, a gente mora fora, a gente tem filho e espera que o futuro seja melhor, a gente entorpece, mas volta a chorar quando a personagem da reportagem ainda mora numa tapera, a verdadeira casa “na Rua dos Bobos, número zero”: sem esgoto, sem e-le-tri-ci-da-de, porém almejando “uma aguinha gelada” para tomar.  Há 40 anos vejo reportagens do Fantástico com os mesmos miseráveis do sertão nordestino. Os

Campânula

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para Karla, de Sampa São dez as badaladas da noite. Elas singram o caminho aéreo e entram enviesadas pela janela, onde me alcançam, ainda que haja ruídos de pneu no asfalto e da TV ligada no telejornal.  Desligo da capital modernista e me transporto para alguma vila colonial baseada nas montanhas. É exatamente o sentimento que o badalo oferta: a cumplicidade com um passado de existir compassado; de temores metafísicos, com odor de velas e pecado.  Ao menos ainda existem as músicas que atravessam os séculos enquanto aguardamos a invenção da máquina do tempo. Creio que nunca iria ao futuro, que sempre se mostra mais trágico. Ao ontem, no entanto, a atração tem tom sépia, conforto para os olhos cansados de tantas telas brilhantes.  Os novíssimos retrocessos que ameaçam vingar nos espreitam, “dementadores” de esperanças. À frente, apenas o buraco negro à caça da via Láctea. Aciono o modo paralisia. Nem escrever atrai quando as livrarias fecham e pensamentos o