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Mostrando postagens com o rótulo EUA

Tapete vermelho

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“Filmes são eles e a sua circunstância. Faz papel de ingênuo quem pensar que neste mundo conta apenas o mérito artístico.” (Ortega y Gasset) Fui uma cinéfila boa parte da vida. Não perdia os lançamentos, frequentava as salas da cidade, principalmente os cineclubes, religiosamente, semanalmente. Tinha um caderninho (talvez ainda esteja perdido nos guardados e eu volte a encontrá-lo) no qual anotava minhas impressões sobre os filmes e fazia minha própria cotação em estrelas. Reescrevia passagens dos diálogos ou de locuções que me encantavam. Acho que o meu lado escritora ainda não havia aflorado. Sem dúvida um grande passatempo. Faz bastante tempo que abandonei esses hábitos bacanas. Filhos, TV a cabo, preços exorbitantes dos ingressos, a queda dos cinemas de rua, das salas de exibição de filmes fora do circuitão… Nunca gostei de shoppings para nada, inclusive para ir ao cinema. Mas às vezes ainda saio da inércia para curtir uma telona, que tem o seu valor inestimável. As condições fís...

Total eclipse of the heart

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O que não podemos deixar é que o mundo desapareça e que, em seu lugar, reste apenas uma narrativa de ódio e de segregação.” (Guilherme Ghisoni) Apenas acho que sem Estado Palestino, a carnificina só vai piorar. Não que o Estado Palestino seja garantia de paz duradoura. Mas sem ele, fica difícil competir em pé de igualdade. A Faixa de Gaza e outros lugares onde os palestinos são amontoados me parecem bastante com um campo de concentração nos quais são os israelenses quem decide os que entram ou os que saem... Há muita miséria ao redor e muita riqueza no enclave chamado Israel. Então tudo isso causa revolta das grandes.  Israel é o pequeno Davi que conta com um gigante Golias EUA para lhe proteger desde o princípio. Você viu Golda? Parece tanto com o que ocorre agora. Tudo se repete de forma cada vez mais sangrentamente bem sucedida. Hamas, Hezbollah, Al Qaeda… Versões truculentas de animais selvagens, mas Israel e seu aliado americano de todas as horas, ao modo deles, também são. Am...

Proparoxítonas

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Um cristal na loja de elefantes. A alma de ponta à cabeça. Mulheres são bichos esdrúxulos. Proparoxítonas difíceis de rimar.  Quando sangram, reclamam. Quando deixam de sangrar, também. Existências dinâmicas e instáveis. Voláteis, não volúveis, sempre à procura do inatingível, do inefável. Persistentes, atravessam a vida no transe de sonhos pueris, equilibrando pratos sujos e bolas de chumbo nas mãos, numa perene dança de Shiva. Somos todas deusas de múltiplos braços invisíveis. Em sincronia, empurramos o carrinho de compras (poderia ser o do bebê), seguramos a guia do cachorro entre as pernas e paramos para fotografar o ipê branco florido: sublime aparição. Se calhar de ser menina, tem futuro, não, fora da alquimia. Inglês jurídico  Law in action law in books pão de law jilaw forraw mocotaw borogodaw Maceiaw rococaw Law & Order filaw Marajaw vovaw paletaw All or nothing  Common Law ordinary words.

Keep walking and learning

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“You live, you learn You love, you learn You cry, you learn You lose, you learn You bleed, you learn You scream, you learn You grieve, you learn You choke, you learn You laugh, you learn You choose, you learn You pray, you learn You ask, you learn You live, you learn”... (Alanis Morissette) Não sabe a data exata dos primeiros passos. Ninguém registrou em papel ou tirou fotos. Fotos não eram descartáveis como as de hoje: clica 50, deleta 49. Mas sempre gostou mais de andar de bicicleta do que de caminhar. Não sabe se começou a apreciar os próprios passos quando ganhou um concurso de redação e passou sete dias num SPA. Não perdia a caminhada matinal pela estrada de terra que margeava belas fazendas e haras. De volta à vida plebeia, incluiu os passeios a pé na rotina. Mas ainda considerava o processo apenas uma maneira de manter a forma, de se exercitar. Nessa pegada seguiu até se mudar para outro país e conhecer outros povos e outras culturas. Consolidou amizade com uma professora-mentor...

Sobre nomes e outros insights

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E no último dia de 2016, os fogos de artifício coloriram o céu gelado de Boston às 7 pm. Voltamos para o hotel, pedimos uma pizza, compramos umas sodas na vending machine e sentamos à frente da TV (de pijamões) para conferir, enfim, o hilário "Deadpool". Bem que me avisaram que era bom e infame. Morri de rir! Acho que foi um jeito bacana de receber o novo ano: gargalhando dos roteiros que a vida nos dá! Sobrenomes. Sobre nomes. Meu nome completo sempre foi um completo desastre nos EUA. Ninguém entende o primeiro e muito menos o segundo. Parece tão fácil, não? Luciana, que tem tudo a ver com Lucy... Mas ninguém entende. Ou me chamam de Luiziena ou de Luiziana ou desistem! KKKK! Se o first name já é pedir demais para os ianques, imagine o last one! Já passei por micos consideráveis por causa de Assunção. Se eu for soletrar para que os americanos entendam fica A S S, ou seja: ASS! Kkkk! Bundão em English!!!!! Já pensou? Por isso aqui eu sou Luciana Mello. Mello (do Bernardo) t...

Respiro do dia

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"Seu telefone irá tocar Em sua nova casa Que abriga agora a trilha Incluída nessa minha conversão / Eu só queria te contar Que eu fui lá fora E vi dois sóis num dia E a vida que ardia sem explicação" Uma botinha nos pés e muitas memórias na cabeça. Lembranças de caminhos percorridos no outono em Manhattan e também no interior do estado de Nova Iorque: privilégio que brasileiros não costumam desfrutar. Inúmeras vezes a estampa dela chamou a atenção de outras mulheres. Espantoso num lugar diverso como a Big Apple. Recordações das instigantes aulas no Westchester Community College. O respiro do dia na rotina da stayhomemommy. Parava o carro e seguia adiante pelo campus bem cuidado, quase impecável. Que ficava ao lado de um cemitério belíssimo, sereno. Aliás, tudo ali naquele condado era bom gosto e tranquilidade. A botinha estampada também transitou entre lápides, anjos e escrituras. Prazer indelével sair de uma aula sobre Budismo e Cristianismo: semelhanças e diferenças e camin...

Comparações

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A rotina na pandemia guarda muita semelhança com o dia a dia vivido nos EUA. Há o isolamento social comum aos forasteiros ainda não inseridos na dinâmica de outro país. O extenuante trabalho doméstico diário, que acaba sendo deixado para lá após algum tempo de neurose com limpeza e com ordem. Parêntesis: As mulheres americanas costumam abrir mão da carreira para criar os filhos, pois acumular trabalho interno e externo, marido e crianças é, sem dúvida, o caminho da perdição. Quando as os rebentos chegam à adolescência, elas ensaiam o retorno à vida profissional. Os aqui de casa já estão nessa faixa etária e como ainda perturbam! Adoraria ser apenas uma stayhomemommy neste momento difícil da humanidade e insuportável do Brasil. Fecha parêntesis. Assim como nos EUA, saio a resolver pequenas e diligentes questões na rua, entre elas, passear com a raposinha disfarçada de cachorra, com a roupa que estiver no corpo. Sem pudores e vaidades típicas das brasileiras, não estou nem aí se a blusa ...

Ao vivo e on-line

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Não queria soar pedante, mas algumas coisas só acontecem comigo. Tá bom, narcisismo. Serei uma mãe narcisista, daquelas que deixam sequelas irreversíveis nos filhos? Hoje li uma matéria sobre o assunto e fiquei meio cabreira. Mas não é disso que quero falar, e sou eu quem mando aqui, não você, texto. ;) Semana passada arrumei um crush. Para ser exata, foi o crush quem me arrumou. Ele me encontrou no Insta, onde posto um bocado de fotos pseudoartísticas, com legendas descoladinhas, ou poemas alheios e poucas selfies. Aí o cara começou a me seguir, um tal de Ben Watson. Legal. Após uns 30 corações nas minhas postagens, Ben Watson me manda um privado: Hi, Beautiful! Epa, o que foi isso? Resolvi dar uma cordinha, e decidi segui-lo também. Descubro que o cara diz ser sargento do exército americano, residente em Miami e guapo. Respondo a mensagem dele e pergunto como ele me encontrou no mar de gente do Insta. Ele: you are a godness! E me printa uma foto que pedi para Bernar...

Aos que ficam

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“Quem é que quer flores depois de morto?”  (J.D.Salinger)  Desde muito pequena convive com defuntos. Não, não é daquelas que veem fantasmas ou têm premonições funestas. Ela não vê gente morta, só sabe que a ausência delas é presença quase física, bloco de concreto no meio do caminho que precisa ser refeito em atalhos mais serenos.  O pai foi o primeiro de cujos que teve de aprender a decifrar em tenra idade. Como alguém que não estava perto dos olhos podia fazer tanta falta ao coração? Ainda na infância também houve o padrinho, uns tios e o avô materno, o único dos avós que chegou a conhecer. Acostumou-se a velórios e a enterros, portanto.  Sem falar naquela “tia” por afinidade, a vizinha de bloco, Denize Cellano, uma bruxa boa que lhe acolhia para aulas de artesanato e para curativos nos ralados oriundos da molecagem de rua. Passou, então, a pensar que a vida era feita de precoces e constantes perdas.  Na adolescência, teve certeza: ...

Vermelhas e Amarelos

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Característica carioca marcante são as bancas de vendas de livros espalhadas pela região central ou pelas calçadas da zona sul. Foi numa delas, ao lado do prédio do Banco Central, que garimpei a adaptação de “O Mágico de Oz” que leio agora.  Gosto muito do filme, mas o roteiro tem algumas pontas soltas. As personagens soam um pouco forçadas a se reunir num encontro amalucado. A obra, claro, resolve a questão, ainda que não esteja lendo o original.  Estou me divertindo muito com essa fuga estratégica para um lugar mítico que faz parte da minha cinefilia. Ontem, pouco antes de dormir, invejava Dorothy Gale tombar, inebriada pelos efeitos sedantes dos campos vermelhos de papoulas. Tudo o que eu queria era um opioide que também me fizesse apagar todas as noites, a noite inteira.  Lembrei da pobre Judy Garland e do seu vício nos chamados barbitúricos, tão em voga naqueles tempos. Eram comprimidos para dormir, para acordar e para se manter magra e viável na...

In saecula saeculorum

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Nunca gostei do final de Turandot. Um anticlímax que sempre me intrigou. Ontem, no programa This is Opera, entendi porquê. Não foi Puccini quem a terminou. Suas últimas notas para a história morreram com o suicídio altruísta da personagem Liú. O dueto final foi escrito por outro compositor e, sem dúvida, não tem nem a beleza nem a força que desfrutamos no restante da apresentação.  Lindo foi quando Ramón Gener (o idealizador e apresentador do programa transmitido pelo canal Arte 1), entra no Teatro alla Scala de Milão - um templo que ainda vou conhecer - e afirma: Puccini termina aqui e eu também termino aqui a sua ópera. Euzinha, apenas uma conhecedora sentimental da obra dele, sempre quis que Turandot acabasse ali, após a morte de Liú. Foi uma comunhão de almas que combinou muito com a aniversariante da noite de segunda, 17 de junho, minha soprano preferida: Elisabeth Ratzersdorf. Que sorte haver assistido a duas encenações de Turandot no Metropolitan Opera Hou...

Querido Vina, saravá!

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Sonho bom é aquele em que encontramos pessoas amadas separadas por miles away ou pela eternidade. Outra viagem onírica de primeira qualidade é aquela na qual estamos em lugares-pilares da nossa vida, sozinhos ou acompanhados. Como a amiga Ana Cristina, que tem um sonho recorrente com a casa de praia da família. No meu caso, é com a sede da fazenda da infância e juventude. Quando estou sem chão, ela costuma me visitar durante o sono. Não é necessário fazer nenhum sentido para ser acolhedor esse tipo de sonho-terapia. Semana passada, sonhei com a amiga polonesa Agnes, que vive em NYC, na vizinhança de Astoria. Distantes  uma da outra por mais de dez mil quilômetros de oceano e de terra; por culturas e línguas-maternas complicadas, conversávamos animadamente sobre N assuntos. Mas o que me fez acordar animada foi recordar que debatíamos, com muita propriedade, Vinicius de Moraes. Ela não lê esses meus textos em português, claro. Já me pediu para vertê-los ao Inglês...

Azzelij (pequena pedra 'preciosa' polida)

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Para Marisa Reis "Eu vejo nossos filhos brincando, E depois cresceriam e nos dariam os netos". ( Nando Reis) Sonhei com ladrilhos de Portugal, homeland dos ancestrais e país amado pelo amigo Mário, que hoje volta para o Brasil com sua família, amada por mim.  Meus afilhados de casamento... Os únicos corajosos que ousaram nos visitar quando moramos nos EUA pela primeira vez (sem filhos), e repetir o feito agora, 15 anos depois. Hoje somos oito (+ Frida). Multiplicamos nossos afetos e conexões. Casamos no mesmo ano, temos filhos da mesma idade que, nessa semana de estreito convívio, não brigaram entre eles, apenas entre si, caso contrário não seriam irmãos. Foram dias divertidos e coloridos. Cada hóspede que guiei pelas ruas de Manhattan me presenteou com novos olhares sobre a cidade. Me desafiou à reinvenção. Nunca vou me esquecer do passeio de mãos dadas com Manu ao longo de quase toda a extensão da Quinta Avenida. A mãozinha delicad...

A Gilead da Bolsonaroland

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Assuntos, roupas, séries, comidas e lugares da moda não me dizem nada. Antes, torcia o nariz inclusive para os bestsellers, mas agora sei que alguns são bons e, por isso, venderam milhões. Tenho a tendência de querer o extraordinário, o original. E sou pedante como Nelson Rodrigues, que cunhou a frase que lhe tornou pop nas timelines em tempo de eleições: “toda unanimidade é burra”. Acho que faz parte da minha natureza lutar para manter uma parte indomada em mim, não seguir com a manada. Não me filio a algum bloco, partido ou grupo ideológico-religioso. Sempre fui da pipoca. Guetos e janelas hermeticamente lacradas me dão medo. Por isso também me identifico com outra citação brilhante: “Não me interesso por nenhum clube que me aceite como sócio”. Groucho Max, seu lindo. Daí que eu não havia assistido à incensada, aclamada e premiada série “O Conto da Aia”. Primeiro, porque era paga e eu não tinha HBO. Depois, me deu aquela alergia e ojeriza que batem com esses lances q...

Mermão

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Cosme e Damião: saudade de montão desse tempo bão. Brasília, 27 de setembro na década de 70, tinha cara de subúrbio do Rio de Janeiro. Era um pouco do Méier com Lins Vasconcelos, onde passava as férias de verão. Mas no mês da primavera, a tradição carioca de distribuir balinhas e doces esquisitos como aquele de abóbora em forma de coração laranja, pegava o ônibus e aportava na nova capital federal.  O Cosme e Damião tinha a cara e o gosto da irmã da minha madrinha, tia Lizete, que vinha todos os anos passar uma temporada brasiliense. Com ela, trazia o costume de rechear de guloseimas os saquinhos de papel estampado com a imagem dos santos gêmeos. Suas mãos magras entregavam a alegria às crianças da 709 sul.  Criança daquela época era menos opulenta. A gente se contentava com o pouco que a vida gastronômica nos dava. Balinha chita, soft, erlan, maria mole com gosto de nada... Quem se lembra daquele pirulito-chupeta vermelho e cascorento que arrebentava a boca...