Keep walking and learning

“You live, you learn

You love, you learn

You cry, you learn

You lose, you learn

You bleed, you learn

You scream, you learn

You grieve, you learn

You choke, you learn

You laugh, you learn

You choose, you learn

You pray, you learn

You ask, you learn

You live, you learn”...

(Alanis Morissette)


Não sabe a data exata dos primeiros passos. Ninguém registrou em papel ou tirou fotos. Fotos não eram descartáveis como as de hoje: clica 50, deleta 49. Mas sempre gostou mais de andar de bicicleta do que de caminhar.

Não sabe se começou a apreciar os próprios passos quando ganhou um concurso de redação e passou sete dias num SPA. Não perdia a caminhada matinal pela estrada de terra que margeava belas fazendas e haras.

De volta à vida plebeia, incluiu os passeios a pé na rotina. Mas ainda considerava o processo apenas uma maneira de manter a forma, de se exercitar. Nessa pegada seguiu até se mudar para outro país e conhecer outros povos e outras culturas.

Consolidou amizade com uma professora-mentora americana, com uma polonesa, com uma austríaca e com uma alemã cujas vidas no primeiro mundo já lhes havia impresso o DNA caminhante por excelência.

Ela, provinciana do hemisfério sul, aceitava os convites para explorar Nova Iorque calçada com sandálias tropicais. Como assim, atravessar o Central Park east to west a pé? Como assim, ir da 69th ao sul da ilha? Como assim, cruzar a Brooklyn Bridge, passear na promenade e retornar pelo mesmo caminho? Como assim, agora Manhattan Bridge? Socorro!

Elas iam à frente com o passo seguro, esguio e atlético. A moça teve de se render ao par de tênis e a uma bota de inverno fofinha e deliciosa para acompanhar as meninas europeias, que não perdiam a chance de fazer pilhéria:

- Lá vem a brasileira toda charmosa, rebolando para lá e para cá. E tentavam imitar o jogo das cadeiras, fruto de décadas de samba e de forró. Riam-se todas e a moça preguiçosa tentava manter o ritmo ao lado delas, fast and furious.

Com as amigas cosmopolitas aprendeu a caminhar e a apreciar o caminho. Não tardou e era ela quem sugeria o trajeto. Da Washington Square ao Grand Central Terminal pela Quinta Avenida, se lembra, Manuela? A mãozinha grudada à dela, a tempestade de verão que as fizeram esperar embaixo de uma marquise sentindo frio.

Voltou ao Brasil e nunca mais parou de caminhar. Ainda se amarrava em pedalar (sofreu inclusive um acidente feio, quebrou um pedaço interno da articulação do cotovelo). No entanto, pé ante pé descobriu os prazeres de investigar as nuvens, as árvores, as pequenas pragas disfarçadas de florezinhas, os galhos dramáticos do cerrado em harmonia com a arquitetura polida da cidade.

Virou uma legítima andarilha, a inventar travessias inéditas. Todo compromisso num raio de dez km era uma boa desculpa para encontrar pedras e outros tesouros no meio do caminho.

Ontem venceu sete, nos ermos; fim da tarde. Se abasteceu de amoras à beira da calçada, (grata surpresa restarem várias). Na bonita solidão do ir, evocou Joana, a mulher-esfinge de juba branca. Poderia ser, também, uma legítima turista gringa com chapéu de sol à cabeça. Percebeu a transmutação dela ao estilo das amigas do lado de cima do planeta: tênis, camiseta e calça cargo.

Lembrou que, na adolescência, “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” era um norte.

Adiante, “ao infinito e além” dizia muita coisa.

Agora, tem certeza de que “a vida só é possível reinventada” (todos os dias).

Comentários

  1. Keep walking and learning: gostei da foto.
    Até mais,
    Luis Guilherme

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  2. Que texto lindo! Uau! Amei. Autobiográfico.

    Rodrigo Holanda

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  3. Essa é a Lulu!!!!

    Clarice Veras

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  4. Que lindo! Sua cara!

    Vera Mendes

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  5. Coisa Linda, Lu! Não são todos que têm uma alma atenta pra perceber as maravilhas da natureza.

    Maria de Fátima Venceslau

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  6. Que lindo texto! Adoro ver as florzinhas estigmatizadas
    de praga. Vejo várias lindinhas! Muito bonito Lulupisces seu texto! Poético! Somos responsáveis por quem cativamos, já dizia Exupéry... Que sigamos sentindo os aromas dos ventos da vida! Kkkk cada texto seu me sinto tocada pela poesia e me atrevo a soltar as amarras... Obrigada!

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  7. Poder caminhar pelo mundo é bom demais!

    Ana Paula

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  8. Oh Dear - what a read - beautiful- makes me want to catch a plane and wonder with you your land ( maybe soon there will be time) - I got my second dose on Monday .
    I so wish to have a translation of your book - really . Miss you my Dear!!
    Ps. It sounds like we “ traumatized” you for life ;) I did not realize the impact :)

    Love,

    Agnes

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  9. Thank you!
    Lovely, my dearest friend!

    Sabine

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  10. Gostei demais do tema! Parece um capítulo do seu diário.

    Karla Liparizzi

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  11. Word walker você, isso sim!
    Que delícia de texto. E que travessias ricas, hein.

    Maura Baduy Goulart

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