O crepúsculo das divas



Sempre gostei de participar de concursos culturais. Na minha infância e adolescência não eram muitos, infelizmente. Se eu ainda estivesse jovem o bastante para essas façanhas hoje, nossa, eu não perderia uma oportunidade de mandar texto, frase, foto... 

Mas não que eu esteja morta da silva para concorrer. De vez em quando ainda me pego tentando um lugarzinho ao sol. Mas sei que não sou páreo para essa garotada. Às vezes me dá medo o tanto que envelheci. O mundo é mesmo outro e a prova disso é exatamente escrever essa frase saudosista, de pensamento enferrujado. 

Se eu tivesse que procurar emprego agora, que chances eu teria com essa turba antenada, descolada de instagram, flickr e twitter? Gente que vira as redes sociais do avesso. Não têm experiência de vida, OK. Não têm uma grande cultura geral, de boa. Não leram os clássicos e talvez nem os modernos, mas sabem se vender como ninguém. 

E hoje, é isso aí, a imagem vale mais do que mil palavras. E eu só entendo de palavras. Essa possibilidade me assusta. Sou um dinossauro. Meu chefe se formou em 2008. Ele me chama de doutora para zombar de mim. Duvidam? 

Mas eu estou fazendo essa digressão porque encontrei, em mais um fundo de gaveta, o texto que me deu 15 minutos de fama na Revista Boa Forma, da editora Azul. Tinha 26 anos e acabara de entrar sonhadora e repleta de boas vibrações no serviço público.

Naquele tempo eu fazia massagem no Guará I. Imagina hoje enfrentar um baita engarrafamento para fazer massagem em qualquer lugar fora do Plano Piloto? Imagina ter dinheiro e espaço para ficar fazendo massagem? O mundo é mesmo outro e eu estou cada dia mais pobre! KKK!!! 

Na casa da massagista, que se chamava Adriana, havia várias dessas revistas femininas típicas. “Quer dar uma olhada na Boa Forma? Acabou de chegar!” Peguei, folheei enquanto Adriana me amassava como se trabalha uma boa rosquinha de côco e aquela gosminha amarela cancerígena irresistível e, então, o concurso cultural estampado: “O que é boa forma para você?” 

Saí de lá decidida a participar. Escrevi meu texto. As dez ganhadoras passariam uma semana no SPA Sete Voltas, em Itatiba/SP, um dos lugares mais chiques e caros do Brasil. E não é que eu ganhei? Até hoje me divirto pensando no susto que tomei ao ouvir a mensagem na minha secretária eletrônica (é, o mundo é outro e ninguém mais nem sabe o que é isso). Ganhei! Ganhei! Ganhei! Liguei aos prantos para a minha mãe, igual a miss emocionada. Bernardo lamentou o fato de a promoção não permitir acompanhantes. 

Fui, com toda pompa e circunstância. Traslados etc. e tal. O SPA era lindo e elegante, cercado por majestosos haras. Adriane Galisteu estava lá. Luís Gustavo, o eterno Mário Fofoca, estava lá. Sílvia Popovic, a eterna bolota, estava lá. Globais, celebridades e riquinhos obesos paulistanos. Nunca havia me hospedado em um hotel tão fancy. Sem contar que era a mais magra das dez felizardas ganhadoras. Porém, ainda consegui perder dois quilos fazendo caminhadas matinais pelas estradas de terra. 

Depois, nossos rostinhos e frases de efeito sobre a experiência saíram nas páginas principais da revista e várias pessoas de Brasília me reconheceram da promoção. Não sabia que tanta gente assim lia a Boa Forma. Mico de primeira! 

Eis o texto (simplório) que quase me levou ao estrelato: 

Boa forma, para mim, é cuidar diariamente da auto-estima (naquele tempo, a palavra era separada por hífen, tá?). Nada mais importante do que se gostar aprendendo a valorizar nossas qualidades. 

Havia um tempo em que eu achava que tinha seios muito grandes. Além disso, acreditava que meu rosto meio-índio-meio-sei-lá-o-quê era por demais estranho para ser bonito. Que nada! Ser diferente é que é o verdadeiro barato! Seu eu tivesse seios pequenos, minhas coxas pareceriam ainda maiores do que são. Se tivesse um rosto comum, as pessoas não perguntariam: “Você é descendente de chineses, japoneses? Você é guatemalteca, panamenha?” 

Como é bom saber que posso ser como sou. É neste momento da percepção que a gente começa a investir no aprimoramento de nossos pontos fortes. Então, o que eu faço? Para os seios grandes, sutiã. Não tem saída. Desde os 15 anos eu procuro dormir de sutiã para não deformá-los. Foi uma médica quem me deu essa dica. Parece estar dando certo. 

Além disso, há os exercícios anti-queda. E aí incluo as outras partes do corpo. Balé por oito anos; jazz, ginástica localizada... Agora, descobri a hidroginástica e estou adorando! Não gostava de água não, mas venci o preconceito. As aulas são lúdicas e esportivas ao mesmo tempo. E água deixa qualquer pessoa mais relaxada e alto astral! 

Falando nela, beber água aos borbotões, cremes hidratantes e andar de bicicleta num domingo de sol também são ótimas opções para manter a boa forma. Entretanto, a minha mais recente descoberta é a massagem estética. Com a chegada da gordura localizada, fruto de uma alimentação cheia de chocolates e frituras, vieram as celulites, o maior monstro debaixo da cama de toda mulher. A massagem tem me ajudado a vencer essa batalha e estou muito contente! 

Mas eu sei que essa luta contra os vilões tempo e maus hábitos é duríssima! Nunca mais terei uma cintura de 65 cm? (Não, nunquinha mesmo!!) Nunca mais pesarei 52 kg? (Sim, até pesei alguns meses pós-SPA, mas never more) Será que a massagem vai exterminar minhas celulites?(Se eu tivesse continuado, quem sabe?) E os meus arqui-inimigos culotes me deixarão em paz? (Não!) E como ter uma dieta equilibrada comendo em self-services, nesta correria de quem trabalha, estuda e é dona de casa? (Nem sonhava em ser mãe, olha que inocência...) 

Tenho consciência de que estas respostas eu só terei se continuar lutando, com disciplina e muito gás, para manter a boa forma da mente. Cultivando a auto-estima com carinho, vai ficar cada vez mais fácil ser bela todos os dias. 

Diz aí: mereci ou não os meus dias de diva? 





Comentários

  1. Claro que sim Lu...ótimo texto, tudo a ver,boa forma e autoestima.Desde nova você já mandava ver na escrita,né?
    bjão!Namastê!
    Cynthia

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  2. Claro que não me espanta... a cabecinha de ouro que fazia jorrar palavras e mais palavras criativas em seus cadernos de escola, nas redações pedidas e também as não pedidas, escritos feitos por pura paixão pelas narrativas, estas ornadas com aquela letra redonda, grande e inconfundível que ia marcando indelevelmente as páginas e que eu, no auge da identificação contigo, tentava imitar no meu caderno...rsrsrs. Emília curiosa e perguntadeira, falante, escrevente, com uma folha na mão e mil idéias na cabeça, claro que ganharia este e mais tantos outros concursos culturais que desejasse participar... (Ih, até eu fiquei inspirada...rs)

    Bjs
    Patty

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