De nordestino e louco todos nós temos... e muito!





Brasília está cada dia mais nordestina. Não é uma afirmação preconceituosa, não me desvirtuem. Apenas uma constatação climática. 

Eu gostava mais da Brasília que tinha inverno e maiores ocorrências de tardes nubladas e chuvosas. Eu acredito que a chuva ajuda a gente a se ver... Não, não, vou mudar o verso do Caetano: acredito que a chuva ajuda a gente a pensar. Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro... Essas Djavanidades, entendem? 

Pegar ônibus é uma merda com chuva. Sim, é verdade. Ainda mais porque as vias, como a W3, acumulam água nos cantos e buracos e o pneuzão do busu passa sem a menor piedade, esparramando falta de educação e lama nos nordestinos que sofrem nos pontos para voltar aos lares-dormitórios da capital. 

Agora voltei para o carro. Não por que estava louca para fazer isso, mas somente porque o carro me permite não chegar tão atrasada no trabalho. Porque eu estou sempre me enroscando nos cabelos das pernas para sair de casa pela manhã. Daí, subir a pé até o ponto, esperar o coletivo e estancar de parada em parada vão acumulando preciosos minutos laboriosos que depois eu terei de compensar. 

E aí uma amiga minha me pergunta: por que você não gosta do ponto biométrico? Ué, porque gado a gente marca, mas com gente é diferente! Só por isso. Que adianta essa neurose de cobrar minutos das pessoas se não se cobra o que realmente importa? A tarefa bem executada e dentro do prazo. O comprometimento. A criatividade. Responsabilidade na marra nunca fez ninguém se tornar mais responsável. Moralizar pela via fácil, pelos atalhos, é bem a cara do Brasil. 

Agora o sol já está estalando lá fora. Ligamos o ar-condicionado. Esse texto começou para ser mórbido, contando que eu vi minha mãe morrer. Seu coração parou no meu ouvido esquerdo, canhoto como eu. Coisa que nunca mais se esquece mesmo! Mas aí descambou para o calor que estou sentindo por ter colocado uma camisa de malha com manga ¾. Será uma saída pela tangente do meu cérebro? 

Até hoje acho surreal a cena da morte de mamãe. Parecia um filme do tipo tocante de Hollywood. Eu lá, deitada ao lado dela, naquele quarto de hospital. Me aninhei naquele calor que aos poucos se esvaía... Pus minha cabeça em seu peito e após meia hora, 40 minutos da dose cavalar de morfina que imploramos para a médica injetar em quem nos deu amor, casa e puxões de orelha, senti que o coração de Maria havia parado de bater. Avisei as outras filhas que rodeavam a cama: 

- Acho que acabou. Mamãe morreu. 

E aí abracei o corpo ainda quente, todavia abandonado daquela mulher poderosa e chorei brutalmente. Esquisito pacas, mas terno também. Sei lá, vocês entendem. Se não, não posso fazer nada. O texto tem razões que a própria razão desconhece.

Tema do post:

http://www.youtube.com/watch?v=cg6emMO9lGk




Comentários

  1. Luciana,

    A historia comecou de um jeito e terminou de outro... As duas partes estavam interessante, a do onibus e a de voce e a sua mae... Mais eu nao entendi a coneccao... Sera que tem uma?

    Beijos, Eve

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    Respostas
    1. Não, não tem, querida Eve.

      O texto foi nascendo desta maneira maluca, sem conexões... Às vezes, quando escrevemos, parece que entramos num transe e os pensamentos vão surgindo e despejamos no papel, na tela... Eu quis deixar assim, como um exercício, como um esboço mental. Não quis lapidar. Postei um diamante bruto (olha que arrogância, achar que meu texto pode ser comparado a um diamante, mas é que foi a analogia que veio à cabeça agora).

      Um beijão e obrigada por ler minhas maluquices!!

      Lulupisces.

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  2. Eu queria ler mais, as duas historias estavam indo tão bem. Meus olhos queriam mais linhas... Mas acabou tão rápido :(

    Beijos e continue lapidando diamantes. Ou não. :)

    Bom feriado,

    Eve.

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  3. Que experiência profunda a sua...

    Um beijão, Lulu!

    Débora.

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