Apresentação de fim de ano




Hoje quero falar sobre paixão (pausa e olha nos olhos da plateia). Mas não a paixão mais reconhecida, difundida, debatida, que é aquela relacionada ao encantamento entre dois seres humanos. Quero conversar a respeito da paixão interior. Aquela que mora na gente como brasa, um sentimento profundo que nos move. Que nos faz prosseguir mesmo diante das adversidades.

Talvez seja uma boa época para se falar nesse assunto. Fim de ano, sabe como é... Momento de juntar os cacos, de pensar em outra etapa vencida e novas possibilidades. Talvez é vício de jornalista que não pode afirmar nada com 100% de certeza sem ter fontes realmente confiáveis. E como a fonte aqui é a minha própria mente prolixa, mais acertado ficar no quem sabe, que é primo-irmão do talvez.

Acredito que a gente precisa descobrir o que nos apaixona e alimenta esse fogo interno. A luz que não se acaba. Um ideal, a profissão, um esporte, um desafio... (pausa). Algo que nos complemente e nos faça viver mais intensamente, faiscando. Pois é esse impulso de dentro, a tal motivação tão cara aos gestores de RH, o que nos torna mais realizados. Isso me faz lembrar uma bela frase cujo autor/a não consigo relembrar: "Cavalgue um cavalo selvagem rumo ao sol pelo menos uma vez".

(Começam os slides de campos floridos, de pessoas em harmonia)

Eu não sei qual é a paixão de vocês. As minhas são um pouco inatingíveis, platônicas, enfim. Queria ser artista. Não atriz. Bailarina, escultura, pintora, ceramista, cineasta... Diante da absoluta falta de genes geniais, restou-me escrever. Que nem por ser fruto da exclusão é menos apaixonante. E como toda paixão que se preza, é deveras caprichoso. Dói na alma, dói no corpo. Agora meu ombro grita: faca torcida no trapézio. Óleo quente fritando sem piedade minhas articulações. Porém, escrevo.

Se ignorar esse chamado interior, nada mais restará de melodramático na existência e eu necessito da dramaturgia, da liturgia de descascar sentimentos mesquinhos e divinos em forma de palavras. Os escritos são boa companhia nessa mesa (não de bar, que nem para ser uma boêmia, doidivanas torturada pelo álcool  e fumo eu me presto). Sempre me identifiquei mais com os cafés de Paris do que com os pubs londrinos.

É claro que eu não descobri do nada esse comichão escrevinhador. Primeiro achei que o piano era a saída. Depois, que era o balé. Os idealizados permanecem amados, mas a escrita foi ficando maior do que eu. Nasceu a fisiologia do rabiscar palavras. O motor de arranque se tornou a paixão pela ideia de ser escritora.

E assim vou escrevendo pela vida. Meus filhos não receberão um legado de memórias esmaecidas, pois tudo o que penso e sinto está nesse blog, ao alcance da transparência. Quando penso nisso, sinto o quanto eles são abençoados. Do meu pai nada sobrou além de parcas fotografias e um poema em letra bonita. Meus rebentos não terão de fuçar baús ou abrir cartas amareladas atrás de segredos maternos. Aqui me salvo e aqui me dano.

Por isso, leitores, não se esqueçam de descobrir onde reside a paixão interior de vocês. Ou se já sabem, de manter a chama acesa. É o que eu gostaria de partilhar com todos. E se quiserem continuar me lendo e comentando, permaneceremos conectados nesse círculo que será, dada as boas intenções dos participantes, sempre mais virtuoso do que vicioso.

(Terminam os slides)

Obrigada!


Comentários

  1. Que belo texto Lu, suave e intenso, transparente, tão você...comungo com você, a paixão interna deve ser exposta, mantida acesa sempre, sempre e sempre...bj
    Namastê!
    Cynthia

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