Corra e olhe o céu* (antes que seja tarde)
Nunca vi nada tão exibido. Escancarado. Pra onde eu olho está ele, solene, mas ao mesmo tempo simplório. Se eu me sento à espera de alguém, ele abre brechas entre o concreto. Se eu dirijo, ele tomba na frente do carro como uma cortina ao fim do espetáculo. Porém é o início do flerte. Ele flerta descaradamente comigo. Cheio de volumes brancos, carneirinhos de algodão que anunciam o frio.
Na manhã é silencioso, espectral. Perfeição que beira à artificialidade. Na tarde, retumbante, opiáceo. Uns rasgos de sangue na tela azul. Varando as ruas, da janela, do parque, debaixo do bloco: presença. Certeza.
Mas ser exibido tem seu preço. A inveja quer lhe roubar. Quer lhe anular. A ira do Homem cada dia mais alta, na busca da prova de que também pode ser impressionante. Para qualquer lado, um gigante de concreto. As escalas, as projeções, o tombamento. Nada parece conter a brutal proliferação da cidade.
Agora uma arena monumental se ergue e apaga um bom pedaço do horizonte. Ninguém se dá conta de que nossa personagem mais importante é exibida porque pode. Porque tem permissão. Porque é o nosso maior legado. Porque é Deus.
Quem foi que disse que metrópole é sinônimo de progresso? Confusão de significados. Luxo é espaço. É praça habitada por crianças nos balanços vermelhos, jovens nas quadras de vôlei, velhos tiritando ao sol. Opulência é árvore frondosa. Chique é ser área livre, preservada da ganância.
Um dia a gente ainda chega lá. Vamos ser outra conurbação, outra aberração. Arranha-céus, não, arromba-céus. O firmamento ferido de morte. Esvaindo azul celeste até virar cinza-parede. A nova São Paulo esmagando seus cidadãos-formigas espremidos em ônibus, metrôs, apartamentos.
Nesse dia, sorte minha, eu já terei aceito a sua corte, amado infinito. E juntos enfeitaremos outras civilizações.
Tema do post(Cartola, na versão de Vanessa da Mata para a música que Bernardo escolheu para a minha entrada de noiva):
http://www.youtube.com/watch?v=ADODrzzmcyU&feature=related
Mas ser exibido tem seu preço. A inveja quer lhe roubar. Quer lhe anular. A ira do Homem cada dia mais alta, na busca da prova de que também pode ser impressionante. Para qualquer lado, um gigante de concreto. As escalas, as projeções, o tombamento. Nada parece conter a brutal proliferação da cidade.
Agora uma arena monumental se ergue e apaga um bom pedaço do horizonte. Ninguém se dá conta de que nossa personagem mais importante é exibida porque pode. Porque tem permissão. Porque é o nosso maior legado. Porque é Deus.
Quem foi que disse que metrópole é sinônimo de progresso? Confusão de significados. Luxo é espaço. É praça habitada por crianças nos balanços vermelhos, jovens nas quadras de vôlei, velhos tiritando ao sol. Opulência é árvore frondosa. Chique é ser área livre, preservada da ganância.
Um dia a gente ainda chega lá. Vamos ser outra conurbação, outra aberração. Arranha-céus, não, arromba-céus. O firmamento ferido de morte. Esvaindo azul celeste até virar cinza-parede. A nova São Paulo esmagando seus cidadãos-formigas espremidos em ônibus, metrôs, apartamentos.
Nesse dia, sorte minha, eu já terei aceito a sua corte, amado infinito. E juntos enfeitaremos outras civilizações.
Tema do post(Cartola, na versão de Vanessa da Mata para a música que Bernardo escolheu para a minha entrada de noiva):
http://www.youtube.com/watch?v=ADODrzzmcyU&feature=related
Lalaraia laia, laraia laia bom dia!!!Que linda canção.Lendo seu texto, imediatamente olhei para o céu, sou uma apaixonada pela sua imensidão,cor e vibração.Ainda temos o privilégio de poder em nossa cidade tê-lo muito presente acima de nossas cabeças e em todas as direções que olhamos lá está ele,mas confesso o meu medo enorme de perder esse contato tão direto.Em alguns lugares isso já pode ser percebido.Sabe ali indo para o parque da cidade?lembra que dali avistávamos a torre de tv?agora o que se vê?"arromba céus"tapa cèus em forma de hotéis...Deus nos livre desse mal.Belo texto,bela lembrança...bjão!
ResponderExcluirNamastê!
Cynthia
Deus nos livre, querida Cynthia!! Assim seja, namastê!!!
ExcluirBeijão,
Lulupisces.
Ô Lu, que textão,hein? Digno do céu que nos alimenta, amiga. Corramos e vejamos o céu já e sempre!! É como canta o Kid Abelha em outra música legal:
ResponderExcluir"Pra que eu me divirta
Basta um dia bonito
Usar a cor azul do céu
No meu vestido"
http://letras.terra.com.br/kid-abelha/83045/
Namastê
Isa
É isso aí, BelBel!! Muchas gracias!! Curti a letra da musiquinha do Kid. Não conhecia não.
Excluir"Vou mergulhar no mar
Mesmo com a água impura
E vou beber o vinho
Acima da temperatura
Prá que eu me divirta
Às vezes basta um sorriso
Às vezes uma palavra
É tudo que eu preciso
Vou correr atrás da bola
Até o juiz apitar
Trabalhar por prazer
Até o dia clarear
O dia tá bonito
Mesmo com temporal
E o Rio de Janeiro
Continua lindo
Vou mergulhar no mar
Mesmo com a praia escura
Vou gozar a liberdade
De uma vida sem frescura
Pra que eu me divirta
Basta um dia bonito
Usar a cor azul do céu
No meu vestido
Posso enxergar ao longe
No meio da cerração
Posso ancorar no espaço
A minha embarcação
A noite vai reluzir
Mesmo sem lua cheia
A vida será perfeita
Mesmo sem perfeição
Lemos (Lê e eu) esse texto no almoço. Está especialmente imagético. Acho que é por aí, parabéns!
ResponderExcluirLuiz.
Olá Lulu, obrigada pela força na peruca literária!!!KKK!!!
ExcluirBeijocas,
Lulupisces.
Belíssimo texto, Lu!
ResponderExcluirFátima Venceslau