Corações ao alto


“Só é possível te amar
Ouve os sinos, amor
Só é possível te amar
Escorre aos litros, o amor...”

(Nando Reis)
A manchete de segunda-feira estampava: “Casamentos civis e religiosos no DF perdem espaço para a união estável”. A notícia me parecia um contra-senso. Afinal, dois dias antes, casara minha sobrinha numa cerimônia que reuniu amor de sobra, franqueza de sorrisos e harmonia familiar.  Quem pode abrir mão de tanta coisa legal assim só por medo do papel?
E se eu falar que minha sobrinha é antropóloga, nada afeita às convenções, a matéria do jornal cai por terra? A juíza de paz que celebrou o casório também fez menção às pessoas que acreditam no fim do casamento e da família. Mas fez questão de deixar registrado que não acreditava nessa previsão quando estava ali, celebrando mais um matrimônio. Nem eu.
Casar é válido. Casar é bom. Acho que todo mundo deveria passar por essa experiência. Uma vez só já basta. Também não precisa ficar recasando duas, três, quatros vezes. Aí já rola masoquismo, né? Mas o que eu quero dizer é: casar com cerimônia mesmo. O ritual. Falo com experiência de sobra sobre o assunto, pois antes de me casar de papel passado, vivi com meu marido por cinco anos.
O testdrive foi longo. Demos a volta ao mundo a pé para saber se a gente precisava oficializar nossa história, dar satisfação para a sociedade, essas coisas. Que nada! Nem sei por quê a gente levou tanto tempo para fazer um festão e celebrar nossa caminhada de mãos dadas pela floresta escura. Contingências da vida que vai nos atropelando...
Porque a solenidade é tão bacana! É tão visceral casar! Mostrar às testemunhas nossa faceta mais frágil e envergonhada: o romantismo. Dar nas vistas que somos capazes daquela loucura despudorada por alguém. Que queremos gritar para o mundo todo ouvir: sim! E mais todas essas cartas e cenas de amor ridículas que fazem tudo valer a pena.
A cerimônia de casamento é uma pagação de mico fundamental. É um atestado de inocência pueril imprescindível. É a crença incondicional em anjos, contos de fadas e felizes para sempre. Casar vestida de noiva é coroar a feminilidade que se entrega delicadamente à proteção varonil do príncipe encantado. O yin e o yang enlaçados ao som de harpas, violinos, piano e até trombetas, why not? Até Richard Clayderman vale, se for essa a parada do seu sucesso amoroso.
Eu admito: adorei meu casamento. Deu trabalho organizar tudo aquilo. Mas foi inesquecível. E se eu soubesse o quanto faria minha mãe feliz como eu fiz naquele momento, teria segurado buquê, colocado chapéu e tirado fotos brindando com champanhe muito antes. Quem tem uma cerimônia de casamento no currículo, acredite, tem mais pontos com a infância eternizada.
Por isso, não case como se estivesse fugindo da polícia, sem firulinhas, no cartório. Case para todo mundo ficar sabendo. Para receber seus amigos, parentes queridos (só eles! Nada de chamar que não tem nada a ver com os noivos) e bênçãos do padre, do pastor, da natureza ou de quem mais lhe aprouver. Porque o que importa mesmo é a reunião de gente de bem, com alto astral capaz de gerar mil bombas de Hiroshima de amor.
Nesse sábado, quando vi minha sobrinha radiante em seu vestido que levou dois meses para ser encontrado numa arara de boutique e ser dela, só dela; quando vi meus filhos de pajens, compenetrados em participar daquele teatro mágico; quando fotografei tantos afetos; tive certeza de quanto vale uma cerimônia de casamento: suor, cansaço, dinheiro, nervosismo, lágrimas e a irrefutável esperança de perpetuar nossa humanidade mais límpida, aquela que está dentro de nós e, por isso mesmo, é mais próxima do divino.

Comentários

  1. Respostas
    1. Oi Paula do excelente blog "Chá entre Amigas"!!
      Bem-vinda ao meu blog!!!! Agradecida!!!

      Abreijos,

      Lulupisces.

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  2. Esse casório foi lindo mesmo... estilo romântico, diurno, ao ar livre, muitas flores, rendas, com jeitinho de cena final de filme... parabéns os noivos! É a Mariana que eu conheci pequenininha, né? Linda!

    É, concordo que é bem legal mesmo a cerimônia, mas para quem curte isso. De coração eu e Gustavo nunca sentimos essa necessidade e casar foi bom mesmo assim, com a mudança de status, do sobrenome, o uso da aliança... curtimos, do nosso modo. Bem, não posso falar muito, né, porque sou a que casou foragida da polícia que você citou aí em cima....rsrsrsrsrsrs

    Bjs
    Patty

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    Respostas
    1. Patty, eremita do meu coração,

      imagina se você iria casar com holofotes. Mas foi lá no cartório, fez o ritual. Isso já faz todo a diferença, não?

      Adoraria ter visto você de noiva e a Bruna de daminha... Mas fica para a próxima encarnação, certo?

      Beijão,

      Luzinha.

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  3. Luciana, adorei seu post. Concordo plenamente com vc. Uma pena não ter conseguido ir ao casamento da Marianna,mas já ouvi dizer que foi lindo!!!!

    Beijos,
    Rênia.

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  4. Lu, amei o texto! Como vc escreve com sensibilidade!
    Há coisas na vida que têm preço e valem cada centavo!!

    OOOOObrigada, bejs,

    Biva.

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  5. Luciana,lindo texto! Chegou o casório da sua sobrinha! Posta fotos! Quero ver a noiva e os meninos de pajens! =)
    Bjs,

    Denize.

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  6. Luciana,
    tudo bem?

    Sobre o seu texto (é assim que fala? Porque, na internet, a palavra "texto" parece meio fora do con"texto". (hi!Foi mal!!)

    Bom, o que importa é que concordo em tudo com você. O casamento, digamos, formal e público é um momento realmente muito especial. E, claro, o seu "texto" me fez relembrar do meu.

    Só o Juiz, sexta-feira. Sem festa ou convidados, mas com os padrinhos. O Ely, irmão da Eliane,que você conhece, e a esposa. A minha irmã e um velho amigo, lá de Pouso Alegre.

    Por ter muito tempo, o Juiz falou bastante, fez as vezes do Padre. Viu que a Eliane havia sido casada, me perguntou se eu sabia disso. Se eu conhecia os filhos dela, e coisas assim. Foi até engraçado. Foi muito legal, muito emocionante.

    E olha que eu não queria hein!! Achava que fosse bobagem esse negócio de casamento. O importante era "estarmos juntos".
    Mas hoje reconheço que fez e faz muita diferença. E olha que foi só no cartório, hein! (E a gente não estava fugindo da polícia!)

    Depois fomos para a nossa lua-de-Mel, que foi bem legal.

    Eu não sabia (ou não me lembrava) que vocês tinham ficado 5 anos juntos antes do casamento!

    Com a gente foi o contrário: a gente se casou enquanto ainda morávamos em cidades diferentes: eu em Pirassununga, e Eliane em Amparo.

    Depois, passados seis meses, ela veio pra cá. E cá estamos desde então.

    Um beijo,
    Paulo.

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    1. Dearest Paulo,

      fico sempre muito contente com os seu relatos. Adoro a sua participação efetiva no meu blog. É texto mesmo, uai!! Tem gente que fala post, mas eu mesma falo texto.

      O importante é casar, sabe? No cartório, na rua, na chuva ou na fazenda... O lance é ser protagonista do ritual. Deixar se levar pela emoção dele. E vocês dois deixaram. Então, perfeito!

      Abraços fraternos,

      Lulupisces.

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  7. Bacana Lu, muito bom o seu texto.Casar, no papel, na igreja,na praia,na gruta...não importa.A união,a aliança , o pacto de coração, mente e corpos é o que vale.Comemorar o enlace fica a critério de cada um, não é mesmo?
    bjinho...Namastê!
    Cynthia

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  8. Oi, Lu.

    Achei muito fofo esse seu texto (desculpe o 'fofo', mas fui impelida pela leitura). Quando quiser sair pra trocar umas idéias bobas, me liga.

    Bj,

    Daniela.

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    1. Amada Dani,

      que prazer incomensurável ver você no meu blog!!!! Nossa, o que uma cerimônia de casamento não faz, não é mesmo?:) Todo mundo se derrete e é esse o grande barato desse papo de casar.

      Claro, sempre estou pronta para trocar ideias com acento e e sem acento com você!! Você mora no meu coração (para manter a atmosfera derretida do post...)

      Vamos nos encontrar amanhã? Cê pode? Bernardo está viajando e então a gente poderia fazer um programinha fim de tarde em algum lugar com pôr-do-sol... Sei lá, Pontão?

      Beijos,

      Lu.(lupisces)

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  9. Que bonito, Lulu, emocionei. Veio tão bem-vindo no dia de hoje. Agradeço!

    Marianna Holanda

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