Crepitando

"Eu queria estar perto do fogo, no umbigo do furacão". O Cazuza inventou essa letra pensando em mim. Todavia estou presa num sarcófago, luzes artificiais. Baias nos separam como animais. Ambiente insípido, inodoro e incolor, mas não é água. Porque é água é bom. Estou presa numa masmorra moderna chamada escritório. E o mais grave: escritório criado por Niemeyer, que só ama as formas, jamais o conteúdo.

Da rede chegam alentos à minha criatividade e eu tento manter o fogo da criação aceso. Mas esse lance de atiçar fogueira cansa... Porém, de algum lugar tem de vir algum elogio, concordam? Nem que seja de Curitiba, São Paulo, Inhumas! Não que eu tenha algo contra essas paragens, imagina. Acontece que aqui nesse inferno de Dante não tenho a menor chance de ser reconhecida pela minha escrita e nem por outra coisa qualquer. Vou recomprar "O Grito" no próximo leilão porque aquele ali sou eu no serviço público.

Mas é esquisofrênico como as pessoas acham que eu reclamo de barriga cheia. Afinal, quantos milhões de brasileiros sonham com o serviço público... O problema é que as cifras não sabem que apenas alguns códigos genéticos se adaptam à rotina excruciante da medianidade. Sem ofensa aos meus ótimos e capazes amigos que não sofrem de alergia à burocracia, please!

Não que não haja bons cérebros na Administração Pública. Às vezes eles estão no lugar certo e com o poder nas mãos. Mas é só às vezes (e sendo bem otimista). No mais, é mais do mesmo. Tédio com o T bem grande pra você. Escrotidão. Processos inorgásmicos.

Colori minha estação de trabalho esperando por um trem que me leve para longe daqui. Postais de vivacidade contrastam com os meus colegas sem imaginação. Adoraria que eles lessem esse texto e me colocassem, de uma vez por todas, no cadafalso. Seria hilariante ver a reação do público de Brasília, a meca da mesmice atrás das mesas; do peleguismo profissional, às minhas palavras sem adornos... Quantas vozes ofendidas se levantariam para dizer: recalcada!

O serviço público é tão bipolar que você começa a entender que é melhor fazer uma atividade mecânica, sem insigths, do que algo que use parcialmente a sua inteligência e lhe dê fagulhas de esperança que serão, inevitavelmente, apagadas com pressa antes que se alastrem e espalhem o incêndio para a floresta inteira.

Antes que alguém acredite que eu vou me matar, pois meus textos são mesmo confessionais, informo: escrevo exatamente para que isso não ocorra. Para que a luz se acenda no fim do túnel e eu busque a saída desse labirinto sem novelo de lã.

A bailarina voa com os braços em asas e eu rascunho os meus sonhos... Haverá o dia em que não serei mais escrava do ponto biométrico e do salário. Pois "é preferível para a alma humana, fazer maus versos a não fazer nenhum".


Tema do post:

http://www.youtube.com/watch?v=EzSuQQ-9uls



Comentários

  1. Lu querida, te entendo, consigo até sentir o grito sufocado,pois passei por isso, aguentei durante 14 anos e há exatos 16 me libertei...PDV!(Programa de Demissão Voluntária), e não pense que tinha racionalmente condições para tal,porém foi muito mais forte o chamado interno.Na época não tinha nenhuma certeza do que faria, mas sim, daquilo que não queria para mim.Meditei, pedi a Deus em mim, presença, foco e foi aí que as coisas clarearam e foram fluindo.Hoje me sinto muito feliz, realizada e confiante que dei os passos certos.Dons e talentos sopram em nós quando criamos aquele espaço de escuta interna,imagine quem já reconhece esse dom, esse talento...apenas permita que ele se manifeste, faça o que tem de fazer e tudo mais fluíra...é assim, é o que é.Ouça a voz que vem do seu coração, ele nunca erra, mas devemos estar alertas, conscientes, presentes para saber decifrá-la.bj grande...paz profunda...Namastê!
    Cynthia

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    1. Cynthia, espero ansiosa pelo meu PDV!!!

      Seria interessante, sabia? Você teve filhos cedo e isso deixou você com mais flexibilidade no momento preciso.

      Vamos que vamos. É engraçado como as pessoas reagem de modos tão díspares quando leem palavras incômodas...

      O serviço público nunca foi uma opção para mim. Trabalhei na iniciativa privada por cinco, seis anos e resisti como pude ao concurso (me inscrevi em vários e não ia fazer as provas). Eu sabia que o serviço público não iria acomodar a minha alma inquieta porque minhas irmãs mais velhas já estavam nele e me pareciam um tanto frustradas profissionalmente.

      Mas agora estou aqui e vou administrando. Não sou a única decepcionada e sem saída. A maioria dos meus colegas do Tribunal está na mesma. Isso é o mais grave.

      Besos,

      Lulupisces.

      Um beijo

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  2. Luciana, fazer versos ruins tudo bem, mas cadafalso com ç nem na pior das masmorras... kkkkkkkkkkk estou de trolagem, vc sabe que não ligo pra essas convenções artificiais da língua escrita, ao menos em se tratando de e-textos. e, no mais, o que te amarra no serviço público? vc não encararia uma vida de autônoma? é só uma questão de se planejar. bjs
    Luiz

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    1. Querido Lulu,

      escrever de tacada e publicar é só para quem tem coragem, sabe?:) Ninguém revisa meus textos além de mim mesma. Obviamente não sou tão incrível quanto quero parecer!!!:)

      Vou mudar o cadafalço... Mas sabe que aqui cabe bem essa palavra falsa? Eu sempre brinquei que no Tribunal o fundo do poço era falso. A gente chegava ao fundo e percebia que ainda tinha muito mais pela frente...

      Bem, me diga como encarar uma vida de autônoma se perdi todos os contatos nesses 15 anos de obscurantismo no serviço público? O blog é uma tentativa de me tornar, novamente, viável para o mercado.

      Mas, por enquanto, ainda não rendeu nenhum convite, nada. Minto: uma amiga que é dona de uma mini editora está lendo uma coletânea dos meus textos para, quem sabe, transformar em livro. Que sonho!!

      Eu tenho uma dívida de 70 mil reais para pagar com o banco por causa da reforma do apê. Eu preciso, pelo menos, quitar isso para que eu tenha alguma mobilidade.


      O problema é que nessa profissão de jornalismo e publicidade estar no serviço público significa, para os colegas do mercado, a morte. Ninguém mais lembra de você porque acha que você já se acomodou, já se refastelou e essas coisas todas ligadas ao imaginário do serviço público que, infelizmente, tem muito a ver.

      Então sigo aqui aberta aos desafios. Se alguém quiser me contratar, estou aqui. Adoraria fazer freelas novamente até voltar a ser um nome lembrável.

      Já falei com a esposa do meu sobrinho que trabalha na Sicoob que eu quero ir para lá. Fico esperando surgir a vaga de consultor sênior. Porque também rola isso: não dá mais para me candidatar a vagas de jovenzinhos pelo simples fato de que o meu currículo é overqualified para a posição.

      Eu já tentei, mas ninguém vai contratar uma mulher de 41 para fazer trabalho que um de 20 faz ganhando bem menos.

      Dilemas, my friend, dilemas... Me coloca aí nos seus canais autônomos, please!!

      Beijos,

      Lulu2

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  3. sinto muito pela aridez desse ambiente onde você passa tanto tempo, Lu. ambiente de trabalho que oprime é mesmo algo infernal. imagino também que você vai responder ao Luiz da forma como tantos amigos servidores costumam falar do que os mantêm na carreira, mesmo se estão infelizes: a estabilidade, o ganha-pão garantido e necessário não só para você, mas para a família. se sair desse trabalho é uma questão fora de cogitação, minha sugestão é que você se inspire em algo que deu muito alívio à minha irmã: faça as pazes com sua própria escolha. há vantagens e desvantagens em rigorosamente tudo na vida, mas estando estando consciente do porquê de ter feito cada escolha, tudo fica mais leve. como diria a Cynthia (hoje me referi a todos os comentaristas acima de mim!!): Namastê!! Beijos, Débora

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    1. Deboratti, beibe,

      o problema é que não foi bem uma escolha. Foi um "dá ou desce", entende? Não é o seu caso, que largou o jornalismo e decidiu virar diplomata porque quis, pois já havia conquistado nome no mercado, respeito e autonomia financeira.

      Publicitária em Brasília? Roubada total. Não havia muita coisa a fazer a não ser ficar empregada e desempregada, empregada e desempregada a cada troca de clientes.

      Aí eu já estava casada e precisava ajudar no relacionamento financeiro também.

      Sei lá, deveria ter feito um reward e terminado meu curso de Antropologia. Deveria ter abandonado o STJ quando ainda não tinha filhos. Mas eu acreditava, de verdade, que era possível fazer um trabalho bacana para levar informações judiciais para todos os brasileiros. Eu era muito idealista, sabe? E fui ficando e de repente já estava com filhos.

      E agora não dá para chuta o pau da barraca e colocar os dois em situação de risco econômico (sem convênio médico, por exemplo). Se fosse só eu e o Bernardo...

      Não ligo para estabilidade. Isso nunca me prendeu no serviço público. Gosto de mudanças, de desafios. O problema agora é que estou muito longe do mercado há muito tempo. Não sei como reverter essa história.

      Mas, como já falei ali em cima, o pior de tudo é: EU NÃO SOU A ÚNICA DESILUDIDA. A reflexão tem de partir daí. Por que o serviço público acaba com o moral de boa parte de seus super qualificados servidores? Isso é que tem de ser discutido e mudado se nós quisermos ter um país mais decente.

      Beijim,

      Lulu.

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  4. Por sinal, a gente podia ter o direito de editar os próprios comentários aqui, né?? Assim eu consertava o "estando estando" aí de cima :)
    Bjs, Débora.

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  5. Luciana,

    eu sou uma pessoa muito prática. Você está nesta situação sufocante há muito tempo. Então existem as seguintes opções:

    sair e encarar o mercado privado;
    sair para outro órgão público;
    ficar;

    Nenhuma das três soluções é de fácil implementação. Digamos que você conseguisse sair e encarar o mercado privado... Que surgisse uma oportunidade excelente e que estabilidade não fosse o problema. Você abriria mão do recesso de Janeiro? De tirar férias na hora que quisesse? De poder planejar as suas férias? De não ter que levar trabalho para casa? De ter horário fixo para trabalhar? Porque quem está no mercado privado sabe que isso não existe para eles.

    Digamos que você decidisse encarar os estudos e passar em outro concurso.É impossível? Não. Mas exige muita dedicação. Talvez você nem fosse ganhar mais, mas existem bons ambientes de trabalho, até no serviço público.

    Mas, pelo menos até agora, você escolheu a opção mais difícil: ficar. Você não quer enfrentar o fantasma da incerteza do mercado privado e muito menos as horas de dedicação a um novo concurso.

    Então o que te resta é ficar. E sabe porque esta é a opção mais difícil? Porque envolve você mudar a forma como você encara o seu local de trabalho.

    E vou dizer a você o mesmo que digo a Adriani: a única coisa que você pode fazer ficando é parar de reclamar. É aceitar que você escolheu um lugar medíocre para trabalhar e não está fazendo absolutamente nada para mudar isto.

    Quem sabe se criticar menos os seus colegas até se torne mais suportável trabalhar com eles? Será que eles são tão acomodados assim? Será que eles não são criativos? Ou será que eles simplesmente escolheram dançar conforme a música para não sofrer este tipo de revolta?

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    1. Larinha, darling, isso não é ser prática, é ser dogmática. KKKK!!

      Parar de reclamar? Você ficou maluca? Eu vou parar de acreditar nas coisas que eu acredito: lealdade, honestidade, justiça, competência, empenho, criatividade, inteligência, coleguismo, respeito, capacidade de mudança?

      Você, que um dia me chamou de menina versátil, quer agora que eu engula todos os meus valores para fingir que o serviço público não esmaga seus servidores?

      Não vou parar de reclamar não, querida. E não vou fazer outro concurso público porque o problema não é o salário, não é o STJ. É o serviço público. A maneira como as coisas são feitas aqui dentro. A politicagem, a picaretagem, as falácias, o embotamento do saber.

      Quanto a encarar o mercado privado, não tenho o menor medo disso. O problema é que o mercado não quer uma mulher que perdeu 15 anos da vida profissional dentro do serviço público.

      Todas as coisas que você listou eu já vivo aqui no STJ. Tenho horário rígido, já levei trabalho para casa mil vezes, não posso tirar férias na hora que eu quero mais, não tenho recesso de janeiro mais...

      Você não percebeu que o serviço público arrancou todas as beneces (algo justo) e deixou só as chatices (algo injusto)? Agora nós temos todos os horrores do mercado, mas sem os benefícios do mercado: motivação, desafio, cobrança de metas e produtividade, promoções...

      Poizé, meu bem, eu não danço conforme a música jamais. E é exatamente isso que me incomoda nos meus coleguinhas. Que bom que não incomoda você, certo?

      Abreijos,

      Luciana.

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  6. Excelente texto!
    Imagino a sua agonia... Me dá aflição só de imaginar!
    E escreva muito... Catarse!

    É bom pra você relaxar e equilibrar. É bom para os leitores que têm a oportunidade de refletir sobre o tema amargo,indigesto e tão desejado por muitos.

    O que não é colocado pra fora vira veneno dentro do corpo... Mata!

    Infelizmente a escravidão branca é inevitável, pelo menos até determinado ponto da vida. Estou quase terminando minha metamorfose e saindo do casulo. Vou me libertar em breve!

    Beijos e boa sorte!

    Rodrigo.

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  7. Amado sobrinho,

    sim, vamos todos sair do casulo, né? Quem sabe essa herança tão tristemente atravancada deixada pelos seus avós me abra algumas portas? Quem sabe? É de se pensar... Você tem alma inquieta como eu. Tenta de tudo... Acho que está na hora de também voltar a me arriscar.

    Um beijão,

    Lulupisces.

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  8. Arrasou no texto Lu!!! Me identico muito com suas angústias. Eu nunca persegui estabilidade, por mais que a minha geração não pense em outra coisa.

    Por isso, estou super hiper inclinada a ter meu negócio. Ando pesquisando possibilidades... Any suggestions? Mas pelo menos tirei da cabeça essa história de que tenho que me encaixar nesse perfil burocrático, mediano e usurpador de encantamentos.

    Abraço grande,

    Marina.

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    1. MarinaMorenaDescolada,

      faz muito bem!!! Eu até me animo a entrar de sócia do seu negócio... Hum, o que poderíamos aprontar nessa cidade, hein??? Mas por enquanto estou sem capital. Entretanto a herança da minha mãe vai sair em algum momento e, quem sabe, não é o momento de investir em algo meu, além de um imóvel, né?

      Produtoras culturais? Feirinhas, livros, saraus? O que poderia ser? Você tem gás para tudo isso e muito mais, menina!!

      Beijão,

      Lulupisces.

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  9. Que é isso, Lu??... Li e fiquei até preocupada...

    Nossa, esquizofrenia e cadafalso? Meu Deus, o que há com minha amiga? Acho que vc está muito estressada com esse STJ, talvez no TJDF vc encontrasse mais ânimo para acompanhar, na assessoria de comunicação, o andamento da Justiça (aqui é bem mais animado, pelo que vejo)... Bj para vc, e ânimo, viu?

    Ana Claudia.

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    1. Ué, Ana, isso é o serviço público para os zé ninguéns.

      Claro que há gente que gosta dessa vida paquidérmica e de conviver com a troca de favores e a politicagem, ao invés da meritocracia. Mas eu, sinceramente, não sou essa pessoa.

      Sim, adoraria sair do STJ amanhã. Você pode me levar para o TJDF? Alguém com algum poder pode me tirar daqui?????? Pelo menos mudar de ares, de pessoas. Não que eu acredite que o trabalho seja infinitamente diferente ou mais desafiador, mas já seria uma mudança. E eu adoro mudanças.

      O maior problema é que não sou apenas eu a desmotivada,a infeliz. É a maior parte dos servidores. Melhorar a prestação da Justiça passa por melhorar as condições de trabalho dos servidores. E isso envolve estabelecer metas, reconhecer a produtividade como o único caminho rentável e essas coisas que existem nas empresas privadas.

      Porque aqui já existe a parte chata da empresa privada: cobrança, horários rígidos, chefes desagradáveis. Mas não tem a parte boa: recompensas por bons trabalhos produzidos, reconhecimento, promoção, treinamentos constantes, reciclagem, viagens de negócios...

      É isso aí, my friend! Sorte sua que teve a boa ideia de se tornar juíza. Deveria ter ouvido minha madrinha e ter feito Direito. Hoje seria muito mais free como promotora.

      Beijão e não se preocupe. Eu nunca me matei. Não vai ser agora, né?:)

      Lu.

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  10. Acho que você tem sido sub-aproveitada (ou subaproveitada? Não sei...) no seu trabalho, e é isso que te traz insatisfação.

    Claro que as divisórias e o ambiente sufocante que (acredito) existe no STJ também conta, né?

    Eu, pelo menos, tenho uma janela que dá para uma quadra de esportes da escola pública aqui do lado, e de vez em quando me permito assistir ao futebol dos meninos na educação física (uns com tênis, outros de chinelo, outros descalços, que diferença da escola dos meus filhos...hehe).

    Mas então, o jeito é olhar o lado bom, e seguir em frente, não?

    Bjs,

    Ana

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    1. Dear Ana,

      com certeza faz toda a diferença ter uma janela... Seria menos opressor e desumano.

      Mas não sou eu apenas, digo novamente, a única a ser subaproveitada, meu bem. A torcida do Flamendo inteira do serviço público se encontra na mesma situação.

      Já vi colegas surtarem - literalmente - pela falta de perspectiva que é o serviço público. Eu ainda tenho muito arrogância e petulância. Isso vem me salvando da depressão profunda porque isso aqui é máquina de destruir sonhos, querida!!!

      E não é só no STJ. É em todo lugar. Tenho amigos super bem pagos na Câmara que também perderam o encanto.

      Minha irmã era apaixonada pelo trabalho no Ministério da Agricultura. Uma agrônoma competente e viciada em seu ofício. Aposentou-se sem brilho nos olhos, totalmente frustrada porque tudo o que ela construiu lá no Mapa foi por água abaixo com uma canetada política. Toda uma política agrícola jogada no lixo...

      Minha amiga veio de um mestrado em Ilustração em Portugal e teve de ir trabalhar no RH, fora da área em que ela se especializou só porque a sua área inicial é Psicologia. Fica lá, subaproveitada como quase todos. Sem perspectivas de ver a carreira decolar.

      Carreira no serviço público? Piada!!!

      Essa é a realidade, Ana. O serviço público privilegia os inúteis, os puxa-sacos, os amigos do rei do momento. Não está nem aí para quem tem ideias de verdade. Quem pode fazer uma boa chefia, um bom projeto. Claro, há ilhas de excelência aqui e acolá. Mas boa parte dos servidores muito bem qualificados está à deriva. Sou uma delas.

      Beijão,

      Lulupisces.

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  11. Caramba! Como isso aqui tá rendendo, terá fôlego pra ler meu post? A professora funcionária pública aqui pode choramingar um pouquinho também? rsrsrsrs. Na verdade, a minha situação é estranha, mas hoje a considero boa. Sou fucionária pública, mas contratada! Ou seja, me considero uma free-lancer do serviço público! rsrsrs. É, escolho minhas aulas, escolho as escolas que quero ou não trabalhar. Eu gosto dessa liberdade! Fiz concurso agora, mas sabe que talvez não gostasse de ser efetiva em uma escola só? Vai que é um inferno! Deus me livre! Eu agora alcancei um status no qual eu não fico sem contrato, não fico desempregada, isso é bom. Apesar dos pesares da escola, (baixo salário, alunos terríveis, desvalorização, levar trabalho prá casa, etc), há vantagens... feriados imendados, férias no meio e no final do ano (junto com as férias dos filhos), poder tirar o dia de aniversário de folga, isso dá um descanso prá gente! Além disso, diretoras, coordenadoras, não me chateiam, não pegam no meu pé, me cobram com delicadeza. Se vc faz tudo direitinho, não tem aporrinhação, afinal, sou funcionária é do governo, entende? Não é escola particular né, nesse caso, aí é um saco. Além de tudo, o trabalho educativo é muito criativo. É bom ensinar (qdo os alunos deixam...rs) e até rir com eles, passar momentos agradáveis. Me conscientizei de tudo isso...

    Lembro de vc na época do free-lancer, até visitei uma agência em que vc trabalhou... vc não estava muito satisfeita, no sentido de não sentir o seu trabalho valorizado. As pessoas da agência meio blasé contigo, por aí... pensei que daí vc passou para o serviço público. Mas acho que a tua é, realmente, o trabalho criativo, nada de rotina chata, chefe, rigidez... voar!

    Eu só gostaria de ter um salário melhor! (prá não dizer que não choraminguei um tiquinho...rs)

    Bjs
    Patty

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    1. Claro, Patty, sempre tenho fôlego para os fiéis leitores dessa catarse chamada blog!!:)

      Mas ser professora é outro departamento. Pode ter todas as intempéries do mundo, mas tem dinâmica, evolução. Você vê o resultado do seu trabalho estampado nos rostos dos alunos. Você consegue fazer algo por alguém. Se um ou dois estudantes chegarem ao final do ano tocados pelo saber, já é uma vitória incrível.

      Além disso, você tem autonomia... E autonomia no serviço público é uma bênção.

      Então o seu trabalho é gratificante. Ponto. Tem vários contras, mas vários prós. Todo trabalho é assim,tirando aqueles em que os contras pesam demais, caso em que me encontro.

      Ontem eu revi "Sociedade dos Poetas Mortos". Ontem eu tive coragem de fazer isso porque eu nunca quis rever esse filme que mexeu muito comigo. Exatamente porque eu sempre sonhei em ser um Mr. Keating. Eu queria fazer a diferença na vida das pessoas. Captain, my captain! Queria revolucionar, mudar, tocar as pessoas com suas vidas de mariposas pregadas nas paredes. Mesmo que isso custasse dores incríveis.

      E então eu revi e chorei muuuuuuito porque, de lá para cá, o que eu fiz mesmo? O que me tornou digna de ser uma cidadã? É, reflexões.

      Que bom que você está mais em paz com a sua profissão, amiga!

      Beijos,

      Luzinha.

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  12. Nossa como rendeu este assunto...sabe porque? conseguir unir o útil ao agradável passa pela fé de reconhecer "Aquilo" que em nós clama por se expressar, nossos dons e talentos,entrar em contato com a energia que nos move,e com fé, direcionar e dar os passos firmes certeiros,e aí, sem volta...iremos ser conduzidos para o cumprimento do nosso dharma(aquilo que deve ser feito, é o nosso propósito,que nos sopra internamente, quando refletimos sobre a nossa verdadeira missão aqui nesse planetinha).Sabe Lu, não sei se foi sonho ou sono lúcido...imaginei você, fazendo uma experiência de por um tempo tirar uma "licença sem vencimento" só para se dedicar aos seus escritos,deixando aflorar o seu poder criativo, que é o que pulsa muito forte em você.Na real...consegui te enxergar muito,mas muito feliz mesmo, só escrevendo...escrevendo e lançando o seu livro, noite de autógrafo e tudo mais.E também você não só se tornou uma escritora muito conhecida, como também revelou-se uma artista de primeira na arte de pintar...muito louco...de repente senti que assim, você teria solucionado o seu dilema,pois se permitiu ouvir o chamado interno, dando literalmente um chute na bunda do serviço público.Que viagem!!!!
    Bj.Namastê!
    Cynthia

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    1. Super Cynthia, nada mal!! É mesmo tudo que eu pediria a Deus!!!:)

      Pintar? Bem, isso ainda não sei fazer MESMO!!!

      Agora a licença sem vencimento pode ser uma boa... Fazer um mestrado em paz, de repente ir para a academia lecionar... Algumas pessoas me disseram que eu deveria ser professora, que eu tenho muito conhecimento para compartilhar. Talvez seja uma ideia interessante, apesar da minha falta de paciência.

      Mas só posso tirar a licença sem vencimento se:

      - sair o inventário da minha mãe e eu puder quitar a minha dívida com o banco agora.
      - ou esperar mais dois anos e quitar a dívida.

      Estou torcendo bravamente para que o inventário da minha mãe seja concluído, enfim, para a gente poder vender os imóveis e cada um resolver a sua vida.

      Beijão e adorei o sonho!!!

      Lu.

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  13. Loo Linda, chegando atrasada por aqui, vou me juntar um pouco ao que disse todo mundo. E, aliás, ao que você também disse lá no FB: você queria ser escritora, inventora, criadora de moda, ativista (?! essa é por minha conta) cultural, algo bem pipocante e criativo, e por isso está aí, se acabando (exagerei!) na masmorra do STJ. Porque o fato é que o serviço público está mesmo muito chato para nós que somos polivalentes, mas não porque não reconhece o que se faz, porque isso pouco fez (se é que já fez) e sim porque está acabando com muitas mordomias que nós tínhamos, o que tinha mesmo que fazer. Por isso está mais rígido, mais chato e mais desgastante. Melhorou nesse sentido (de acabar com um recesso que é pago pelo povo - acabou só para os funcionários, o que é uma jogada de imagem, concordo com você -, com horários flexíveis pagos pelo povo - e que poderiam ser melhor aproveitados, concordo plenamente com vc, é tudo mal pensado, concordo com isso), mas não melhorou nos outros, ou está melhorando muito lentamente, nada que o olho humano consiga perceber. Mas o seu maior sofrimento é pipocar por dentro e não pipocar pra fora. E outra coisa: você está iludida com a iniciativa privada. A iniciativa privada não te reconhece em 90% (devo estar sendo otimista) dos empregos. Ela te explora. E muito. E paga mal na maioria das empresas. Mas deve haver, certamente há, mesmo num país ainda engatinhando como o Brasil, lugares em que se é mais feliz no trabalho, no entanto, e eu sei que vou dizer o óbvio pra você, também há chatices nesses lugares. O médico mais realizado do mundo também tem seus momentos de desprazer, porque às vezes ele tem que ser administrador, às vezes ele tem que ser atendente do público (e vai que ele odeia) e por aí vai. Resta-nos mesmo balancear o ônus e o bônus. E também balancear nossa coragem e nossa fraqueza, ou nossa ambição e nosso desprendimento ou seja o que for que interfere nas nossas escolhas. Tem quem jogue tudo pro alto e vá morar em Jeri, com filho e tudo (como a gente encontra às dúzias lá). Mas eu não tô aqui pra te dizer pra ir pra São Jorge (só a passeio), e sim pra fazer as pazes com a sua escolha, seja qual for. O STJ é uma masmorra, mas é aí que você quer estar, pelo motivo que for, mesmo se sentindo muito mais vibrante do que esse lugar te permite ser. Talvez seja um tempo de amadurecimento para se libertar. Enquanto isso, o blog te ajuda, escrever um livro, a partir desse blog ou do que você já tem, também te ajuda, e quando o inventário da sua mãe sair quem sabe algo ou muitos algos terão amadurecido? Dizem que o tempo de Deus é sábio. O resto é com a gente (a paciência principalmente).
    Muitos beijos com amor procê.

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  14. Olá aMáda,

    ir para Jeri seria uma ótima ideia!!!! Aliás, é o que pretendo fazer assim que os meus filhos puderem caminhar com as próprias pernas: morar perto do mar. Em um lugar de paz nas cercanias de um lugar cosmopolita qualquer. Unindo o útil ao agradável: silêncio e cultura quando eu quiser.

    Jamais estive iludida com a iniciativa privada, minha flor, porque, como você sabe, eu trabalhei nela por cinco, seis anos. Sei que é máquina de moer gente também. Se esqueceu que eu trabalhei em São Paulo e tive que bater ponto 4 vezes por dia? Eu era proleta, andava de metrô e ônibus. Sei bem como funciona. A escravidão branca, como dizem.

    Mas a iniciativa privada é mais dinâmica e eu sinto falta disso. Não aguento o cagaço dos servidores públicos que estão sempre com os dois pés atrás. Sempre freando as iniciativas inovadoras. Isso é o que mais me incomoda.

    Quanto mais estabilidade, mais as pessoas têm medo de voar. A estabilidade detona o serviço público. Acomoda, cria mofo, cria tédio.

    Estou pensando em tirar uma licença sem vencimento após o pagamento do meu empréstimo consignado. E aí farei um mestrado, quem sabe?, e abrirei outras portas. A porta da academia, por exemplo. É um lugar com autonomia e dinamismo que pode ser bem interessante.

    A questão do meu trabalho ultrapassa o trabalho em si. Aqui é um lugar doente. A Comunicação é doente. As pessoas, ferozes, ambiciosas, desleais. O ambiente é hostil. Não há possibilidade de coleguismo, companheirismo, quiçá amizade. E isso, óbvio, deixa tudo à beira do insuportável. Mas isso sou eu quem vivo e só eu sei o que é. Aliás, só eu e outros poucos que também agonizam aqui dentro.

    Mas no final do ano também rola uma mudança de setor, se nada mudar com a nova presidência.

    Abracitos e obrigada pelas considerações,

    LOo.

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  15. Oi Lulupisces!
    Como promotora voce seria muito mais "free", sim. Poderia chegar no gabinete 13h30 e sair as 17h. Poderia faltar toda segunda ou sexta pra emendar o fds, ou qualquer outro dia da semana sem a Corregedoria nem sonhar que voce nao deu as caras no trabalho. Seria mais "free" até mesmo do trabalho em si: poderia passar tudo para seus estagiarios, oficiais e analistas e ficar de papo no telefone. Até mesmo das audiencias voce teria como fugir. Tem muito juiz fazendo audiencia sozinho (e tem muito assessor de juiz fazendo audiencia sozinho também). Isso sem falar na "freedom" financeira...!
    Mas saiba que a maioria deles se sente exatamente como voce. Também estao presos na masmorra, apenas recebem (muito) mais regalias.
    Mas nao queremos compensaçoes por abandonar nossos sonhos, nao é mesmo? Entendo seus sentimentos perfeitamente. Também estou buscando meu caminho pra sair da "masmorra". Beijos e boa sorte.

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