Pede com jeitinho

Eu não gosto de instituições financeiras. Quem me conhece sabe. Recordo minha cara amiga Lara me chamando para brincar de banco, mas quando via aqueles formulários rosas, amarelos e brancos que o pai dela, bancário do BB, trazia para a filha se divertir, eu fugia da brincadeira como diabo da cruz... Resultado: ela é contadora e eu? Sonhadora.
Meu marido pediu para eu ir ao BB para saber mais sobre a possibilidade de recalcular nosso empréstimo consignado por causa da reforma. Eu adiei a missão até quase o limite da exasperação do meu marido. Não faço meu imposto de renda, não pago carnê. Sou uma débil mental dos extratos, CDBs e borderôs...
Mas então sentei na frente do gerente da minha conta (que na verdade é do Bernardo. Sou apenas a titular-laranja, entendem?) com a agenda em punho para anotar tudo o que ele falasse. Tenho memória de elefante para contos, aniversários, lembranças de infância, cartas de amor, filmes, rostos, nomes... Porém retransmitir tudo o que japa manager dizia ao meu marido seria praticamente impossível. Eu comecei a divagar no momento em que ele fez o primeiro cálculo.
Tem amiga minha que não acredita no grau de dependência que eu adquiri do meu marido na administração do caixa familiar. Às vezes, nem eu, a porta-voz da emancipação dos pares de seios. Mas todo mundo tem um calcanhar de Aquiles e o dele é exatamente o de não ter memória de elefante para aniversários, presentes, lembranças de infância, nomes, rostos, filmes. Portanto acho que combinamos. Ele faz o que eu não gosto e eu faço o que eu gosto. Taí o segredo dos casais felizes!:)
Por isso, quando vejo o Manuel de Barros só pensando em minhocas e caramujos poéticos, eu entendo perfeitamente. Posso apostar que ele nunca usou da prerrogativa de idoso para sair mais rápido do banco. Agora há pouco um colega ligou no meu ramal para elogiar um textinho da intranet que tinha o singelo título: Sustância para você... Sustento para muitas famílias. “Não sabia que você podia escrever com tanta poesia”. Sei sim, é só deixar.
Fui lá atrás, na tal lembrança da infância, e resgatei o sustagem que minha mãe me dava. A sustança, palavra robusta que ela tanto empinava. E rimei sustança com sustentabilidade. Deu no que deu.  Sei que não é muito promissora essa vida de poetizar. Talvez fosse mais simples e rentável ter aceitado brincar de banco com a Lara e não de “antigamente” ou “chicungunha”, como eu sempre sugeria.  Ter crescido contadora ou advogada tributarista, que ganha muito mais e nem precisa pegar empréstimo consignado.
Claro que não expliquei para o meu colega ao telefone todas essas conexões que só quem é sonhadora assumida faz. Mas me deu vontade de escrever esse texto para mostrar que cada um é cada um e todo mundo só deveria ser obrigado a fazer o que sabe fazer com gosto, com alegria.
Da próxima vez, você vai ao banco, tá Bernardo?

Comentários

  1. AMEI!!!!!!!!!!! PARECIDA COMIGO! BANCO DÓI!

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    1. Agradecida, AnaLu!! Olha, estou surpresa com tanta mulher alérgica a bancos e similares. Que coisa interessante, né?

      Fenômeno cultural ou biológico? Lá vamos nós...:)

      Beijão,

      Lu.

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  2. Olha Lu, nisso somos idênticas...me considero uma pessoa inteligente, com um bom grau de compreensão para muitas coisas, porém...no que diz respeito a banco, administração financeira, planejamentos orçamentários e por aí vai...sou literalmente uma fracassada!!!Só que não me esforço nem um pouquinho para que seja diferente, pois não gosto, e daí a conclusão de que somente o que fazemos com prazer,fica bem feito, é viável,isso pra mim vale para tudo na vida.Aí entra o maridão, que gosta, é descendente de turcos e resolve toda essa parte, que não me cabe...e olha o sucesso da união...40 anos de caminhada juntos com muito amor.
    bjão!
    Namastê!
    Cynthia

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    1. Obrigada superteacher!!

      Agora tenho certeza de que realmente posso abdicar da minha vida bancária!! Tudo em prol da duração do casamento!! Afinal, quero completar bodas de ouro, né?:)

      Beijão,

      Lulupisces.

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  3. Ei, posso me juntar ao grupo das sonhadoras? Ih, acho que ganho hein, pois nem abstração para fazer contas tenho! É tudo no papel ou nos dedos mesmo um, dois, três...rsrsrs.

    E aí, advinha? Casei com um calculator husband! O homem faz cálculos como ninguém e adora calcular os juros das nossas aplicações financeiras. Fica falando entusiásticamente sobre isso e eu só balanço a cabeça afirmativamente, mas na verdade ainda estou tentando fazer o primeiro cálculo lançado na "conversa". Prá fechar com humor o papo de uma pessoa só e poder sair pela tangente, brinco: "Traga-me apenas os resultados".

    Ele quer que eu participe dos nossos "negócios", afinal é o nosso dinheiro, somos "sócios". Tudo bem, mas não precisa explicar tanto né, faz o que achar melhor, tira o dimdim daqui, aplica acolá, tudo bem! Confiança é a base do casamento, esse é o meu lema!!! rsrsrsrs

    E pensar que um dia fui me meter a mexer na bolsa de valores, desastre completo! E ainda tive que pagar imposto de renda só por causa do investimento...nunca mais!

    E aí meu calculator husband me manda falar com a gerente do banco, claro, passo por isso too (e também protelo até ele dar chilique!). Fico nervosa e vou de celular em punho, porque, na primeira dúvida (o que significa nos primeiros dois minutos da resposta da gerente a minha pergunta ensaiada em frente ao espelho antes de sair)ligo logo prá ele e passo prá ela! Eles que se entendam! Ah, deixa eu voltar prás minhas leituras onde existem números apenas nos rodapés das páginas dos livros, tá? Desses eu entendo...

    Bjs
    Patty

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    1. Patty, você na bolsa de valores deve ter sido demais!! Daria um quadro divertidíssimo do TV Pirata (xi, denunciei nossa idade total!! KKKK!!).

      Que bom que encontramos parceiros complementares, né?

      Beijão,

      Luzinha Lulupisces.

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  4. ÓTIMO!!!!!! E pensar que ontem eu estava refletindo profundamente sobre o slogan da Sustagen (veja o grau de tristeza com a partida do marido para trabalhar e morar longe de mim...). Banco é pra marido mesmo, e soutien para mulher (não vale queimar, até porque os bonitinhos estão caríssimos!), e assim caminha a humanidade de verdade... Serei queimada eu, tão conservadora:)))))
    Beijos,
    Ana

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    1. Oi dear Ana, bem-vinda sempre!

      A Sustagen é? Eu falo o sustagen... E agora?:) Pode deixar que aqui no blog não tem fogueira pra nenhuma opinião!!
      Conservadora somos todas nós, eu acho. Pelo menos dessa geração X e Z. Da y, já não digo nada. Ô povinho chato!!:)

      Beijão,

      Lulupisces.

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    2. O Sustagen? Ichi, e agora, esse pozinho é masculino ou feminino?!
      Adorei a foto retrô-tatoo nova no blog!
      Beijos,
      Ana

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  5. É a pura verdade D Luciana! Todos nós só deveríamos fazer o que o que realmente gostamos e que nos dá prazer em fazê-lo!!!! Mas tá dificil minha irmã!!! Às vezes temos que engolir sapo e que sapo!!!Cada um maior que o outro!
    Tudo bem... Se botarmos na balança , percebemos que vale a pena tentar e continuar vivendo a vida da melhor forma possivel com o nosso parceiro, certo?

    Beijos,

    Leila.

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    1. Oi tia Leiloca,

      Olá tia Leiloca,

      obrigada pelo comentário. É, temos que engolir muitos sapos... Depois não sabem o porquê de as mulheres engordarem com o passar dos anos, né?:)

      Beijão,

      Lulupisces.

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  6. Ei! Mas eu também brincava de fazer as toalhas da minha casa de vestidos né? E até tinha estilo... Sempre escolhia aquela azul cintilante. Ficava ótimo!

    Eu também detesto ir ao banco. Se eu fosse recalcular o meu empréstimo da obra (eu também tenho um!) mandava o cara do Alfa vir me atender aqui no trabalho. Mas se meu empréstimo fosse no BB, entrava na internet e mandava o site fazer as simulações, sem sair de casa!

    Sua amiga virou uma pseudo-contadora (risos). Nunca exerci a profissão né? Mas confesso que estou amando estudar contabilidade pública e auditoria para o concurso da CGU. Cheguei à conclusão de que não estou nem me importando se vou passar ou não. O negócio virou uma espécie de hobby, entende?

    Boa sorte com o empréstimo e com o marido! (risos)

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  7. Claro, Larinha, você também embarcava no sonho... Afinal, as contadoras também brincam, né?:)E a sua casa era um espaço democrático para por em prática qualquer invenção. Sou grata ao Seu Carioquinha, que me proporcionou aulas de piano, sem ser aluna, aulas de inglês, sem ser aluna e muitas cortinas e toalhas de mesa para inúmeras cenas de Escrava Isaura.:)

    A questão não é exercer a profissão ou não, é ter a essência. E você tem a essência do pragmatismo, o que é ótimo. Veja aí, adorando estudar contabilidade pública. Sua doida!!KKKK!!!

    O bom do mundo é essa diversidade mental, certo? Ainda bem que vocês dos números existem para eu poder ficar aqui só viajando nas letras...

    Quanto ao empréstimo, nada feito... Ou ganho na megasena na próxima semana ou ainda terei de pagar 28 prestações... Snif!!!

    Beijão,

    Lulupisces.

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    1. Pegando uma caroninha... também me lembro bem da casa da Lara, viu Lara? rs. Casa boa, espaçosa, onde inventávamos mil...fazíamos lá também os trabalhos da escola, o nosso grupão nota 10...pegávamos aquelas enciclopédias pesadonas da Barsa ou Mirador e danávamos a copiá-las, lembra? (abafa!rs) escrevendo bem rápido para podermos brincar o resto da tarde!!! Eu, distraída, às vezes pulava uns trechinhos do texto e levava bronca do grupo depois! rsrsrs. Boas lembranças!
      Bjs
      Patty

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