Tem coisa que só acontece comigo. Afirmação carregada de estrelismo de uma ascendente em Leão. Reformulemos. Tem coisas que acontecem com muita gente, mas nem todas elas percebem a “graça gratuita das nuvens” nelas contidas. Não melhorou muito em arrogância. Hahaha. Acabei de ler a coluna da Bia Braune, na Folha de SP, e fiquei morrendo de inveja dela porque, além de escrever colunas para a Folha, ainda encontrou um caderno mágico de 1922, com memórias de uma tal Glorinha, na caçamba de entulhos na sua rua. Na caçamba da reforma da minha futura casa só encontro entulho mesmo. Sacos de cimento vazios, pedaços de tubulações, plásticos vários e galhos podados de um jardim confuso. A maioria destes resíduos são jogados ali pela pessoa aqui, inclusive, uma vez que os pedreiros parecem não ligar para a bagunça ao redor. Vão deixando o rastro de destruição se acumular, o que para mim, detentora de um certo TOC, causa agonia exasperante. Mas, deixemos os pedregulhos e falemos de fatos intrigan...
Obsessões por peixes, por conchas e por águas insones. Impossível resistir às suas representações, ainda mais as singelas, como sonhos infantis. Gosto de tapeçarias. Fazem parte das memórias da minha meninice órfã de várias doçuras. A irmã dez anos à frente tinha todos os talentos que a mim faltavam e me eram caríssimos: tocava clarineta, lia partituras, desenhava, falava com gatos e com cachorros, costurava, projetava móveis, desfrutava de um "três em um" com dois toca-fitas e tecia belas tapeçarias. Nunca fez uma para mim. Era como uma das filhas da madrasta. Alimentava um ciúme rancoroso da boboca criança, a cria derradeira de uma mãe viúva, e não perdia a chance de me atormentar. Minha irmã foi abandonando a maioria dos presentes que recebeu da genética ou do destino. Um desperdício triste. Eu cresci sem qualquer dom especial, entretanto escrevo e meus males decanto. E também me alegro com uma peça bonita como esta, obra de uma poeta porreta contemporânea que já passou do...
Agora a mudança está premente. Começou o entra e sai de corretores de imóveis em busca de um orçamento para alugar o apê. A visita de empresas ou cooperativas transportadoras de cacarecos também. E como os temos. É num momento assim que vemos o tanto que acumulamos. “São muitas miudezas para embalar, vamos orçar três dias”. Ó céus, o museu do artesanato vai cobrar um preço alto pelo deslocamento do seu acervo. Eu que tô de férias chata resolvendo, evidentemente, chateações, não posso deixar de rir da cara espantada dos pretendentes a embaladores. Corretores enxergam cada senão no imóvel, as pequenas ranhuras e os defeitinhos. Como editores de texto minuciosos, apontam os erros de grafia e de pontuação. “A reforma não é luxuosa, mas é um bom apartamento, não fica atrás do posto, e voltaram a usar tacos de madeira”. E assim vou me despedindo da vida na superquadra 303 sul, para sempre sinônimo da gravidez do caçula, da morte da minha mãe, da infância e da adolescência dos meus filhos, ...
De uma beleza incrível!
ResponderExcluirRe Osório
Lindo babaçu e esse poema em cachos.
ResponderExcluirZildete Melo
Nosso babaçu é escultura divina! Gostei, em poucas palavras muita comunicação!
ResponderExcluirSocorro Melo