Das fixações




Filme de primeira é um apelo irresistível à revisão. É sempre instigante descobrir se a obra vai suportar segunda ou terceira conferências. Se a emoção permanece viva; se o argumento segue atemporal. 

No último domingo, fui para a cama mais tarde revendo The Sixty Sense. Não dava para não rever! Quando foi lançado, mamãe e dindinha ainda estavam firmes e serelepes. Sentada no escuro do cinema com a minha irmã mais velha, os sentimentos eram diversos do que experimentei dessa vez. 

Agora, minhas mães são dead people e eu me pego pensando que talvez fosse legal ser capaz de reencontrá-las nas madrugadas insones “all the time”. O que elas teriam a me dizer? Pediriam ajuda como sugere o filme? É reconfortante acreditar nessa teoria de que os mortos só querem o nosso bem e a solução de pendências. 

Mas se elas aparecessem para puxar o meu pé e a minha orelha? Se tivessem a intenção de me castigar ou criticar? Bem sei que preciso de reprimendas. Qual seria minha reação aos espectros da dupla? No filme, os espíritos são tão apavorantes. A morte de mamãe não foi bonita. Confesso que não gostaria de revê-la cadavérica. Perfeito seria reencontrar Maria ativa e sorridente como às vezes eu sonho com ela. 

A real é que sou fixada nessas metafísicas. Todavia, tenho uma desculpa: sou um indivíduo forjado pelas ausências, pelas lacunas. Cresci idealizando um fantasma de pai. Sem memória de cheiros, cor, voz, ele é bem subnutrido, capenga, coitado! Aos 17, perdi a figura paterna substituta: meu cunhado. Entretanto esse espectro é bem delimitado, recheado de recordações sonoras e táteis. 

A sobrinha Luísa se foi quando acabara de me tornar mãe. Chegava a hora de experimentar a angústia e revolta de conviver com um fantasma infantil. Se ela viesse me visitar, o que teria a me dizer: tia, você seria uma boa madrinha! Tia, vamos brincar ou queria ter te conhecido melhor? Não, não desejo que seu rostinho me siga no carro ou no banheiro. Definitivamente, tenho pena do sofrido Cole, a personagem do talentoso Haley Joel Osment, que esvaneceu das telas grandes.

E enquanto fico aqui divagando sobre insanidades mórbidas para a maioria, naturais para mim - pessoa que tira foto de anjos de cemitério e que se amarra em séries do além -, os espíritos zombeteiros de mamãe e dindinha devem estar se reunindo para mais um almoço celestial, cujo prato principal serão os acertos e equívocos de Luciana: filhinha caçula de uma; filhinha única da outra. 

Ai, ai, que gostoso ser o centro das atenções, nem que seja no lado de lá! :)

Comentários

  1. Divago muito sobre a morte, pessoas queridas como meu pai, minha mãe preta, que já se foram, acho bem natural, e acredito que podemos sim interagir com eles.Não tendo visões, mas em consciência que somos, através de oração e meditação.Gostaria muito de rever este filme...é muito bom.
    bj.Namastê!
    Cynthia

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  2. Eu acredito piamente que podemos interagir. O problema é que o telefone só toca de lá para cá e tem muita interferência na ligação. Por duas vezes incontestáveis meu pai veio me ver.

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  3. Oi, Lu :)

    adoro conversas sobre espíritos! Bem, como sou espírita, acredito que todos os nossos amigos e parentes estão "vivinhos" da silva e continuam ligados a nós pela afeição que nos une. No Natal de 2009 eu estava em casa sozinha (à tarde, acho) e senti perfeitamente que um primo meu, que faleceu em 1997 em um acidente de avião pequeno (ele era piloto), tinha vindo nos visitar. Ele estava acompanhado de duas pessoas (que não identifiquei quem eram). Eu não os via, mas os sentia perfeitamente. Conversei com ele pelo pensamento, disse que tinha saudade, que estava muito feliz com a visita dele e que lhe desejava muito amor.

    Com certeza seus parentes mais queridos que estão "do lado de lá" torcem muito por você e fazem o que está ao alcance deles para te ajudar.

    bjs! :)

    Fabiana

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  4. pois é, Lú, tenho encontros com o além já faz tempo. Nem sempre as noticias são boas, mas sempre marcantes. Me encontro com mamãe em um jardim lindo, sinto seu perfume quando vem me visitar e, pronto, algo sempre acontece. Se conecte que conseguirá também. Até os fantasmas da família do Romeu me procuram....rsrs. Não vai achar que sou louca não, viu?

    Bjcas,

    Renata

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