Bichinha de Sustança





Um bocadinho da vida e obra de
uma cearense cabra da peste!


“Na verdade, eu não gosto de escrever e se eu morrer agora, não vão encontrar nada inédito na minha casa”, dizia Raquel de Queiroz. Mas para quem “não gostava de escrever”, a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) marcou gerações com obras fundamentais para a literatura nacional como “O Quinze”, “As Três Marias”, “Dôra, Doralina” e “Memorial de Maria Moura”. 

Raquel de Queiroz nasceu em Fortaleza (CE) no dia 17 de novembro de 1910 em uma família de intelectuais. O pai era juiz de Direito e a mãe era parente do renomado escritor José de Alencar. Raquel tinha mais três irmãos e uma irmã e passou a infância no interior do estado, na fazenda “Não me deixes”, em Quixadá. 

Em 1915, uma seca devastadora atinge o sertão e a família se muda para o Rio de Janeiro. Na adolescência, Raquel retorna para a sua cidade do coração e se forma professora ainda adolescente. Nessa época, já escrevia, porém não mostrava seus textos para ninguém. 

A partir de 1927, Raquel passa a colaborar como repórter no jornal “O Ceará”. E em 1930, convalescendo de uma grave infecção pulmonar, escreve “O Quinze”, que recebe elogios do modernista Mario de Andrade. A obra, inspirada na dramática seca que testemunhou quando criança, lançou a franzina cearense ao status de personalidade literária. No ano seguinte, Raquel recebe no Rio de Janeiro o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha. 

Também em 1931, Raquel se casa e entra em contato com a política, filiando-se ao Partido Comunista cearense. Em 1933, nasce sua primogênita, batizada Clotilde em homenagem à avó materna. Infelizmente, a felicidade não duraria muito tempo: a menina morre aos dezoitos meses, vítima de infecção generalizada. 

Na época do Estado Novo, seus livros são classificados como subversivos e Raquel chega a ser detida por três meses. Em 1939, a escritora se separa do marido e se muda para o Rio de Janeiro definitivamente. Na cidade maravilhosa, publica “As Três Marias”, obra que em 1980 foi adaptada como telenovela e virou um dos grandes sucessos da TV Globo no horário das 18 horas. 

Em 1940, conhece o médico Oyama de Macedo, com quem passa a viver até a morte dele, em 1982. Sua primeira peça teatral “Lampião” (1953) é agraciada com o Prêmio Saci, conferido pelo jornal O Estado de São Paulo. Em 1969, estreia na literatura infantil com “O Menino Mágico”. E em 1977, vence as eleições na ABL, tornando-se a primeira escritora imortal do Brasil, onde ocupou a cadeira de número cinco. 

O ano de 1994 marca a vida da escritora com o lançamento da minissérie “Memorial de Maria Moura”, também na TV Globo, baseado no romance de mesmo nome e outro estrondoso sucesso de público e crítica. 

Aos 90 anos, em 2000, Raquel lançaria um livro de memórias culinárias em parceria com a irmã caçula, Maria Luiza, chamado “Não me Deixes – Suas histórias e sua cozinha”. Ainda em 2000, recebe o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). 

Raquel de Queiroz faleceu dormindo em sua rede no dia 4 de novembro de 2003, pouco antes de completar 93 anos. Viveu uma vida longa e rica de crônicas, relatos, traduções, romances, dores e alegrias e se transformou naquela “vovozinha de óculos grandes e ar simpático” que povoa nosso imaginário e estará para sempre no topo dos grandes nomes da literatura brasileira. 



Comentários

  1. Umas tias minhas conheceram ela, pois eram de cidades praticamente vizinhas. Uma inclusive tinha uma escola e batizou-a com seu nome.
    Quase chego perto de me sentir ligeiramente próximo.
    =P

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  2. Gratidão pelo relato da vida desta grande mulher.
    bj.
    Namastê!
    Cynthia

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