Entranhas

O mundo anda muito pesado. De todo modo, há belezas! 

O gurizinho que joga bola com o seu cão na manhã de maio,

sem dúvida não há cena mais bonita hoje.

Peraí, há controvérsias. Duas velhotas a caminhar, no amparo do cuidado mútuo:

poema sobre afetos irretocável. 

Falando nelas, as poesias, tão vastas em temas, são sublimes. 

As árvores no processo de amarelecimento,

unguentos.  

O enorme panda se rotaciona em cambalhotas marotas a troco de quê?

Prazer. 

Nuvens esparsas, 

adesivadas no fundo azul por uma mão sensível, 

brilham.

A brisa outonal cantarola cirandas,

convite ao devaneio.

Bancos ao relento cobertos por folhas desapegadas, 

flores caídas na calçada. 

As cordas da harpa dedilhadas pela fada. 

Bálsamo é a serenidade matinal corriqueira para quem está de bobeira. 

Uma mulher da rua, com um véu branco a descer pelo seu corpo: 

nossa senhora dos mendigos. 

A quase certeza de Deus. 

Catarina 

a menina

pediu uma rima. 

Nada agora

me inclina 

à poesia,

porém a alegria 

da guria 

e seus cabelos pretos 

densos pensamentos, 

poema 

afetivosinuoso

em movimento,

arrebata,

arrebita,

abriga ideias e amigos,

generosa bicuíba-cheirosa.

Na ponta de um cacho

faço ninho, me regalo.

Catarina

copa de árvore,

lanches à tarde.

Esparra suas folhas 

afagos diversos

nos multiversos.  

            bicuíba-cheirosa

Compreender com o corpo é diferente de compreender com a mente.

A compreensão intelectual é diferente da compreensão vivencial.

Entender com as entranhas, com todo o nosso ser. 

O eu é uma projeção mental. 

O não-eu é a compreensão fundamental.