Extremófilos





O breu da chuva é a única escuridão bem-vinda no Planalto Central, morada de seres extremófilos*, fustigados pelos limites da aridez quase caatinga.

O som do trovão não amedronta. Soa melodioso aos ouvidos sedentos.

As folhas se voltam para o alto. Nosso coração está no céu que desabafa choro copioso, guardado tanto tempo no peito das nuvens, antes pálidas e reprimidas. Agora, densas e coradas de tempestade.

É um marco, um acontecimento, uma mudança de estado físico: do pó à lama. 

Relampeja. Apenas os cães se escondem debaixo das camas ou das mesas. Os demais rejubilam-se: aleluia!

Por suposto, a chuvarada atrai também um câmbio do estado de alma: da avareza para a abundância. Dos humores ressequidos aos sorrisos de estamparia, aos suspiros aliviados.

Uns vão se entediar daqui a pouco com a temporada tempestiva. Outros vão sair cantarolando, dando a máscara à tapa.

Com o cheiro de terra molhada, retorna um sentimento familiar. Os ciclos naturais se repetem, mas quanto a nós, seremos ainda semelhantes?

*existem espécies de animais que vivem em condições extremas de ambientes. Essa adaptação incrível se deu tanto pela evolução quanto pela capacidade de utilizar muitas coisas desses ambientes a seu favor. A esses animais incríveis damos o nome de extremófilos, ou seja, organismos capazes de viver em ambientes extremos. Estes organismos são muito peculiares tanto na sua forma quanto no seu poder de adaptação e sobrevivência.


Comentários

  1. Umidade bem-vinda!

    Ana Cristina de Aguiar

    ResponderExcluir
  2. Grande texto no que ele diz. Amei.

    Maria Helena Andrade

    ResponderExcluir
  3. Adoro esse cheiro de terra molhada, me remete a minha infância!

    Eunice Silva

    ResponderExcluir
  4. Amiga, não entendo muito do zodíaco, mas sei que esse texto é lindo!! Como cada um recebe essa primeira chuva... quanto sentimento nesse gesto da natureza. Fico pensando no sertão castigado, como deve ser a primeira chuva depois de anos de estiagem... será que inspira também como aqui: Imagina quantos poetas e prosadores há o sertão e nós nem tomamos conhecimento.

    Renata Gonzaga

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos