Assombramentos
Depois que você tem filho, o carro se torna quase um refúgio. Detalhe: quem vos escreve é alguém que detesta dirigir e sonha com um motorista particular clone do Morgan Freeman em Driving Miss Daisy. É no carro que eu tenho tempo de curtir minhas músicas, de acompanhar as letras em brados retumbantes, de pensar alto (às vezes eu me esqueço que estou com os meninos e acabo cometendo gafes altas). Nesses dias, eu vim xingando com os meus botões em volume pra lá de audível: “Esse povo burro...” - Mamãe, eu ouvi você falar burro, patrulhou o pequeno galego. - Não, meu filho, eu falei bruxo. - Mas eu ouvi você falar burro... - Burro é aquele bicho que parece cavalo, igualzinho no Shrek, lembra? - Mas burro também é como a gente chama as pessoas mal-educadas, não é? Mas nem com uma mancada dessas, o carro deixa de ser essa redoma, o espaço da pausa. Ali, encerrada na caixa de metal, eu me reabasteço com o lirismo e as ideologias das músicas que seleciono para ouvir. Ou por meio das...