Bálsamo

Há coincidências que se materializam como se pedissem para ser relatadas, pensou, elaborando um sorriso. 

Ainda fechado? Mas já passa das sete... Imediatamente uma das folhas do portão se abriu e deu passagem. A mão mágica do anjo vento: seja bem-vinda! 

Ela atravessou o portal e saudou a solicitude das ondas oferecidas. Venha, diziam, porém Liz não se entregava fácil, reservada que era em relação aos mistérios aquosos. 

Com o mar, sua atitude assumia ares de reverência. Entidade para ser louvada à certa distância. Arisca, preferia o recato do amor platônico a mergulhar de cabeça. 

Entretanto o som, o som da arrebentação... Unguento para almas escaldadas; mantra em percurso contrário: de fora aos poros.

Desconcertada, Liz percebeu que não era preciso de esforço meditativo algum. O Atlântico, generoso, fazia isso por ela. 

A palavra azimute estava no encalço de suas divagações desde que chegara à praia. 

Árabe, talvez? 

Liz nunca se esquecera do funcionário da embaixada a lhe fazer a mesma pergunta, intrigado com a origem daquela adolescente de feições mongólicas. 

Oras, não tenho nariz proeminente, constatou, mais uma vez, para si. É um morrinho, não uma cordilheira. 

Azimute com z assim como no seu nome. O Z é uma letra mais bonita na versão de forma, concluiu. Tem estilo limpo, risco contínuo, eletrizante, design profissional. Já não gostava muito do cursivo: complicado, rebuscado e desajeitado feito um zangão. 

A verdade é que o barroco só cai bem nos altares, nos santos e nas fachadas de Minas, refletiu. Ali, sim, estimava os adornos, as curvas e as melancolias douradas.

Nesse momento áureo de sentimentalismos, lembrou que estava exposta ao sol, macho-alfa vigoroso e exibido. Todavia, decidiu não se importar com os raios intrusivos, as mãos bobas a lhe tocar.

Pairava sobre constelações de conchinhas, cascas de ovos de estrelas.