Jogo de búzios
(...) "Era uma vez viagens e descobrimentos.
(...)
Era uma vez - e ainda respira em mim
como um cavalo alado,
- aquele mar".
Lya Luft
Ainda que concentrada, de cócoras sobre a imensidão dos corais de Cajueiro da Praia/PI, ela me notou vagando pelos ermos do mar, no pico da maré vazante, e gritou de longe:
- quer catar búzios? Mas ponha a chinela!
Na ignorância de menina interiorana, que conheceu o mar aos sete anos de idade, acreditava que procurar conchas para a minha coleção significava "catar búzios". Porém, ao me aproximar dela, a simpática moradora de Belém do Pará me explicou:
- Apanho as moelinhas, as chapotas e as galinhas arrupiadas e levo para a minha cidade, pois lá não tem. Eu cozinho e carrego no gelo.
Enquanto falava me apontava cada uma daquelas casinhas marítimas que - para uma peixa do cerrado, apenas traduzem a beleza e o mistério dos oceanos, achados anônimos, jamais fonte de alimento.
Tenho horror aos frutos do mar (tirando camarão e lula). Deles, só almejo os lares retorcidos, resistentes e, de preferência, abandonados às ondas. Objetos do desejo ocos e magníficos. Entretanto, não me importo de assassiná-los, caso a residência seja de rara arquitetura. Mergulho os tesouros em álcool e deixo o tempo agir. Que psicopata!
Ah, se a paraense imaginasse que se tratava, ali, de uma turista privilegiada, acostumada a pegar sol por prazer, não por precisão. E se decepcionada descobrisse que eu não passo de uma mulher burguesa e má...
Despedimo-nos sem conhecer nossos nomes, sem apertos de mão. Todavia, nunca mais caçarei qualquer búzio-presa sem dela me lembrar.
Bela reflexão , como sempre! Belo o olhar desta senhora que respeita e tira alimento do mar!
ResponderExcluirNão há um texto no qual eu não viaje junto!
Parabéns Lu!
Da sua fã número 1:
Anna Gabis
Muito legal essa viagem!
ResponderExcluirRodrigo Holanda
Não aguento: Muito bem escrito! Te invejo por esse dom.
ResponderExcluirKarla Mendes
Show!!!
ResponderExcluirParabéns!
Isabel Frantz
Muito legal!
ResponderExcluirSimone Aragão