Romã(tico)
O pé de camélia deu dois suspiros e depois morreu. No lugar dele, surgiu, encantada, uma romãzeira. Mistério. Ali na frente da casa, pega o sol da tarde, denso, alaranjado. Clima quente e seco ideal para a fruta de origem iraniana fazer morada. Haveria algum passarinho viajado com a semente no bico? A camélia renascera em outro corpo e com novos propósitos? Enigma.
Importante frisar que o pé de romã cresceu sadio e floresce o ano todo. Os frutos rosados pendem quase até o chão, não importa se inverno ou se verão. E, assim, a romãzeira não desejada, bastarda, tornou-se o talismã da casa. Oferta, aos que ali se apresentam, fertilidade e abundância.
Guardiãs, conservam a resiliência dos povos áridos. Escritas cuneiformes de três mil anos já rendiam loas às romãs, irmãs do deserto.
Anciãs por natureza, detém a cura para males do corpo e da alma.
A maçã com sementes, pequeno porta-joias, quando aberto, reluz 613 gemas de granada. Granada, cidade espanhola-moura ladeada por romãzeiras.
O gosto não é doce nem azedo. Não é amargo nem ácido. Umami, quinto sabor místico e prenhe de simbolismos ancestrais, leva você pelas trilhas da rota da Seda, pelas dunas do Saara e para uma visita a Ur.
Partir ao meio a romã é sentir a língua árabe rascante na garganta. É sentar ao redor da fogueira tuareg e compartilhar histórias de mil e uma noites.
Romãs, alhos e cebolas: alimentos milenares, companheiros de extenuantes caravanas pelos confins do mundo. Tríade de casca pudica e âmago marcante.
Faz tempo, ouvi a lenda de que teria sido uma mulher persa, um espírito velho que demorou a reencarnar no lado ocidental.
Atavicamente, o oriente me atrai com suas cores, temperos, arabescos, sons e quitutes, como se tudo evocasse experiências felizes de outrora.
Senti de novo a intimidade ao me deparar com o pé de romã, carregadinho, à porta da casa da amiga. Excitação infantil.
Compreendi: não poderia ter escolhido lugar mais apropriado para fixar suas raízes, a romãzeira. O arbusto faz jus ao legado português presente naquela família.
Cruzando o Atlântico nas caravelas de Sagres, a romã aportou no Brasil. Antes forasteiro, hoje, o pé de romã é a alegoria vibrante do coração daquele lar farto de acolhimento e de perseverança.
Loey ama romã
ResponderExcluirLeila Sebastiana
Dá sorte Lu, fartura. Minha mãe tinha na house dela.
ResponderExcluirRenata Assumpção
Simplesmente ameeeiii o texto! Super poético!! A história desse pé de romã inusitado rendeu uma linda crônica!
ResponderExcluirMônica Ramos Emery
Eu fiquei APAIXONADA nesse texto. E acredito piamente que, sim, você foi uma persa. Aliás, acho que todos fomos, mas alguns guardam com certo magnetismo essa memória. Parabéns! Que texto maravilhoso! Fiquei relendo alguns trechos de tão brilhantes.
ResponderExcluirRe Osório
Como sempre, incrivelmente bem escrito!
ResponderExcluirRodrigo de Medeiros
Uau, quanta inspiração!
ResponderExcluirA romã é mesmo uma joia do oriente!
Ana Cristina de Aguiar
Palmas!
ResponderExcluirMaria de Fátima Venceslau
Sempre aprendendo com os seus textos!!!!
ResponderExcluirMuito Romãtico! Adorei!
ResponderExcluirAdoro romã, acho linda e exótica , e uau como aprendi nesse texto!!!!
ResponderExcluirAdorei!
ResponderExcluirRoberta
Legal!!!
ResponderExcluirChamamos essas invasoras de "espontâneas".
Nascem sozinhas sem serem plantadas.
Um toque de vida da mãe natureza!
Normalmente estão no lugar certo.
Alinhadas com a energia e sabedoria intrínseca de Gaia.
Rodrigo Holanda
Tenho saudades do pé de Roma lá da minha casa do Guará. Ela realmente dava romã o ano todo.
ResponderExcluirEram umas de tamanho enorme. Fruto bom.
Marisa Brasiliense de Assunção
Encantador, Lú !!!
ResponderExcluirVocê se supera e surpreende a cada novo texto que escreve...
Simplesmente delicioso como o suco de romã que eu tomava durante toda a rota que fizemos ao viajar pela Turquia oriental (asiática): Éfeso, Kônya, Bursa, Capadócia...lugares mágicos
Estou tentando lembrar o nome desse suco maravilloso, feito na hora com romãs enormes espremidas igual à laranjas e servido na hora...
Qqr hora lhe mostro as fotos dessa inesquecível viagem, no tempo...
Marilena Holanda
Que lindo texto cor de romã!
ResponderExcluirMinha vizinha tem um pé de romã emaranhado no bougainville.
Tânia Benn
Quanta cultura! Adorei o texto!
ResponderExcluirKarla Liparizzi
Adoro romã! Como muito pouco pro tanto que gosto.
ResponderExcluirSorte e prosperidade.
Cynthia Chayb
Adorei! O pé de romã da casa da Mônica!
ResponderExcluirAna Cláudia Loiola
Lindo .. e muito bom esse título Romã(tico)!
ResponderExcluirClarice Veras
Mais um escrito cheinho de significados, muito bom de ler!
ResponderExcluirSocorro Melo
O título anuncia o que vem pela frente. Amamos, como sempre, e viajamos em suas palavras como era de se esperar. Beijocas.
ResponderExcluirLegal vc ver inspiração em uma romã. Me lembrou Clarice com um ovo!
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ResponderExcluirAdorei.
ResponderExcluirMonalisa Silva
Linda romã!
ResponderExcluirAna Cecília Tavares