Para todo o sempre




O debate interno dele que se reflete externamente... Uma hora brinca de corrida de saco e anda de quatro junto com os menores. No momento seguinte, senta com orgulho no banco da frente do carro e se olha no espelho retrovisor ajeitando o cabelo, que precisa ficar comprido e desalinhado, espalhado na testa. Diverte-se com Pokemóns enquanto tira “Eduardo e Mônica” no violão. 

A gente de fora, no papel atônito de lidar com o novo ser humano que se avizinha. Ainda quer ser posto na cama, ainda toma banho com você, mas até quando? De repente está assoviando um rap. Um rap! E você pergunta: o que é isso, filho? E ele lhe mostra animado o vídeo de um tal “7 Minutoz” sobre o Demolidor da Marvel. Até quando ele não vai fazer segredos? Até quando essa inocência e a pronta vontade de atender ao pedido da mãe? 

Sim, eles crescem. E crescem sem pedir licença. E doem neles e dói na gente essa belezura da adolescência. O mau humor típico dos teens de mãos dadas com a brincadeira de espadas. Progressivamente cessa a hiperatividade física e começa a verbal. E a gente pega o menino sentado em altos papos com o amigo. Já não sabe o que pedir de presente de aniversário e pergunta avergonhado: brinquedo? 

Outro dia abandonou a lancheira de Darth Vader. Agora é toda preta, sem personagens. Daqui a pouco, nem isso! E agora vai ganhar o primeiro celular. Surge o interesse por esportes emancipados: pede para entrar no basquete. As cuecas já são tamanho P de adulto, porém as calças jeans estão entre 12 e 14 anos. A mãe precisa comprar e trocar quase tudo. Já não sabe mais o que cabe nesse novo corpo que se espicha e que se desengonça na aterradora velocidade de avalanche. 

A mãe não tem nostalgia, todavia angústia. Agora é hora de começar a presenciar se aquilo tudo que rolou até aqui vai frutificar. Por enquanto, os prognósticos são animadores. É um guri de paz; querido por todos; sensível e solidário. Entretanto, a mãe sente apreensão no peito porque o mundo é duro e vai ferir a alma macia do menino. 

Atualmente está lendo “O Escaravelho do Diabo”, obra que a mãe amou há tantos anos. “Antes eu tinha medo de livros onde as pessoas morrem, né, mamãe?” E já vai à padaria e ao mercado sozinho. Dias atrás, atravessou a pista movimentada até a banca de revistas, na quadra ao lado, em busca de HQs. A mãe ficou louca da vida. “Atravessei na faixa, mamãe!” E quem disse que eu confio nesses motoristas insanos, meu filho????!!!! 

Todo noite faz a oração do anjo da guarda. Nunca lhe foi exigido ou ensinado. Talvez seja isso: um anjo guardado por anjos...

"Nessa rua
Nessa rua tem um bosque
Que se chama
Que se chama solidão
Dentro dele
Dentro dele mora um anjo
Que roubou
Que roubou meu coração..."

Assim foi, é e será para todo o sempre! Feliz Aniversário, meu bebê grandão! Amém!


Comentários

  1. A rapadura é doce, mas não é mole! Aos poucos vc irá conhecendo uma nova pessoinha que surge, com as dores e os sabores dessa longa travessia, que passa num instante!! E o que me diz de quando é chegada a hora de levar sua filha ao ginecologista numa primeira consulta para exames de rotina e pegar a receita do anticoncepcional, vc aguardando aflita na sala de espera, pois esse lugar é o mais próximo que chegará desse momento tão importante da vida dela? Muita raiva daquela ginecologista que agora compactua segredos com a minha filha, ignorando a minha existência!!! Como ousa??? rsrsrsrs
    Felicidades ao lindo filhote que começa a criar asas e muita calma nessa hora e nas que ainda virão, para a mamãe dele! ;)
    Bjs
    Patty

    ResponderExcluir
  2. Super 10. Bonito texto.

    Davi Doss

    ResponderExcluir
  3. Que lindo, Lu!!!!
    Parabéns para esse anjo tão querido!!

    Bjs,

    Sinara

    ResponderExcluir
  4. Então, Lu....tamo juntas... Lendo parece até q ta falando daqui. Não vai pra cama sem eu dar um beijinho e minha bênção; já volta sozinho do inglês...Mas no celular já tem seus segredos....

    Bj e que tenhamos sabedoria pra conduzi-los nessa fase!

    Marina Caldana

    ResponderExcluir
  5. Confere.
    Confere.
    Confere.
    Tudo igual.
    Pungente...

    ResponderExcluir
  6. Não sei pq sai o nome do Isaac ao invés do meu. Será que é porque doei meu blog para o diário dele? Como é que eu ponho o meu nome?

    ResponderExcluir
  7. E a foto, que parece que resume o texto inteiro?
    :)

    ResponderExcluir
  8. Como sempre, um texto muito bom de ler.

    É... minha amiga Luciana...

    Nossos filhinhos, que até algum tempo atrás eram "criancinhas", já não o são mais.

    Sinto, com a Ana Olivia, o mesmo que você em relação ao Tomás.

    Eles estão se tornando adolescentes.
    Graças a Deus, são crianças ótimas índoles, e bem criadas.
    Mas a gente sabe, pelas nossas experiências como tal, que o período que agora se apresenta, será desafiador.
    Pra eles, e pra nós.
    Vamos lá!!

    A Ana Olivia também tá se tornando mocinha. Ainda não "totalmente".
    Mas, fisicamente, já tem pelinhos, e os seios estão surgindo.
    E, como o Tomás, ainda me pede coisas, que, muito em breve, não vai mais me pedir.

    Sou confiante, no sentido de que, com base na relação de confiança e carinho, que a criamos até hoje, ela vai saber crescer, tendo a nós, ali ao lado, como um apoio.
    Porque agora, eles começam a caminhar por si mesmos, levando consigo a estrutura que tentamos construir com eles.

    É isso Luciana.
    Um beijo.
    Paulo.

    ResponderExcluir
  9. Tenho certeza de que ele será um grande homem. Você me convence disso diariamente. Que o mundo não o endureça demais. Parabéns, rapaz. Parabéns, Luciana e Bernardo por esta cria.

    Juliana Neto

    ResponderExcluir
  10. adorei Lú! Relaxa, tudo dá certo, lógico que tem umas pedrinhas para serem juntadas na construção do castelo, mas filho é para sempre, a melhor forma de crescermos, levava bronca dos meus pais até o momento deles fechares os olhos rsrs e hoje sai da cama para dar pito em filha adulta, portanto somos todos iguais. bom aprendizado.

    Bjcas,

    Renata Assumpção

    ResponderExcluir
  11. Ótimo texto da excepcional jornalista e ,com orgulho, minha amiga Luciana! Traduz exatamente a realidade que vivemos com nossos teens!

    Gabriella Santana

    ResponderExcluir
  12. È exatamente assim Lu...vc descreve muito bem esta fase de transição...tudo passa!bjsNamastê!
    Cynthia

    ResponderExcluir
  13. Olha o que você me fez fazer. Uma coisa que eu detesto. Fez com que eu me juntasse à manada, que eu engrossasse o coro daqueles que, diariamente, constatam, com espanto, como o tempo passa rápido. Tenho birra disso. Mas foi inevitável. Lendo aquele seu lindo, emocionante e emocionado texto sobre o Tomás me lembrei de que foi ontem que você escreveu outro texto lindo, emocionante e emocionado sobre o mítico número 10. Agora ele faz 11, amanhã 12, depois 13. Uma progressão aritmética que nos faz pensar naquilo que não queremos pensar: o nosso próprio e irrefreável passar do tempo.

    Mas antes que o tom melancólico assuma o comando aqui, dê a ele meu abraço. Enquanto ele ainda aceita abraços de tios velhos.

    Parabéns pra ele. E pra você e Bernardo. Por terem ele.

    Valdeir Jr.

    ResponderExcluir
  14. Estamos vivendo isso aqui em casa também. Uma nova pessoa surgindo. Dá um medinho, mas confiança também de que tentamos fazer o melhor, naquilo que nos diz respeito. Parabéns, atrasadinho, para o Tomás e beijos para você.
    Mônica

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos