Essas coisas todas
Para Márcia Romão
Recebi um TikTok de uma amiga da Associação das Bordadeiras de Penedo/AL e voltei duas décadas, relembrando uma historinha bacaninha vivida (e vívida) naquela cidade.
Era 2004 e estava à espera do meu primeiro filho. Foi uma viagem meio sem sentido aquela, passando tão mal (talvez as passagens de avião já estivessem compradas). Só sei que foi assim, Bernardo e eu, os futuros pães de primeira marcha, perdidos numa noite de Natal em Maceió.
Após uns dias na capital, começamos a explorar as redondezas. Alugamos um carro e partimos para Marechal Deodoro e Penedo sem nada saber delas - não eram tão banalizadas as informações naquele tempo que parece realmente longínquo.
Que cidadezinha linda Penedo, toda colonial, às margens do mitológico Velho Chico. Quase me esqueci do tanto que enjoava, vomitava e me sentia fraquíssima. Não tinha disposição física, mas tudo ali me encantou. E me esforcei pra burro nas caminhadas.
Um garoto logo se aprochegou na gente com autoridade de guia turístico. Falava um monte e era espevitado, claro. Nós, que nunca gostamos de cicerones, uns chatões, não resistimos. Ou eu não resisti sozinha, mergulhada nos hormônios enlouquecidos da maternidade por vir. Estava imersa numa sensibilidade monstra e o menino franzino, preto, pobre e simpático podia ser o meu filho, essas coisas todas.
Após sei lá quantas horas de palavrório, o guri me solta que tinha o desejo de montar uma biblioteca na casa dele. Ora, ora, quase fui às lágrimas. Prometi, então, que ao voltar para Brasília iria enviar muitos livros para ele concretizar aquele projeto. Peguei o endereço do moleque e não esqueci do prometido.
Continuei a enjoar horrores durante a gravidez, mas me meti em sebos para encontrar obras que marcaram minha infância e adolescência. Os títulos amados que me trouxeram até aqui e ser quem eu sou. O pacote ficou gordão e seguiu para as Alagoas…
Nunca obtive qualquer resposta, sinal de fumaça, nada. As obras chegaram ao destino? O menino montou a tal biblioteca que poderia mudar a trajetória dele e de outros tantos da periferia de Penedo? Virou um Zé Pequeno ou se salvou? Ah, seria incrível pensar que sim.
Acreditem, não me lembro nem sequer do primeiro nome dele. Quase impossível um dia o reencontrar (hoje com 30 anos?) Dizem por aí que impossível é lugar que não existe. Vejamos.
Uauuu que história incrível!!! como gostaria de saber se esse menino realmente realizou sua intenção da época …esperemos que sim🙏🥰
ResponderExcluirCynthia
Poxa...Mas custava ele mandar uma cartinha agradecendo? O selo custava centavos...
ResponderExcluirAchei muito legal👏👏💖💖
ResponderExcluirRosa Virgínia
Eita, Lulu que história linda mesmo com os enjôos 😏Uma pergunta ficou no ar reencontrar o menino! Hoje um homem feito😏
ResponderExcluirLeila Cruz
Viu? É disso que eu tava falando... Da mesma _váibi_ da Regina Casé. Você podia fazer um _Brasil Legal_ tranquilamente.
ResponderExcluirJá tinha lido essa história no seu _estragão_.
Muito boa.
Valdeir Jr.
Adoraria encontrá-lo pra vc. História bem bonita essa sua. 😘❤️
ResponderExcluirAna Paula
Que ótima história ou estória?
ResponderExcluirAcredita que carrego algumas culpas por nao ter agradecido coisas que me chegaram pelo correio. Quem sabe, esse menino carrega uma culpa assim?
Ana Cecília Tavares
Boa noite, Luciana!
ResponderExcluirE tinha como você, logo você, escritora e amante dos livros, resistir a um pedido de um garoto para montar uma biblioteca!
Adorei a história! Se um dia for para aquelas bandas vou assuntar! Vou mesmo!
Fátima
Nossa Luciana, que história pra lá de boa ! 👏👏👏…Mas quem sabe aquele “menino franzino” de ontem , não é hoje um renomado contador de histórias ou um cordelista de grande sabedoria de tanto ler Saint-Exupéry, Lúcia Machado , Maria Clara Machado , Lygia Bojunga entre tantos outros …?
ResponderExcluirAdriano Schulc
Que história mais linda!
ResponderExcluirTania Benn