Mamas mias



“Uma jornalista que não toma cinco xícaras de café por dia”.

Sou uma farsante, minha cara, uma farsante.

“Uma feminista que não queima sutiã”.

Eu já disse que sou uma fingidora. Todo poeta da vida é. (Ave, Pessoa!)

Dias atrás, fui ao comércio local sem sutiã. É algo raro na minha rotina. Talvez porque tenha seios pesados (mamas firmes, disse a ginecologista), sutiã para mim é sinônimo de conforto.

Se você não nasceu como Natasja Kinski ou Carolina Ferraz (sonho de toda peituda e horror de toda despeitada), ficar sem sutiã é incômodo.

O chato, sem dúvida, é gostar de camisetas de alcinha e ter de administrar as alças da lingerie. Às vezes coloco um tomara-que-caia, todavia, esses também foram feitos para as sortudas com “peitinhos de pitomba” (ave, Chico safadinho!). É um tal de ajeita daqui, puxa pra cima, contorce dali, ou seja, complexo.

Eu juro que tentei convencer o cirurgião plástico a me deixar na numeração 38 ou 40, entretanto ele disse: jamais! Ficaria desproporcional. Restou-me a resignação: sou definitivamente uma mulher de peito.

Pois é, outro dia, essa modelo plus size saiu sem sutiã. Não sei se por costume ou por pudor, ela não se sente muito tranquila nesta situação. Para piorar, na primeira esquina, um infeliz na bicicleta gritou: “belos seios!” Foi como se ela repentinamente estivesse nua no meio da rua.

Uma vantagem de envelhecer, entre as duas ou três possíveis, é a gente parar de chamar a atenção dos babacas que abundam no país. Por isso foi um choque ouvir aquele grito assim, numa manhã linda de sol.

Me desconcertou por completo, como se não tivesse sido calejada por décadas e décadas de assédio. Ser moça e jovem no Brasil nos idos de 1980 e 1990 não era suave. Até hoje é barra pesada, apesar de toda batalha por dignidade.

A verdade é que não dá para se acostumar com qualquer tipo de violação ao nosso direito de andar em paz do jeito que a gente quiser. Ponto. O texto não era para ser um manifesto, Seguimos, pois.

Um bom amigo brinca que meus gostos são muito estranhos. Tudo porque não sou fã de pipoca e menos ainda de pizza. Me pergunto se o apreço pelo sutiã também se enquadra nesta categoria.

Consequentemente, não me chamem para queimar peças íntimas em praça pública não, tá bom? Liberdade para mim, longe de ser um jeans velho e desbotado ou de fazer topless (imagina a mulher-melão correndo na praia sem a parte de cima, gente! A lei da gravidade é implacável!), é manter os ditos cujos abrigadinhos dos solavancos do caminho e dos olhares dos boçais.



Comentários

  1. Faço parte do time que invejava as despeitadas. Muito peito pesa nas costas, o biquini machuca, as blusinhas com alças finas ficam desajustadas.... Após a bariátrica eles murcharam, precisei fazer uma cirurgia para tirar um tanto de nódulo e a mastologista sugeriu que eu fizesse o reparo na mesma cirurgia. Consegui e apesar de ter sido bemmmmm dolorosa a recuperação e de ter amamentado os capivarinhas gêmeos por quase 2 anos, eles estão do tamanho que eu sempre quis. Difícil ser mulher por esses embates conosco e pelo terror que se passa com assédio.

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  2. Ih não gosto de soutiã, quase nunca uso, só mesmo quando a blusa é transparente! “belos seios” é um super elogio hein?! só não precisa gritar, né?😂
    Cynthia

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  3. 👏👏👏
    Vc só não é modelo plus size.. a única correção ao texto. Aliás, vi você no lago e está mais para Brigite Bardot!

    Bianca Duqueviz

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  4. Adorei tb os comentários 😂😂

    Karla Liparizzi

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  5. Jura que cê não gosta de pizza?

    Clarice Veras

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  6. verdade, lu, a estética nesse país não é pra coroas...
    Tudo eles criticam e olham.
    O certo é a pessoa se sentir bem com aquilo tem, coroa ou não...

    Marisa Assunção

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  7. É vero, amada prima, é vero!
    Eu tbm queria e cheguei a pedir pro nosso cirurgião que queria dois “limões” 😂😂 ou seja, queria meus seios tamanho 38! E é óbvio que ele não concordou, pois ficaria desproporcional aos meus 1,70 de altura, mas e daí?, eu queria ué...😁

    Dje

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  8. Adorei!!!

    Adriana Túllio

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  9. Amei Lu. E eu queimo sutiã não pela liberdade, mas pela luta diante da perplexidade da ausência dela... e nós mulheres ainda carregamos o fardo de não poder escolher sequer o tamanho das nossas tetas. Aff!

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  10. É Manalu,
    Eu nunca gostei de chamar atenção pelos meus "atributos físicos", se é que os tenho com esse apelo...
    Em muito menos de cantadas óbvias ou grotescas...
    Não vou fingir. É certo que gosto de me sentir e ser "gostosa", mas na intimidade, pra "eleitos"...
    Mas realmente precisamos sermos vistas além ou sobre um corpo agradável...
    E sermos respeitadas, em casa ou na rua, qqr que seja a nossa forma de ser, se ver ou se vestir...
    Mas cá entre nós: esse "elogio" não foi nada mau pro ego!
    O que o desqualificou foi a forma escancarada e realmente constrangedora...
    Mas que bom ter "belos seios", em qqr idade...
    😀😍😘
    Reflexões despretensiosas, kkk

    Marilena Holanda

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