Poeme-se


Há uma certa má vontade com a poesia, sem dúvida. Muita gente diz não curtir o gênero: não lê, não vê sentido, acha que é coisa de intelectual…


Poesia realmente não busca sentido além daquele de provocar sensações.

A primeira vez que li algo de Manoel de Barros foi numa revista de circulação semanal. Tratava-se de um anúncio de página dupla (não tenho a menor ideia do que a publicidade queria vender mais). Faz muito tempo… Minha sogra ainda assinava a revista Veja e as suas páginas amarelas eram referências jornalísticas de entrevistas de qualidade.

“Poesia não é para compreender mas para incorporar
Entender é parede: procure ser árvore”.


Por outro lado, me lembro muito bem do alumbramento que me tomou aquela frase. Impacto. Que definição perfeita para algo tão abstrato! Afinal, poemas não almejam mais do que serem abstrações, surrealismos, viagens espaciais imaginárias em formato de versos. Marc Chagall recebeu a alcunha de “poeta dos pincéis”. Seria o mesmo que dizer Cecília Meireles, a pintora de versos.

Peguei a tesoura e recortei a preciosidade do até então desconhecido Manuel, destacada na página da esquerda, no fundo verde claro. Na página ao lado, havia o produto ou serviço (se alguém for tão antigo quanto eu e  recordar, avive meu esquecimento).

Colei o poema na minha agenda daquele ano. Com tremenda concisão, um grande ensinamento: ler poesia é fundamental para manter a mente lúdica e criativa. Não é necessário encontrar porquês disso ou daquilo. Não existe “o que o poeta quis dizer”. Se for preciso explicar, a poesia não serviu ao que é: sensorial, cinética, simbólica, onírica. Uma árvore enraizada no âmago da subjetividade humana, com múltiplos galhos e incontáveis folhas de cores, metafísicas, cheiros, memórias…

A gente olha para a árvore e pensa: que linda! ou que feia, tadinha! Assim é a poesia: suscita exclamações de amor ou de estranhamento na alma, no exato instante no qual é lida.

Esta “explicação de poesia sem ninguém pedir” por quê? Porque acordei e vi árvores e mandei um áudio para uma amiga que está lendo poemas para o filho de três anos e lembrei que fazia o mesmo com os meus até pouco tempo atrás.

Mas eu não parei de ler para mim. Eu me poemo todo dia. Partiu?




Comentários

  1. Adorrrable. É isso aí, se explicar... foi-se o poético..

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  2. Isso aí Luciana 👏👏👏as vezes dependendo da leitura viajo pra bem longe sem passa porte🤩

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  3. Poesia é arte. Poemas são escritos por poetas e nem todos são poesias, como tudo na vida sempre. Adorei a reflexão, adoro poesia, mas nem todos poemas me tocam, quando me tocam são verdadeiras poesias. Humilde eu ah Lú fundi a cabeça do Pedro pra explicar o que era poesia, o moleque andava com preguiça mental...

    Renata Assumpção

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  4. Boa reflexão. Esse excesso de informação e racionalidade nos sufoca a alma.

    Romulo Andrade

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  5. Tô adorando ler seus textos, tia! Alguns eu não entendo, mas mesmo assim tô gostando.

    Renata Assunção

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  6. A racionalidade assassina a poesia…ela é pra ser sentida…algumas nos tocam mais que outras , óbvio, mas todas tem seu lugar no mundo das sensações!e isso é tão poético 🙏🥰

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  7. Verdade, as pessoas não tem paciência para ler poesia... Triste.

    Eliane Barretos

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  8. Massa!
    Poesia é legal!
    Eu confesso que leio pouco.
    Tenho lido mais materiais técnicos... Chato! KKK!
    Tem uma reflexão que eu gosto muito e me serve de referência:
    "Se faz sentir, faz sentido!"
    Acho que é disso que se trata a poesia então?

    Rodrigo Holanda

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  9. Tenho apreciado os seus encantos: vida, escritos, sentimentos...

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  10. Lulu, sou suspeita, mas arrisco-me ao seguinte: tudo cabe no reino da poesia, o que do real desborda, o que do mundo exige até mesmo a palavra reinventada.

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  11. Uau! 🤩
    Que excelente advogada de defesa! Assim, a poesia terá habeas corpus para sair por aí acertando mais corações…

    Karol Simões

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