Friagem


Sopra o vento de inverno

atravessa o rosto, ectoplasma de névoa,

deixa apenas o rastro da enregelada manhã.

O casal de araras não sente frio.

Festeja na palmeira o raiar do dia azul

tal qual seus pares de asas: plenos. 

Gélida e plena também estou.

Contrária ao óbvio, a estação não me contrai: expande.

O ar rarefeito do planalto seco me é ânima. 

Flama.

Ainda que todo ano seja a mesma seca impávida e parda,

nunca é igual o coração de quem almeja

[primaveras.





calotas

planas

redondas

esportivas

turbinam carros de terraplanistas.

Já as polares derretem, 

escorrem pelos oceanos em sangue gélido e transparente.

O planeta aquece e gira torto: peão cambaleante, 

joguete em mãos vorazes.

As calotas automotivas se perdem nas curvas da Serra do Mar, 

um cemitério delas ao relento, na sarjeta: ferros velhos, lixo.

A Mata Atlântica é saqueada da mesma Serra.

Engolidores do fogo da vida incineram árvores;

espécies são enterradas como indigentes.

Vastas necrópoles de pastos.



Comentários

  1. Luciana, muito lindo! Adorei a escolha das palavras! Invejo seu dom.

    Karla Liparizzi

    ResponderExcluir
  2. Sempre muito encantador! gratidão 🙏🥰

    ResponderExcluir
  3. Uai não apareceu meu nome🙄☝️mas sou eu mesma Cynthia 🌺

    ResponderExcluir
  4. Legal Lu. A história da roda é nossa idéia circular. Parabéns.

    ResponderExcluir
  5. Palavras e imagens encantadoras :) Giovana

    ResponderExcluir
  6. Eu nem sei explicar como gosto da cor, da da textura e das mil possibilidades de depreender leituras a partir das imagens, mas gostei muito da viagem pelas calotas. Me lembrou de quando eu pensava sobre elas viajando pelas estradas BsB/MG.

    Re Osório

    ResponderExcluir
  7. Que lindo , Lulu😍
    Lembrei da nossa viagem…e o “cemitério das calotas”.

    Djelaine Castro

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos