Parábola
Avulsa estou.
Sou?
Mães devem se preparar para o hiato da inutilidade existencial ao qual são lançadas no processo de amadurecimento dos filhos.
Quem gosta tanto do artigo definido precisa caminhar na penumbra dos pronomes genéricos.
A mãe se torna alguém ou ninguém ao sabor da indiferença de quem lhe consumiu a maior parte da juventude, a genuína preocupação e o amor condicionado por anos de cuidados, de afagos e de mãozinhas sôfregas pelo contato maternal.
É a suprema readaptação que se impõe novamente.
Primeiro, a de parir, nutrir e proteger. Anos depois, a de soltar, confiar e assumir aquela pontinha no filme dos rebentos, quiçá uma participação especial.
O ninho vazio é antes mais emocional do que físico.
Nada na vida da mulher é superficial. Menstruamos, optamos todos os meses entre o dever e o direito de ser livre.
Investimos toneladas de energia e incalculáveis horas na prisão voluntária da maternidade (quando ela é uma escolha também não deixa de ser um fardo).
E no momento de menor cansaço nesta trilha íngreme, os filhos passam a exigir cada vez menos de sua progenitora. Desapegam-se de nossa presença, lançando-se em voo liberto no agora e no afora.
Quedamos no cume da montanha e não cabe nos intrometer nas rotas escolhidas por eles.
É chegada a hora do reaprendizado da mãe: desapegar e voltar a planar com pouca bagagem e menores expectativas.
Sozinha, ela precisa se reconhecer novamente no espelho como um ser unitário, individual e detentor dos próprios desafios.
Aos poucos, e não sem dor e espanto, a mulher-māe ensaia um sorriso e começa a se alegrar com o destino da próxima viagem.
É dureza... Mas pelo menos a gente encarou passar pelas várias fases da vida de uma mulher! Cada uma tem o direito de viver sua vida como bem entender, mas com certeza a nossa escolha, em termo de aprendizado, de evolução, de amadurecimento, é bem mais rica!
ResponderExcluirMisericórdia... chorei no trabalho!! Não de tristeza, mas de me ver refletida num texto claro que pôs em palavras os meus sentimentos!!! Tem uma beleza nisto tudo, né?? Um confiar no que foi feito, no afeto derramado, nuns caras lindos que "surgiram" na nossa frente, num mundo que valha a pena!!
ResponderExcluirMaravilhoso!!
Bianca Duqueviz
Amei ! Estou chegando lá! KKK!
ResponderExcluirAs minhas têm 12 e 14
Karla Liparizzi
Tudo vai dar certo. Nossas mães também passaram por isso e aprenderam a reinventar a vida.
ResponderExcluirAna Paula
Mãe vai ser sempre mãe..mesmo que seus rebentos cresçam...Lu
ResponderExcluirMarisa Brasiliense
Nossa! Que bom que vc conseguiu colocar no papel este sentimento que esta(va) te atormentando… tenho certeza que deve ser bem complexo lidar com todas estas nuances da maternidade.
ResponderExcluirKarol Simões
É bem isso aí. Mas ela recupera o artigo definido, a individualidade em meio à multidão. Mas é um exercício duro...
ResponderExcluirAna Cristina Aguiar
Pura verdade, Lu! Que lindo esse texto!
ResponderExcluirLeila Cruz
Mas passa viu?! essa fase de adolescência é assim mesmo!!muito legal vc escrever sobre essa fase, e a expressão “ex mãe “ hahahaha
ResponderExcluirCynthia Chayb
Lindo! Sábias palavras 😍
ResponderExcluirQue lindo seu texto, Lu. Percebo isso em algumas mães do meu círculo familiar. São anos de dedicação que vão transformando a relação da mãe com ela mesma e dela com os filhos. Às vezes o "rompimento" leva anos para acontecer.
ResponderExcluirBjs!
Fabiana Vasconcelos
Que show, foi escrito para mim! ;)
ResponderExcluirMaria Cruz
Eita que chega deu um aperto no coração. lindo, lindo!
ResponderExcluirEx-mamãe nada. Sempre-mamãe.
Nós sempre nos reiventando e nos readaptando.
Renata Leite
Disse tudo, LuA!
ResponderExcluirLuciene Mesquita
Você pergunta: "Sou?". Sim! ÉS. Completar esse ciclo da natureza feminina é alcançar a vitória sobre o não-ser. Estamos então no umbral da existência, perplexas, sem norte, perguntando-se "no que eu me tornei? Quem eu sou agora?" Sou aquela que deixa o existir Ser, com toda a sua finitude.
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