Ao viajar de avião à noite
constelações de ponta à cabeça,
no breu da planície terrestre.
Ao amanhecer, a viagem retoma o seu prumo
perfura o edredom das nuvens
plana-se dentro do sonho.
A claridade é uma estrada infinda,
sem sarjetas ou sinalização.
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Sampa sempre intensa
sabores, tribos, desejos
lampejos de belezas e de feiuras.
Rococó
Art déco
paúra.
Hinos e bandeiras
hordas, fileiras
marginais, quintais.
Verde, cinza, arco-íris
vão livres, cubículos
mendigos líricos.
Meca, Big Apple
Tropicália-sertão
tupi-guarani
Cariri-Japão.
Deus e o diabo na terra dos Andrade
liberdade.
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O filho dela está ali, mas já é outro. E então ela sentiu saudade daquele que o filho já foi. A cratera se abriu entre eles e ela sente saudade do que ele é naquele
momento, pois sabe que amanhã ele já não será aquele momento.
Amanhã o garoto já não dará o beijo forçado pela mãe na frente dos amigos. Ele não lhe contará seus sonhos com monstros e trevas no café da manhã e nem lhe mirará com a admiração da ignorância.
Logo, aquele filho saberá muito mais do que aquela mãe sempre soube. E ela o observará com orgulho besta de mamífero, porém com a sempre saudade das risadinhas brancas.
Ser mãe e ser pai é ter coragem de acumular um sem fim de saudades específicas e generalizadas. As cócegas provocando gargalhadas ao toque do estetoscópio do pediatra, as mãozinhas dele apertando o seio enquanto mamava, a cumplicidade do quarto de garotos compartilhando vírgulas, vírgulas e muitos eteceteras...
Filhote nos palcos da Sala São Paulo. Quem diria que o meu amor pela Arte iria me presentear com um filho talentoso na Música! Dizem que a gente projeta nossos sonhos nos filhos. Sim, eu queria ter talento. Queria ser artista da dança ou da escrita. Talvez as miles leituras na hora de dormir, as miles canções durante as viagens de carro, as miles visitas a exposições e a museus possam ter entranhado nos meus filhos a devoção que a mãe sentia e sente nestes espaços de criação sublimes.
Voa, Romulito! Próxima parada é um concerto em Paris, com a Orquestra Jovem da Ópera da Cidade-Luz!! De longe, eu canto na voz da Baby:
"Eu bem queria estar aí com você
Mas me contento em vibrar
E te espero rezando ansiosa
Por uma descida tranquila, vitoriosa
E depois, me encontrar com você
E fazer um auê!" 
O trabalho infantil atrasa o progresso do ser humano.
138 milhões de meninos e meninas no mundo trocam os estudos pelo trabalho.
Trabalho decente para os adultos da família reverte este quadro de vulnerabilidade.
Por isso, flexibilizar as leis trabalhistas vão de encontro à erradicação do trabalho infantil, pois agrava as condições de dignidade.
O Bolsa-família (21 milhões de beneficiados) assegura o incremento das taxas de matrículas na escola, principalmente na adolescência, onde ocorre a maior evasão escolar.
O investimento do Estado brasileiro é de 15 bilhões de reais, meio por cento do PIB. Portanto, é uma questão de prioridade. Críticas falaciosas como vício em receber auxílio não se sustentam.
Precisamos implementar uma visão holística sobre a infância no mundo.
Quatro bilhões de seres humanos não têm acesso a nenhuma forma de dignidade social.
O resgatado do trabalho escravo geralmente foi a criança que trabalhou.
A escravidão pode estar perto ou longe dos nossos olhos, mas está aí, neste século 21.
Em 1882, quando Luiz Gama falece, centenas de pessoas saíram às ruas para prestar a última homenagem ao grande abolicionista. Semanas após o falecimento do amigo, o escritor Raul Pompeia (1863-1895) publica:
“E Luiz Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava conselhos, demandava, sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma candeia iluminando, à custa da própria vida, as trevas do desespero daquele povo de infelizes, sem auferir uma sombra de lucro, entendendo que advogado não significa o indivíduo que vive dos jantares que lhe paga Têmis; entendendo que deve-se fazer um pouco de justiça grátis. E, com esta filosofia, empenhava-se de corpo e alma, fazia-se matar pelo bem.
(…) não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente em casa um mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem pede esmola; outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor; outros… inúmeros. E Luís Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e atraente; e a todos satisfazia, praticando as mais angélicas ações, por entre uma saraivada de grossas pilhérias de velho sargento. Toda essa clientela miserável saía satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, outro a liberdade, alguns um conselho fortificante. Pobre, muito pobre, deixava para os outros tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado.”
Luiz Gama foi um dos maiores líderes abolicionistas do Brasil. Engajado nos movimentos contra a escravidão e a favor da liberdade dos negros, fundou, em 1869, com Rui Barbosa, o jornal “Radical Paulistano”. Em 1880, liderou a “Mocidade Abolicionista e Republicana”. Devido à sua luta pela libertação dos escravos, foi hostilizado pelo Partido Conservador e demitido do cargo de amanuense por motivos políticos.
Nos tribunais, utilizando sua oratória impecável e conhecimentos jurídicos, Luiz Gama conseguiu libertar mais de 500 escravos, com algumas estimativas chegando a 1000. As causas eram diversas e muitas envolviam negros que podiam pagar por suas cartas de alforria, mas eram impedidos pelos seus senhores de serem libertos, ou que haviam entrado no território nacional após a proibição do tráfico negreiro em 1850.
O mundo é pequeno e redondo. Cada dia mais redondo, como se tivesse rolando na velocidade da luz e sua circunferência estivesse cada minuto mais gasta. O mundo está diminuindo... Estará mesmo acabando? Seixo se desgastando até a poeira cósmica original?
Estamos conectados nesta tênue e misteriosa linha da vida planetária. Nasci e vivo no Brasil, portanto, nunca vi uma guerra de perto. O terrorismo nunca bateu às portas da minha família. Não convivo com atos arbitrários de ditadores.
Os tanques e as atrocidades das batalhas estão do lado de lá e chegam até o meu coração pelas notícias parciais dos jornais. Na verdade, não sabemos desses conflitos em seu cerne porque os filtros do subjetivismo baseado em preconceitos, em achismos, em cultura ocidental x oriental, aliados à superficialidade jornalística atual (ou foi desde sempre?), só nos permite vislumbrar um recorte do que se desenrola nas carnificinas espalhadas pelo planeta, não o que acontece em si.
Respiro aliviada por ser apenas uma mulher comum que não inspira nada além de chateação em seus semelhantes. Percebi o quanto ser resguardada por esta tranquilidade é abençoado. O quanto é automático trilhar o caminho que esperam da gente: crescer, estudar, casar, ter filhos, lar, cachorro, gatos. E também o tanto que a sociedade espezinha quem ousa tocar a vida de outro jeito.
Ao voltar para a minha doce vidinha classe média heterossexual, sinto um impulso de pedir perdão a todos os gays, negros, índios, paraplégicos, esquizofrênicos, desfigurados, turcos que moram na Alemanha, palestinos que estão na Faixa de Gaza, cegos, mulheres muçulmanas, surdos-mudos e demais grupos humanos que convivem com a cacetada diária de existirem como pontos fora da curva. Açoitados pela pobreza de espírito da humanidade em geral.
“Senhor, fazei com que eu procure mais compreender que ser compreendido”. Que a diversidade da família planetária transforme, em futuro não apocalíptico, mas fraternal, a face bisonha da intolerância num rostinho BFF.
Seu oi que é saudade de um momento!
ResponderExcluirExcelentes textos 🍾🍾🍾🤩🤩🤩🤩
ResponderExcluirRomulito não tem volta ... Até eu sofro lendo 😭😭😭😭
Um dia chega minha vez 😭😭😭
Karla Liparizzi
Muito bacana, parabéns!
ResponderExcluirMaria da Penha
Sempre incrível te ler Lu!! textos, textinhos, textões, fotos🙏😘
ResponderExcluirCynthia
Chatice habitual?? Never!!! Love them all!!! 👏👏
ResponderExcluirLuciene Miranda
Que mãe é essa?
ResponderExcluirSaudosa, carente e extremamente vaidosa e feliz, pelo talentoso baby.
Parabéns país vocês são fortes e vitoriosos.
Cristina
São Paulo, lugar que nos ensina muito!!
ResponderExcluirTambém "vivi" lá Luciana!!
E conheci São Paulo num período do passado!!
Nem metrô existia!!
Construção, que em alguma medida acompanhei.
Tive tios no Jabaquara, e eu acompanhava um primo nos arredores das obras do que se tornaria a estação São Judas. E, quando começou a funcionar, a gente andava, de graça, pra lá e pra cá.
Memórias...
Paulo Magno
Pois é Lú, que trabalho bem feito vocês estão fazendo.
ResponderExcluirLi seu texto como sempre sensível, pontual. Romulito já é do mundo. Que caminho lindo. Não preciso te falar como me emocionei em saber o próximo passo dele tão novo e tão determinado. Viva todos vocês, que o mundo carece de pais e filhos como vocês.
Lú, que maravilha esse intercâmbio do Rômulo na França.
Renata Queiroz
Belas crônicas, Luciana. Mães e pais devem adorar, como eu, essas suas tiradas maravilhosas.
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