Visagens


"onde as pedras guardam suas asas?
(Geruza Zelnys)



A pedra retém calor como um réptil 

imóvel ao sol

densa, hígida, estoica 

Abriga o fogo em seu núcleo,

alma incendiária

à espreita do tropeço 

desatenta presa 

que lhe atira longe aos pontapés.  

À noite, a pedra se resfria

busca aconchego no atrito 

com outras pedras. 

Rolam, empilham-se e desmoronam 

ao vento na indiferente madrugada.

Resiliente, a pedra aguarda o raiar do dia.

Estática, sonha o momento de voar

flecha lançada 

pela criança encantada. 





O gato estátua mira a janela

Quer ir pra rua ou divisa

auras assombradas

divindade egípcia das visagens

enigma esfinge de verdades?

O felino, olhar irredutível 

Quer saltar na rede 

audaz trapezista 

ou alcançar o pássaro 

em voo distraído?

O fato é que o gato 

quer ir para lua 

pires perfeito

leitosa brancura

Certeza absoluta. 


 


Explode o céu em azul-cetim-celeste

trazendo uma memória infantil:

a menina de nossa senhora 

véu de tecido sobre os cabelos, 

a importância da personagem a representar. 

As sarjetas estão amarelas

Os ipês são amarelos. 

Agosto é metade deslumbre florido

metade ressequido. 

Em desequilíbrio existencial

apenas eu.


Comentários

  1. Adorei a viagem da pedra!

    Re Osório

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  2. Lindo🙏🌸🥰
    Cynthia

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  3. Poemas e fotografias belíssimos!

    Nirlei M. Oliveira

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  4. Bonito poema. Amo a pedra!

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  5. Gostei da relação poética das pedras e a vida cotidiana 👏👏👏👏

    Adriano Shulc

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  6. Que lindo, Loo! Adoro poemas sobre pedras... tem um bem bonito que traduzi do norueguês, vou te mandar 🤗😘

    Ana Cristina Aguiar

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