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Mostrando postagens de 2024

Que o próximo ano não te cancele!

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Adoro o barulho dos pneus espalhando água da chuva. Isto quer dizer que o dia está denso e cinza-reflexivo. Como você pode estar de bom humor numa manhã chuvosa como essa? Estou. A chuva me fecunda. Dias londrinos me dão uma leveza diametralmente oposta ao peso das nuvens no céu.  Natal tem de ser assim: branco. A autora da frase é Claudia, a amiga do mercado comum europeu. Ela não gosta de inverno (um paradoxo para uma austríaca), mas admite que Natal tem de ter neve. É verdade. No caso do Brasil, no mínimo, tem de ter gris-pluviométrico. Família reunida ao redor da mesa trocando presentes combina com noites aconchegantes de inverno. O verão pede festa com amigos no meio da rua. É duro comer tanto pernil, peru e farofa suando em bicas.  Bem que a gente podia ter um mês de frio. Só um mês bem frio, para casacos até os tornozelos e cachecóis. O equilíbrio no mundo poderia existir ao menos no clima. Acontece que com o termostato planetário cada dia mais azuretado, babau. Fico f...

Fatos&fotos

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Mente repleta de pensamentos pífios  Ideias Ikea TOC Tok&Stok Xongas Samsung destempo brastemp Tramontina trampo Deca decaída Veja e multiuse o caos Sempre Livre: absorva a entropia. Perflex seria se eu tivesse uma fada madrinha. Ode A morte da crônica foi anunciada com estardalhaço por Julián Fuks e sobre a minha discordância já escrevi no blog . Porque a crônica é imortal. Crônica é a vida acontecendo nas suas pequenezas vis e belas. O cronista dá importância ao que ninguém mais dá, além do poeta. Ou seja: a crônica também é poesia do banal, do cotidiano. É jogar um ponto focal nos fracos, oprimidos, esquecidos e inanimados. Todos eles ganham lugar de fala numa boa crônica. A crônica é cronicamente deliciosa quando acerta em frisar o nonsense na rotina pueril. “Tudo nesta vida é muito cantável", diz o amado Guimarães Rosa. A crônica é a prova cabal deste aforismo. Roda presa O novo trajeto para o trabalho é mais longo, porém mais idílico. Estamos quites, pois. Faz-me lemb...

Achados amarelados

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“É preciso continuar escrevendo. Inclusive quando não interessa a ninguém.” (Ágota Kristóf, escritora suíça-húngara) Banguela Quando as crianças me olharam nos olhos, era o mesmo momento do vento provocando a inércia das árvores. O sorriso banguela da menina ao balanço claro, aberto… como o céu de um azul azulíssimo! Abracei, pois, a ideia outonal. Voei e caí, madura sobre a grama. Plágio Você não alimenta as minhas fantasias. Eu, louca, louca, escrevo. O que não projeto em palavras, copio de Adélia, de Quintana, de Clarice. Mas você não me entende. Não chega com o seu cavalo branco. Talvez delire demais. Ou seja mulher, o que torna tudo diferente. O que faço com a parafernália de computadores neste corre-engole de fumaça tediosa, de praças imundas e de pessoas sofrendo?  Palavras insípidas não convencem, tampouco tranquilizam. Umbilical Olhava para a sua pupila com insistência. Queria arrancar algum sentimento meu  que pudesse ela guardar. Nada encontrei além daqueles olhos...

Fechar e abrir novas gestalts

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Agora a mudança está premente. Começou o entra e sai de corretores de imóveis em busca de um orçamento para alugar o apê. A visita de empresas ou cooperativas transportadoras de cacarecos também. E como os temos. É num momento assim que vemos o tanto que acumulamos. “São muitas miudezas para embalar, vamos orçar três dias”. Ó céus, o museu do artesanato vai cobrar um preço alto pelo deslocamento do seu acervo. Eu que tô de férias chata resolvendo, evidentemente, chateações, não posso deixar de rir da cara espantada dos pretendentes a embaladores. Corretores enxergam cada senão no imóvel, as pequenas ranhuras e os defeitinhos. Como editores de texto minuciosos, apontam os erros de grafia e de pontuação. “A reforma não é luxuosa, mas é um bom apartamento, não fica atrás do posto, e voltaram a usar tacos de madeira”. E assim vou me despedindo da vida na superquadra 303 sul, para sempre sinônimo da gravidez do caçula, da morte da minha mãe, da infância e da adolescência dos meus filhos, ...

Bosquejo

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Fenda O amor nunca nunca nunca transbordou. Ao lado, mas não junto, próximo, ao alcance da mão, dedos esticados, braços estendidos. O esforço para alcançar amora no fino do galho, prêmio suado.  O amor sempre sempre sempre esquivo, disfarçado e indiferente aos esforços  sempre à distância segura, nunca dentro, perto o suficiente para não ser tragado para não avassalar  desfazendo as margens. O amor nunca nunca o bastante migalhas, porções, nacos  resvala, pulsa ao redor sol que translada, orbita  mas não abrasa.  O amor arredio, desconfiado, inquieto  nunca nunca nunca morada, raiz  certitude.  Paleta do cerrado Azul céu de Brasília em abril ocre-agosto amarelo-ipê marrom poeira de redemoinho bege folhas secas da mangueira cinza queimada braba grafite asfalto molhado coral flamboyant vermelho kaliandra  nude pé de angico  rosa flor da barriguda alaranjado crepúsculo Praça do Cruzeiro  lilás anoitecer no inverno  branco p...