Concretude rima com finitude
As casas são projeções idílicas ou megalomaníacas dos nossos desejos.
Sigo passeando pela intimidade alheia, às vezes já destituída de alma, mas as impressões do que ali se viveu persistem.
Dentro de uma casa, a gente consegue captar o cômodo xodó, a essência de quem a habitou e também o que não lhe era mais importante.
Piscina aterrada por concreto, jardim abandonado, cubículos escuros, paredes brancas…
As casas podem refletir a esquizofrenia de cada família. Decoração destoante com a arquitetura; espaços sem personalidade alguma, impostos por arquitetos da moda ou cantinhos abençoados com a mais pura honestidade dos moradores.
Os corretores devem ficar intrigados. Enquanto o marido anota todas as informações pertinentes, a esposa se entretém nos detalhes inúteis: que muro bonito! Adorei esse recorte da luz; plantinhas felizes, hein; maçaneta bacana… Ele segue o vendedor e as funcionalidades; eu perscruto a pessoa que, nalgum dia, deu vida àquele patrimônio: o senhor é mineiro? Quem teve a ideia de colocar essa cor aqui?
As casas são lares de todo tipo de fantasma. Uma família grande que se resumiu a muitas fotografias amareladas. Um casal que teve meninos levados correndo pelas escadas, festas de arromba, churrascos colossais.
Entretanto, parte o coração invadir a fragilidade de velhinhos solitários encarcerados numa casa grande e decadente. Onde estarão os filhos, os netos, os parentes e aderentes, além de ali, nos porta-retratos, na memória que se deteriora? “Minha família é de Napoli, vou para lá”. “Quero voltar para o Rio de Janeiro”. “Não dou mais conta de cuidar, vou para um apartamento esperar a partida definitiva”.
Relatos, constatações, testemunhos. Uma casa, apesar de parecer definitiva, é mesmo transitória.
Ela está de passagem na vida da gente, ainda que as pilastras resistam ao tempo.
Lindo!!!!👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
ResponderExcluirFoi um prazer recebê-los.
Renato Alvim
que lindo!
ResponderExcluirAna Flávia Borges
A sua sensibilidade sempre, a vasculhar detalhes que poucos ou ninguém percebe, a ver o humano "invisível" que está por trás de tudo...
ResponderExcluirCasas têm alma e qdo a perdem, literalmente desabam...
E são muitas as histórias de vida nesse infinito de casas enormes e vazias de gente...
Marilena Holanda
Lindo, Lú! Casa é um reflexo mesmo da família.
ResponderExcluirRenata Assumpção
Adorei sua crônica! Somos seres lúdicos. Parabéns!
ResponderExcluirKarla Melo
Adorei o texto!
ResponderExcluirKarol Simões
Retratos da vida...
ResponderExcluirEustáquio
Lindoooo💕💕
ResponderExcluirCynthia
Que texto incrível!
ResponderExcluirMe emocionei aqui lendo ele! ❤️
Larissa Bastos
Lu, o pai do Luciano sempre falava isso e ele repete igual cantiga de grilo.
ResponderExcluirTexto perfeito. Adorei!
Tania Benn
Amei!
ResponderExcluirMaria Félix Fontele
Lindo, lindo. A um só tempo delicado e dolorido.
ResponderExcluirDemorou. Mas li todos!
ResponderExcluirQue textos encantadores e leves. Parabéns Lu!
Nos enleva...
Magda Lucio
Adorei,é exatamente isso : fantasmas q deixam suas marcas nos casarões onde habitaram.Escolha uma aconchegante! 😘
ResponderExcluirElielze