Orea












Amorgós 

A lisura das pedras marítimas 

a aspereza das montanhas.

O azul ciclade das marés 

o ocre das fendas.

O verde à beira da areia

a branca cegueira das paredes. 

A lassidāo dos gatos 

as incansáveis cabras do meio-dia.

O fervoroso sol do Egeu

a brisa apaziguadora das sombras

enviesadas. 

A silenciosa lua plena de julho

o relincho da burrica leiteira.

Milk soaps

fish soups.

O rosado arbusto do penhasco

nêsperas, figos e pêssegos na vizinhança. 

(harmônicos contrastes do verão helênico).

As estrepolias dos moleques nativos

as bocas sem batom das europeias.

O conforto da língua francesa ao ouvido

o estranhamento do idioma grego ao olhar.

Nuvens serelepes

estrelas zodiacais.

Poseidon faz de conta que não vê

o ousado refastelar dos mortais. 



Conexões Rio-BsB-Ath




Atenas é ruidosa. Trânsito ininterrupto; motocas e lambretas pra todo lado.

Os gregos são intensos. Falam como se brigassem e, às vezes, estão batendo boca mesmo.
Os fenótipos são variados. Desde a clássica grega de cabelo preto e narigão reto (quem tiver fetiche por ele venha, é o paraíso), aos imigrantes africanos, aos tipos turcos e a alourados. As muçulmanas pipocam.

Vou correr o risco da insensatez, mas Atenas me pareceu um Rio de Janeiro árido e sem violência (quem nos dera). Porém vi um homem ser algemado e colocado na viatura. Não era um imigrante preto, ainda bem. Talvez tenha furtado algo.

A capital grega é aquela confusão: gente que não pede licença, ônibus lotados, pichações políticas e idiotas pelas fachadas e pelos muros.


A beira-mar azulada conversa com o Recreio dos Bandeirantes, as altas temperaturas no verão são bem cariocas e a Av. Patission é que nem a Nossa Senhora de Copacabana.
O monte Lykavittos é o Corcovado, onde a gente mira a cidade inteira se espraiando pelo vale.

Todavia, a polis também tem um quê de Brasília, com prédios residenciais baixos, bastante similares na arquitetura. As varandas são enormes, mas ninguém fecha com blindex e o horizonte montanhoso é avistável de quase todos os pontos cardeais. As árvores retorcidas pela intensidade do clima seco decoram a paisagem urbana: oliveiras ao invés de ipês. O céu esbanja azul.


O povo remediado tem jeito de sofrido e os ricos… de ricos. Os bairros mais chiques são estupendos. As calçadas centrais e periféricas, irregulares como as nossas.


Religiosos, os gregos dispõem de igrejas ortodoxas incríveis de quarteirão em quarteirão. Muitos deles fazem o sinal da cruz automaticamente, por três vezes, a cada portão sagrado avistado.


Berço de toda a elegância democrático-filosófica que tanto admiramos, a sociedade helênica vive de suas ruínas fabulosas, de suas antiguidades deslumbrantes e, evidentemente, de suas embasbacantes ilhotas e "ilhonas" povoadas de vilarejos alvos e de cabras apaziguadoras. Pontos iluminados e receptivos ao ócio contemplativo.


Singular a Grécia fazer parte da Comunidade Comum Europeia sendo tão esculhambadinha.
Penso, assim, que o Brasil poderia se candidatar a uma vaga. Língua difícil de aprender também temos, pois.


Comentários

  1. Pronto Lu já conhecia a Grécia em sua palavras 👌🤩

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  2. Hum, lugar lindo, fotos maravilhosas e texto impecável e delicioso, estava com saudades.❤️

    Renata Assumpção

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  3. Amei, minha Preciosa Lulu. Isso que acontece quando a gente tem a alegria de receber uma escritora sensível e inteligente
    Mas como editora não posso me furtar de um um único comentário : "Singular a Grécia fazer parte da Comunidade Comum Europeia sendo tão esculhambadinha. Penso, assim, que o Brasil poderia se candidatar a uma vaga. Língua difícil de aprender também temos, pois." Achei completamente dissonante do resto da crônica. Sabe aquela gracinha, esticadinha desnecessária? Pois sim, foi dessa forma que me soou essas duas ultimas frases, Não que eu não concorde com o pensamento do narrador. Sempre digo aos meus amigos que aqui é o quintal da união europeia, mas que quintal magnifico 🤗

    Karla Melo

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  4. Ah pronto, Lu 😄 sinto que quando for a Grécia, pois é um país que sempre esteve em minha imaginação, já estarei mais ambientada🙏🥰
    Cynthia

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  5. A Grécia é maravilhosa, mesmo esculhambadinha.

    Tania Benn

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  6. Adorei o poema!!!! Divino!!! Não consigo comentar por lá. Mas, registro, aqui, minha imensa admiração!🌷

    Luiz Martins

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  7. Adorei …

    O distanciamento físico das cidades muita vez não é suficiente por si só para sugerir a ideia de que somos povos tão diferentes …na verdade somos os mesmos ( sofremos , amamos , temos raiva, sentimos solidão e compaixão) , mas apenas com algumas peculiaridades distintas … no mais a essência ( matéria/espírito ) é a mesma ….

    Adriano Schulc

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