Bonnilu ou Luciclyde
A aula de balé havia sido das boas: pesada, difícil. Ela gosta quando o corpo reclama e renasce mais potente.
Desceu a escadinha da escola para bailarinas adultas ao lado da colega de turma, a noiva apaixonada. É gostoso assistir ao desenrolar do sonho afetivo de outras pessoas, relembrar o vivido. O mundo é belo por isso: não apenas as mazelas e terrores se atualizam, mas também as narrativas de amor.
Ao começar a atravessar a W2 Sul na escuridão do outono, um automóvel branco estanca em frente da dupla. O motorista grita de seu posto: Luciana?
Atordoada, a mulher de meia-calça rosa faz um gesto afirmativo com a cabeça. O homem insiste: o seu nome é Luciana?
Ela segue paralisada diante do fim iminente. Imagina logo a cena de Bonnie and Clyde: o homem saca o fuzil (que em breve será permitido a todos os civis insanos de um país mentecapto) e dá uma rajada de balas pela janela aberta. Pronto, tá lá o corpo estendido no chão. Mas por quê? Que desafeto poderia querer a morte tão violenta da mulher, agora revigorada, de livro lançado e tudo o mais?
Ciente do risco que corria, pero no mucho, ato-reflexo ela se aproxima um pouco mais do veículo, pois não enxergava a face do homem que sabia o nome dela. Talvez um amigo que não reconheceu naquela miopia agravada pela noite.
Sim, sou Luciana. Foi você quem pediu o Uber? Ah, não era o dia dela, afinal. Confusa e aliviada, a mulher responde: não.
A colega que assistiu a tudo, ficou muito brava com a atitude apatetada da protagonista: Você não pode confirmar o seu nome assim! Você não deveria ter dito que morava aqui! Você não devia ter chegado tão perto do carro!
Sim, entre o dever e o fazer existem a atrapalhação e o choque anafilático, além do mal súbito.
Que massada é haver sido batizada com alcunha de manada desses, bicho. Se ela se chamasse Elisa, Rishikesh, Lisélia ou Amaranta Úrsula, ainda não seria uma rima, mas, certamente, uma solução. 

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Morri... kkkk kkkk. Na minha narrativa de pessoa desconfiada, vc seria sequestrada e eu sairia correndo para avisar seu marido .. óbvio, que pegaria também a placa desse sujeito. Fiquei morrendo de medo. Sei lá, né? Vai que a pessoa não é de bem e do bem. Mas Deus é mais. Graças a Deus, foi só uma mera coincidência.
ResponderExcluirDeu calafrios esse seu conto policial! Nota 1000. Mas me deu calafrios por causa do Uber.
ResponderExcluirElisabeth Ratz